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Vale investir em petroleiras antes de cortes de juros no Brasil? Veja histórico

O setor de óleo e gás, do qual a gigante Petrobras (PETR4) é a principal representante, costuma se beneficiar da queda de juros no Brasil. É isso que mostra um estudo feito pela Rico a pedido do InfoMoney, que avaliou os últimos ciclos de tesouradas do Comitê de Política Monetária (Copom).

O levantamento mostra que em todos os períodos de afrouxamento monetário (2005, 2009, 2011, 2026 e 2023) o desempenho das ações do setor foi positivo nos seis e 12 meses após o início da queda da Selic. O destaque foi em 2009: depois da crise do subprime e de uma queda de mais de 30% nos meses anteriores, o setor disparou, em média, 41,19% em seis meses e 85,35% em um ano.

Ciclos de queda de juros:

Período Taxa inicial Taxa final
15/09/05 – 16/04/08 19,75% 11,25%
22/01/09 – 28/04/10 13,75% 8,75%
01/09/11 – 18/04/13 12,5% 7,25%
20/10/16 – 18/03/21 14,25% 2%
03/08/23 – 19/09/24 13,75% 10,5%

“Em 2009, após a crise global, o Banco Central reduziu a Selic de 13,75% para 8,75% em pouco mais de um ano”, lembrou Bruna Sene, analista de renda variável da Rico, que atribuiu a isso parte da alta. “A retomada foi liderada por empresas com grande peso no índice, como Vale e Petrobras, ligadas às commodities”, disse.

Em 2016, o ganho também foi expressivo: 52,39% em 12 meses depois do início do ciclo de afrouxamento monetário. Mais recentemente, em 2023, o retorno foi mais tímido, de 6,26% em um ano, mas ainda assim positivo. Em 2011 o fôlego também foi curto – a valorização em 12 meses ficou restrita a 4,71%.

Desempenho do setor de óleo e gás antes da queda: 

Data Corte 12 meses antes 6 meses antes
15/09/2005 39,35% 8,93%
22/01/2009 -32,02% -34,06%
01/09/2011 4,39% -16,97%
20/10/2016 70,49% 23,96%
03/08/2023 49,81% 37,60%
Fonte: Nelogica e Rico

Desempenho do setor de óleo e gás antes da queda: 

Data Corte 12 meses depois 6 meses depois
15/09/2005 13,17% 12,87%
22/01/2009 85,35% 41,19%
01/09/2011 4,71% 10,22%
20/10/2016 52,39% 28,23%
03/08/2023 6,26% 18,34%
Fonte: Nelogica e Rico

Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, disse que a queda de juros tende a ser positiva para o setor de óleo porque reduz o custo de capital, “favorecendo companhias com planos de expansão ou níveis elevados de endividamento”, e porque estimula um maior apetite por risco por parte dos investidores, “o que costuma beneficiar ações de setores cíclicos e ligados a commodities”.

Além disso, afirmou o especialista, em um ambiente de juros mais baixos há uma reprecificação de ativos reais e um fluxo maior para empresas que geram caixa robusto e distribuem bons dividendos, “características que muitas petroleiras brasileiras oferecem”, completou.

Quando vai ocorrer próximo corte e o que esperar?

Boa parte do mercado aposta que o Copom deve começar a baixar a Selic, hoje em 15% ao ano, já no início do ano que vem – um movimento que tende a continuar beneficiando o setor de óleo, segundo especialistas. No entanto, não é somente a taxa de juros que impacta as petroleiras. O cenário doméstico, o ambiente internacional e principalmente o preço do petróleo também pesam nessa equação – e muito.

Nesta quarta-feira (27), o barril é negociado a US$ 66,50. Porém, a expectativa é de queda diante do excedente de produção, já que a Opep+ vem aumentando a oferta desde abril deste ano. Nesse contexto, o Goldman Sachs prevê preços na faixa de US$ 50 até o fim de 2026.

“O mercado hoje está super pessimista com o petróleo porque enxerga uma produção muito grande no ano que vem, com uma demanda menor. Então, não sei se essa (possível) queda de juros (em 2026) vai trazer um otimismo muito grande para o setor, porque não vejo a demanda mudando tanto”, disse Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Investimentos.

Barbosa acredita que a Opep+ pode estar aumentando produção porque quer ajudar Trump a controlar a inflação americana – já que um petróleo mais barato ajuda a reduzir a inflação nos Estados Unidos – ou porque busca punir países que estão produzindo acima da cota, como Cazaquistão e Iraque.

Em nota divulgada neste mês, o grupo afirmou que o aumento acelerado da produção ocorre diante de uma “perspectiva econômica global estável e fundamentos de mercado saudáveis, como refletido pelo nível baixo de estoques” de petróleo. A Opep+, porém, disse que o aumento pode ser revertido se as condições de mercado assim exigirem.

Vale investir no setor agora?

De forma geral, sim, desde que o investidor seja criterioso e diversifique sua carteira, segundo Cunha, da iHUB Investimentos. “O setor ainda negocia com certo desconto em relação a outros ciclos, mesmo mantendo fundamentos sólidos, como margens elevadas, redução de endividamento e distribuição consistente de dividendos”, disse.

O especialista destacou que a Petrobras chama atenção pelo tamanho, pela geração de caixa e pelo elevado dividend yield. Já a 3R Petroleum (RRRP3), que está em fase de crescimento e consolidação de ativos maduros, tende a se beneficiar diretamente do menor custo de capital e da maior atratividade relativa frente à renda fixa. A PetroRio (PRIO3), com perfil voltado à eficiência operacional e criação de valor em campos offshore, pode ganhar com um mercado mais inclinado ao risco.

Para Barbosa, sócio-fundador da Nord Investimentos, as companhias que mais podem se beneficiar são aquelas com grande crescimento de produção e lifting cost mais alto, com custo de extração elevado, “porque, quando o petróleo cai, essas empresas ficam mais próximas do seu limite de custo”. O principal nome citado pelo especialista foi a PetroRio.

“A empresa tem um crescimento de produção muito forte. Hoje produz pouco mais de 100 mil barris por dia, mas deve praticamente dobrar em breve. Eles enfrentaram problemas com o Ibama nos últimos anos, o que derrubou as ações. Depois de baterem R$ 52-53 em 2023, caíram para R$ 37-38. Mas agora devem incorporar dois campos relevantes: Wahoo e Peregrino”, falou.

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