Se você tem cotas de um fundo de renda fixa, as chances de estar investindo indiretamente em um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) do Pravaler não são baixas. Isto porque 40% de todo o patrimônio aplicado nesses fundos pertence a gestoras que investem em pelo menos um fundo de recebíveis da plataforma de financiamento ao ensino superior, segundo levantamento da companhia, com dados da Anbima de maio deste ano. Agora, a empresa anunciou a maior captação de sua história.
O Pravaler captou R$ 588 milhões em três FIDCs para ampliar a capacidade de financiamento em cursos de graduação de faculdades privadas. Segundo a empresa, os recursos são suficientes para financiar 50 mil estudantes nos próximos meses. No ano passado, a plataforma financiou 110 mil alunos. Em 2025, o objetivo é alcançar 130 mil pessoas.
Queridinho dos fundos, o Pravaler não é novato no mercado de FIDCs: desde 2002, foram 88 séries com captação total de R$ 4,5 bilhões. Rafael Piva, diretor de Finanças Corporativas e Governança da empresa, conta que 5 das 24 gestoras que entraram nas emissões mais recentes da companhia compraram pela primeira vez participação em um fundo de recebíveis da empresa. “Os investidores confiam em players sólidos; temos bastante história e modelo de crédito que já passou por juro alto, recessão e juro baixo”, diz Piva.
As ofertas da empresa recebem rating “AAA” pela S&P e Fitch desde 2017. A captação recorde teve demanda cinco vezes superior ao bookbuilding, indicando apetite de mais de R$ 1,7 bilhão pelos papéis. O Pravaler não abriu a rentabilidade das últimas emissões, mas informa que a oferta anterior, de setembro do ano passado, veio a CDI + 1,4% ao ano na cota sênior.
Impacto e inadimplência
O Pravaler afirma ter mais de 80% de participação no mercado de financiamento estudantil privado. O modelo é simples: com o crédito, o aluno dobra o número de parcelas necessárias para quitar o curso em troca de juros com teto de 1% ao mês. “Permitimos que a pessoa faça o curso que quer, na faculdade que quer”, diz Piva, explicando que muitos casos de evasão se dão pela escolha de um curso mais barato que não era a primeira escolha do aluno.
Em 2024, um milhão de potenciais alunos cadastraram seus CPFs na plataforma para simular um financiamento estudantil, o que mostra a popularização da modalidade, segundo Piva. Em um FIDC, a principal preocupação dos investidores é com a inadimplência. Lidando com milhares de alunos, o Pravaler diz ter números “em linha com grandes bancos”.
A companhia não revela a taxa de inadimplência em seus contratos, mas o rating máximo de crédito e o apetite das gestoras por seus FIDCs provam que o número é bom, argumenta o diretor da empresa.
Com a análise de alunos e fiadores e concessão de crédito apenas dentro das instituições parceiras, o modelo tem “inadimplência controlada já na largada”. Na falta de pagamento, os modelos de cobrança são “bastante tradicionais”, mas Rafael Piva ressalta que o modelo é “menos sobre cobrança e mais sobre análise e o que vamos oferecer aos alunos”.
Um estudo realizado pelo Pravaler com cerca de 23 mil alunos entre 2017 e 2023 mostra que a renda média real dos estudantes da plataforma cresceu aproximadamente 70% ao longo de sete anos. Após a formatura, a renda aumenta, em média, 47%. Os dados são mais um dos argumentos a favor de uma baixa inadimplência alcançada na plataforma.
A área de estudo também impacta a capacidade de pagamento dos alunos. Piva diz que a inadimplência é historicamente menor em cursos da saúde, como medicina, odontologia, psicologia e medicina veterinária. Entre o primeiro semestre de 2023 e o primeiro semestre deste ano, o volume de financiamentos para os alunos de medicina cresceu 60%. “Por ser um curso com valor mais alto, o crédito se faz ainda mais importante”, explica o executivo.
Recuperação setorial
O foco do Pravaler está no ensino presencial, fortemente afetado pelas medidas para conter a pandemia de Covid-19. Entre 2013 e 2023, as matrículas de cursos presenciais caíram 29,1%, segundo o Semesp, entidade que representa as mantenedoras de ensino superior do Brasil. A emissão recorde e apetite dos investidores institucionais podem ser interpretados como sinais de tempos melhores para o setor de educação.
“O presencial está voltando a crescer no Brasil”, garante Piva, que ainda vê um ritmo de recuperação “modesto”. Para ele, o financiamento estudantil privado ainda tem pouca penetração no País: “temos muito espaço para crescer”.
Para as 600 instituições parceiras, o financiamento estudantil permite liquidez imediata, garantia de pagamento e previsibilidade de receitas, argumenta o diretor de Finanças Corporativas e Governança.
Enquanto o ensino e o crédito crescem, o Pravaler projeta aumento de suas receitas. Em 2024, o faturamento foi de R$ 480 milhões. A previsão para este ano é de R$ 600 milhões, com renovação e entrada de alunos.
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