O mercado brasileiro pode estar às vésperas de um novo ciclo de valorização sem precedentes.
Para o gestor Sergio Cordoni, sócio da V8 Capital, caso ocorra uma transição política no país, os preços deprimidos das ações podem dar início ao maior bull market já visto.
“Nosso mercado está muito raso. Tanto o investidor institucional quanto a pessoa física estão com uma exposição muito baixa, e isso vai fazer um estrago. Quando vier a transição, o movimento será rápido, forte e por um longo tempo”
Segundo ele, a memória mais recente de um ciclo semelhante foi a troca de governo entre Dilma Rousseff e Michel Temer, quando medidas fiscais ajudaram a restaurar a confiança e impulsionaram a Bolsa.
“Naquele momento, praticamente qualquer coisa subia. Agora temos várias empresas negociadas a preços muito baixos, especialmente no small caps.”
A análise foi feita durante participação no podcast Stock Pickers, conduzido por Lucas Collazo.
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O peso da política e o olhar para o passado
Cordoni lembra que o mercado já viveu momentos de bonança mesmo em meio a crises severas.
Das quebras dos anos 90, ao 11 de setembro, passando pelo Plano Real e pelo superciclo das commodities nos anos 2000, cada choque trouxe também oportunidades.
Ele cita que a própria implementação do circuit breaker na B3 nasceu de um episódio traumático, quando quedas sucessivas forçaram a Bolsa a repensar seus mecanismos de contenção.
“As crises acabam criando janelas. O problema é que, no Brasil, os períodos bons foram sempre curtos. Somos mais sobreviventes do que qualquer outra coisa”
No atual contexto, a piora da relação entre Brasil e Estados Unidos, somada ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aumenta as incertezas no curto prazo.
Entretanto, para o gestor, esse tipo de instabilidade pode ser justamente o gatilho para mudanças mais profundas.
“O mercado ainda não começou a precificar a transição, porque ela parece distante. Mas quando isso acontecer, será avassalador.”
Da renda fixa ao long short sistemático
Cordoni também falou sobre sua trajetória profissional e a estratégia atual da V8 Capital.
Ele relembrou episódios marcantes, como quando precisou receber fisicamente 400 mil sacas de café por causa de uma operação mal sincronizada no mercado futuro.
“Foi um dos momentos mais tensos da carreira. Tivemos que alugar um galpão em Guaxupé e estocar café até o mercado recuperar liquidez”
Hoje, a realidade é outra. A V8, tradicionalmente voltada para produtos de renda fixa e preservação de capital, desenvolveu um modelo proprietário baseado em fatores para operações de long short.
“Nosso produto roda 100% em títulos públicos, com 30% de posições compradas e 30% vendidas. Desde o início, entrega CDI mais 4,8% ao ano”, explicou Cordoni.
Segundo ele, esse perfil de estratégia se encaixa no DNA da casa, que busca baixa volatilidade e descorrelação em relação à Bolsa.
“É um produto para gerar alfa sem depender da direção do mercado”, afirmou.
A força do dinheiro estrangeiro e a adaptação local
Outro ponto destacado pelo gestor foi a influência crescente dos fundos quantitativos globais, os chamados CTAs, sobre o mercado brasileiro.
Após sanções à Rússia e restrições à China, o Brasil ganhou relevância nos índices emergentes e passou a atrair recursos de grandes investidores.
“Você acompanha um papel, vê apetite, mas não sabe o tamanho do bolso do cara. Muitos gestores locais se machucaram porque remar contra esse fluxo é como bater de frente com uma parede”
Ele observa que essa mudança forçou adaptações. Enquanto fundos locais sofreram resgates e perderam relevância, o capital estrangeiro trouxe liquidez em futuros, opções e derivativos, ampliando as possibilidades de operação.
“O gringo deixou de pagar a conta, e quem acabou pagando foi muito gestor local. Essa foi uma mudança estrutural de mercado que levou tempo para digerir”, concluiu.
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