Joesley Batista Viaja à Venezuela para Tentar Convencer Maduro a Renunciar
Joesley Batista, um dos fundadores da gigante JBS, viajou à Venezuela para tentar convencer o presidente Nicolás Maduro a renunciar ao cargo. A viagem foi realizada de forma discreta, com o objetivo de reduzir as tensões políticas entre o governo Trump e o regime venezuelano.
De acordo com pessoas com conhecimento da viagem, Joesley Batista se reuniu com Maduro em 23 de novembro, dias após o presidente dos Estados Unidos ter telefonado ao líder venezuelano para instá-lo a sair do poder. A reunião foi realizada com o objetivo de convencer Maduro a atender ao pedido de Trump e abrir caminho para uma transição pacífica.
A JBS é uma das maiores fornecedoras de carnes do mundo e tem laços estreitos com o governo Trump. A empresa doou US$ 5 milhões para o comitê inaugural de Trump e obteve aval da Securities and Exchange Commission (SEC) para listar suas ações em Nova York. Além disso, Joesley Batista se reuniu com Trump no início do ano para defender a retirada de tarifas sobre carne bovina e uma distensão com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Laços com a Venezuela
A família Batista tem laços estreitos com a Venezuela há pelo menos uma década. A JBS negociou um contrato de US$ 2,1 bilhões para fornecer carne e frango ao país em meio à escassez aguda de alimentos e à hiperinflação. O acordo foi viabilizado pelo político socialista linha-dura Diosdado Cabello, hoje ministro do Interior.
A J&F, holding da família Batista, possui operações de produção de petróleo na Argentina e avaliou um investimento em uma joint venture venezuelana baseada em ativos que pertenciam à ConocoPhillips e foram nacionalizados em 2007 pelo antecessor e mentor de Maduro, Hugo Chávez.
Tentativas de Diálogo
Joesley Batista somou-se a outras tentativas de diálogo, conduzidas por nomes como o enviado americano Richard Grenell, diplomatas do Catar e investidores do setor financeiro e de petróleo com interesses na Venezuela. As propostas variam sobre por quanto tempo Maduro permaneceria no cargo e se aceitaria ir para o exílio, mas todas buscam evitar uma escalada de ataques até agora restritos a águas internacionais.
No entanto, o secretário de Estado Marco Rubio questionou a possibilidade de os EUA fecharem um acordo com Maduro para conter o tráfico de drogas, afirmando que o líder venezuelano descumpriu compromissos repetidas vezes ao longo dos anos.
- A JBS é a maior fornecedora de carnes do mundo e emprega mais de 70 mil pessoas nos EUA e no Canadá.
- A empresa doou US$ 5 milhões para o comitê inaugural de Trump.
- Joesley Batista se reuniu com Trump no início do ano para defender a retirada de tarifas sobre carne bovina e uma distensão com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
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Joesley Batista, um dos fundadores da gigante JBS, movimenta-se de forma discreta para atuar como interlocutor na tentativa de reduzir tensões políticas entre o governo Trump e o regime venezuelano.
O empresário esteve em Caracas na semana passada para tentar convencer o presidente Nicolás Maduro a atender ao pedido de Donald Trump para deixar o cargo e abrir caminho para uma transição pacífica, segundo pessoas com conhecimento da viagem. Ele se reuniu com Maduro em 23 de novembro, dias depois de o presidente dos Estados Unidos ter telefonado ao líder venezuelano para instá-lo a sair do poder, segundo essas pessoas, que pediram anonimato por não terem autorização para falar publicamente.
Integrantes do governo Trump sabiam dos planos de Joesley de ir a Caracas e reforçar a mensagem presidencial, mas ele teria viajado por iniciativa própria e não a pedido dos EUA, de acordo com algumas das pessoas familiarizadas com o assunto.
“Joesley Batista não é representante de nenhum governo”, afirmou a J&F, holding da família Batista, em comunicado. A empresa não fez comentários adicionais.
A Casa Branca não comentou. Nem o Ministério da Informação da Venezuela nem o gabinete da vice-presidente Delcy Rodríguez responderam a pedidos de comentário sobre a visita.
A viagem, que até então era desconhecida, marca a mais recente tentativa de reduzir tensões após Trump ameaçar ataques terrestres na Venezuela, depois de meses de operações letais contra embarcações acusadas de tráfico de drogas. Os EUA classificam o governo Maduro como ilegítimo, acusam o regime de ter roubado a eleição do ano passado e de facilitar a exportação de cocaína da Colômbia, resultando em mortes de americanos.
A iniciativa de Joesley ocorreu após o maior envio de forças militares americanas às águas da América Latina em décadas e mais de 20 ataques dos EUA a barcos supostamente usados no tráfico, próximos às costas de Venezuela e Colômbia, que deixaram mais de 80 mortos. Trump reiterou na quarta-feira que ataques terrestres começarão “muito em breve”.
“Conhecemos todas as rotas, todas as casas, sabemos onde eles produzem”, disse Trump em evento na Casa Branca.
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Novo interlocutor
Joesley somou-se a outras tentativas de diálogo, conduzidas por nomes como o enviado americano Richard Grenell, diplomatas do Catar e investidores do setor financeiro e de petróleo com interesses na Venezuela. As propostas variam sobre por quanto tempo Maduro permaneceria no cargo e se aceitaria ir para o exílio, mas todas buscam evitar uma escalada de ataques até agora restritos a águas internacionais.
O secretário de Estado Marco Rubio, em entrevista exibida nesta semana, questionou a possibilidade de os EUA fecharem um acordo com Maduro para conter o tráfico de drogas, afirmando que o líder venezuelano descumpriu compromissos repetidas vezes ao longo dos anos. Ainda assim, Rubio disse considerar válido tentar um entendimento.
Em vários aspectos, Joesley tem o perfil ideal para atuar como ponte com Maduro. É uma figura rara com boas relações tanto com Trump quanto com o governo venezuelano.
A JBS é dona da produtora de frango Pilgrim’s Pride, sediada no Colorado, que doou US$ 5 milhões para o comitê inaugural de Trump, a maior contribuição individual. Neste ano, a JBS obteve aval da Securities and Exchange Commission (SEC, a “CVM americana”) para listar suas ações em Nova York, superando forte resistência de grupos ambientalistas e investidores ativistas por causa de escândalos de corrupção envolvendo os irmãos Batista e de acusações de participação da companhia no desmatamento da Amazônia impulsionado pela pecuária.
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Joesley se reuniu com Trump no início do ano para defender a retirada de tarifas sobre carne bovina e uma distensão com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, após um atrito envolvendo o processo contra seu antecessor e aliado de Trump, Jair Bolsonaro. A JBS é a maior fornecedora de carnes do mundo e emprega mais de 70 mil pessoas nos EUA e no Canadá.
Os laços dos Batista na Venezuela
Os laços da família Batista com a Venezuela têm pelo menos uma década. JBS e Maduro negociaram, anos atrás, um contrato de US$ 2,1 bilhões para fornecer carne e frango ao país em meio à escassez aguda de alimentos e à hiperinflação. O acordo foi viabilizado pelo político socialista linha-dura Diosdado Cabello, hoje ministro do Interior.
Maduro governa a Venezuela com crescente repressão desde 2013, enfrentando as sanções ao petróleo impostas por Trump em janeiro de 2019, durante seu primeiro mandato.
A J&F possui operações de produção de petróleo na Argentina. A empresa chegou a avaliar um investimento em uma joint venture venezuelana baseada em ativos que pertenciam à ConocoPhillips e foram nacionalizados em 2007 pelo antecessor e mentor de Maduro, Hugo Chávez.
Quem é Joesley Batista
Joesley tornou-se cada vez mais ligado aos círculos de poder desde que ajudou a transformar o açougue fundado por seu pai nos anos 1950 na maior produtora de carnes do mundo, com apoio decisivo do BNDES durante governos anteriores de Lula. A empresa foi a maior doadora de campanhas políticas no Brasil em 2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita.
Anos depois, Joesley admitiu ter pago propina a centenas de políticos — incluindo o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega — em troca de financiamento de bancos públicos e fundos de pensão. Em 2017, ele gravou uma reunião fora da agenda com o presidente Michel Temer como parte de um acordo de delação premiada para obter imunidade. O escândalo abalou o país e desencadeou uma das maiores quedas da bolsa na história recente — episódio que ficou conhecido como “Joesley Day”.
O governo Trump manteve sua estratégia agressiva em relação à Venezuela. No dia seguinte à visita de Batista a Caracas, os EUA classificaram o Cartel de los Soles — grupo de narcotráfico supostamente liderado por Maduro e altos funcionários venezuelanos — como organização terrorista estrangeira, aumentando a pressão.
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