Casamento expõe contraste entre vida privada da elite e repressão às mulheres no Irã
O vazamento de um vídeo do casamento da filha do contra-almirante Ali Shamkhani, um dos homens mais poderosos do Irã, expôs o contraste entre a vida privada da elite política e as regras rígidas impostas às mulheres comuns do país. As imagens, divulgadas nas redes sociais, mostram convidadas sem o hijab obrigatório e usando vestidos ocidentais, inclusive a noiva, conduzida ao altar pelo pai em um modelo decotado e sem mangas, em cerimônia luxuosa realizada em Teerã.
O episódio gerou revolta pública, pedidos de renúncia e críticas tanto de reformistas quanto de conservadores, que viram na cena um símbolo da hipocrisia do regime. Shamkhani, de 68 anos, é um dos principais assessores de segurança do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e até julho era secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional — órgão central do aparato militar e político iraniano.
Responsável por supervisionar as negociações nucleares com os Estados Unidos e a repressão a protestos internos, ele foi peça-chave na imposição das leis de vestimenta e conduta feminina que se tornaram símbolo do autoritarismo iraniano. O contraste entre sua imagem pública e o comportamento de sua família foi imediato.
- A imprensa reformista estampou sua foto nas capas dos jornais, com manchetes como “Soterrado sob um escândalo”.
- Analistas e veteranos de guerra pediram que ele deixe os cargos públicos e faça um pedido de desculpas à população.
- A crise ocorre em torno de uma figura historicamente influente, que foi sancionado pelos Estados Unidos em 2020, acusado de enriquecer durante o regime de sanções por meio de empresas familiares ligadas ao transporte marítimo de petróleo iraniano e russo para a China.
Em meio à pressão, Shamkhani reagiu com ironia, escrevendo “Bastardos, ainda estou vivo!” no X (ex-Twitter), em sua primeira manifestação pública sobre o vídeo. A frase, repetida em aparições recentes, foi vista como tentativa de desafiar as críticas e reafirmar prestígio dentro do regime.
O episódio abriu fissuras dentro da estrutura política iraniana, revelando um crescente incômodo com os privilégios e excessos da elite estatal em meio a uma economia em colapso e a uma repressão sem precedentes aos direitos das mulheres. A agência Tasnim, ligada à Guarda Revolucionária, reconheceu que “o estilo de vida dos funcionários deve ser defensável”, mas classificou a divulgação do vídeo como “antiética”.
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