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Bolsa desaba 13%, peso cai 3%: mercado argentino reage à derrota de Milei em eleição

A queda esperada dos ativos argentinos se efetivou nesta segunda-feira (8) em meio à derrota do partido do presidente Javier Milei em importante eleição local, aprofundando as preocupações em torno do apoio político à sua agenda econômica.

O índice de referência Merval desabou históricos 13,25%. Os papéis do setor financeiro e do setor petroleiro e de energia foram os mais castigados. O Grupo Financiero Galicia caiu 23,57%, enquanto o Supervielle desabou 23,97%. Entre as petroleiras, YPF teve perdas de 15,34%, Vista teve baixa de 8,34% e a distribuidora de energia Edenor caiu 20,46%.

O peso, por sua vez, caiu 3,05%, para 1.409 por dólar, com intervenção constante do Tesouro, após atingir um piso intradiário de 1.450 unidades para venda. Operadores apontaram que a atenção estava voltada para o território de 1.464 como teto da banda de flutuação vigente desde a saída das restrições cambiais pelo Banco Central (BCRA) em meados de abril.

A autoridade monetária gerou liquidez entre os contratos futuros da moeda local para conter maiores expectativas de desvalorização, até níveis depreciados de 1.590 por dólar para o final de dezembro próximo.

Os títulos de dívida pública recuaram em média 4,1%, enquanto o fundo global MSCI Argentina despencou 10% e caminhava para sua maior perda diária desde março de 2020.

O partido de Milei ficou bem abaixo das expectativas nas eleições provinciais de domingo em Buenos Aires, quase 14 pontos percentuais atrás da oposição peronista de esquerda, com 99% dos votos apurados. O resultado decepcionou os investidores, que previam que uma derrota de mais de cinco pontos percentuais desencadearia uma liquidação dos ativos do país.

O resultado adverso para Milei levou o Morgan Stanley a fechar uma recomendação de compra para ativos argentinos, iniciada apenas na semana passada.

A derrota de domingo aumenta as chances de um “cenário negativo em que o mercado questiona a probabilidade de continuidade das reformas e aumenta a incerteza quanto às futuras fontes de financiamento externo”, disseram o economista Fernando Sedano e o estrategista Simon Waever, do Morgan Stanley, em um relatório a investidores.

A província de Buenos Aires, que representa quase 40% do eleitorado nacional, tem sido historicamente um reduto do peronismo. Embora as chances de vitória fossem mínimas para os aliados de Milei, os investidores buscavam seu desempenho como uma forma de avaliar o sentimento político antes das eleições nacionais de meio de mandato no próximo mês.

Após o anúncio dos resultados, Milei admitiu erros políticos e prometeu “profunda autocrítica” para corrigi-los antes da votação de outubro. Ele também prometeu redobrar seus esforços em seu modelo econômico, mantendo a política cambial e as restrições monetárias vigentes, além de outras reformas.

“Tivemos um revés eleitoral e temos que aceitá-lo”, disse ele.

Nas últimas semanas, o líder libertário vinha lutando para defender a moeda em desvalorização, restringindo a liquidez no setor financeiro à custa de taxas de juros altíssimas. Como último recurso, as autoridades intervieram no mercado de câmbio, levantando preocupações sobre os ativos em dólar do governo.

Milei também estava lidando com as consequências de um escândalo de corrupção envolvendo sua irmã, Karina, que aumentou os temores sobre a posição do presidente junto aos eleitores. Seu governo negou qualquer irregularidade.

Com o mercado de câmbio em turbulência e os riscos políticos crescentes, os títulos em dólar da Argentina já vinham ficando atrás de todos os pares de mercados emergentes no último mês, registrando perdas de 5,5% em comparação com um ganho médio de 2% para o restante da dívida de países em desenvolvimento, de acordo com um índice da Bloomberg.

“A derrota retumbante de La Libertad Avanza, do presidente Javier Milei, nas eleições da Província de Buenos Aires, provavelmente confirmará os piores temores do mercado e desencadeará um ciclo de retroalimentação adverso de preços negativos, movimentos políticos desagradáveis ​​e expectativas ainda mais pessimistas rumo às eleições nacionais de meio de mandato em outubro.”, avalia Jimena Zuniga, analista da América Latina.

Milei deveria se reunir com seu gabinete na segunda-feira, antes da abertura dos mercados em Buenos Aires, de acordo com uma reportagem do Clarín. Os investidores estarão atentos a quaisquer medidas corretivas tomadas.

“A escala da derrota superou em muito as expectativas”, escreveram os analistas do JPMorgan Diego Pereira e Lucila Barbeito em nota de pesquisa na noite de domingo. “Com quase 50 dias até a eleição nacional de meio de mandato, o peso permanece vulnerável a novas desvalorizações, apesar da intervenção cambial do Tesouro.”

Análise política da XP reforçou o discurso de Milei de continuísmo na política econômica. Segundo a equipe de análise, embora o discurso tenha sido bem recebido dentro da base do governo, as estratégias para ampliar a coalizão permanecem pouco claras. “Segundo a imprensa, não haverá mudanças imediatas no gabinete, mas é esperada uma recalibração da estratégia, com um papel crescente para o assessor Santiago Caputo —crítico da campanha governista. As tensões internas também ficaram evidentes com a ausência de figuras-chave, como o chefe de Gabinete Guillermo Francos e a ministra de Capital Humano, Sandra Pettovello”, aponta.

(com Bloomberg e Reuters)

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