Quedas de juros costumam ter um efeito ambíguo nos bancos. De um lado, reduzem as receitas financeiras, já que os spreads podem encolher. De outro, tendem a impulsionar o ciclo de crédito, o que pode beneficiar essas instituições.
O histórico mostra que, no Brasil, o lado positivo costuma prevalecer. Nos últimos cinco ciclos de afrouxamento monetário, o setor subiu antes dos cortes (em três ocasiões) e todas as vezes depois, mostra levantamento feito pela Rico a pedido do InfoMoney.
“Os bancos costumam reagir de forma moderada nos cortes de juros: sofrem no início com a queda das margens, mas ganham força depois com maior volume de crédito e menor inadimplência”, disse Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.
Após o ciclo de 2005, por exemplo, o setor avançou 56% em seis meses e acumulou alta de 41,55% em um ano. Em 2009, subiu 51,75% no semestre seguinte e disparou 125,59% em doze meses, segundo o levantamento.
Veja tabela completa:
Data Corte | Perfomance média antes (12m / 6m) | Perfomance média Depois (12m / 6m) |
---|---|---|
15/09/05 | 83,06% / 17,01% | 41,55% / 56,65% |
22/01/09 | -35,43% / -36,35% | 125,59% / 51,73% |
01/09/11 | -7,38% / -8,17% | 4,87% / 14,59% |
20/10/16 | 86,74% / 36,74% | 28,43% / 12,23% |
03/08/23 | 25,44% / 24,55% | 5,77% / 10,53% |
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Cenário deve se repetir?
Parte do mercado projeta que o próximo ciclo de afrouxamento monetário no Brasil comece em 2026. Para especialistas, essa queda tende a beneficiar os bancos novamente, assim como toda a economia. Mas há fatores que podem atrapalhar essa trajetória.
Um deles é a inadimplência. Dados do Banco Central divulgados em agosto mostraram a inadimplência nas operações de crédito livre alcançou 5,2% em julho, ante 5,0% em junho. No caso das pessoas físicas, chegou a 6,5%, ante 6,3%.
“O Banco Central destacou que a inadimplência está concentrada em crédito pessoal não consignado, pequenas empresas e agro. Esses segmentos são o ponto de atenção para 2026”, disse José Áureo Viana, planejador financeiro e sócio da Blue3 Investimentos.
Outro desafio vem da competição com fintechs de crédito digital. Elas oferecem taxas mais baixas – no crédito pessoal não consignado, 79% ao ano, contra 94% dos bancos tradicionais; no parcelado de cartão, 96% ao ano, contra 183%, segundo dados informados pelo especialista. Além disso, já dominam a digitalização: 92% das operações financeiras no Brasil são feitas por canais digitais, com destaque para o Pix, que cresceu 41% via mobile entre 2023 e 2024.
“Ou seja, os digitais entram na queda de juros com um modelo menos dependente de margens ligadas ao CDI e mais baseado em escala, tecnologia e serviços, o que pode lhes dar vantagem em um ambiente de Selic baixa”.
Ventos internacionais também podem trazer pressão. Josias Bento, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, lembrou que a queda dos juros nos EUA pode atrair capital para os centros globais, reduzindo a atratividade de ações de bancos como Itaú e Banco do Brasil. Além disso, disse, “sanções como a Lei Magnitsky também podem respingar nos bancos”.
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O Banco do Brasil (BBAS3) – onde o ministro do STF Alexandre de Moraes, alvo de sanções nos EUA, mantém conta – já traça estratégias de proteção caso a tensão avance. O banco busca aconselhamento de escritórios de advocacia norte-americanos, enquanto o governo federal consulta especialistas em políticas públicas e consultores para mapear riscos.
Vale investir no setor agora?
Apesar dos desafios, especialistas ainda veem espaço para investir em empresas do setor financeiro. “Dependendo do perfil do investidor, investir em bancos sempre é um bom momento, pois são instituições que normalmente pagam bons dividendos e bancos de primeira linha no Brasil são bem monitorados pela Basiléia”, disse Bento, da GT Capital.
Segundo ele, bancos de varejo com maior capilaridade tendem a compensar margens menores com volume maior de crédito e serviços. “Nessa linha entra Banco do Brasil, Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), por exemplo.”
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Viana, da Blue3 Investimentos, falou que, para quem busca estabilidade, bancos tradicionais e consistentes como o Itaú são referência. “Exemplo de banco que entrega consistência, mesmo com Selic em queda.” No caso do Bradesco, ele vê uma oportunidade de recuperação, caso a melhora operacional se consolide. Já o BB, falou, oferece forte geração de lucro e proventos, mas exige atenção redobrada ao risco agro e ao fator político.
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