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A nova fase da Vale em Minas Gerais: menos barragens e R$ 67 bilhões em investimentos

A Vale (VALE3) quer reescrever sua história com o estado de Minas Gerais. Ainda que a companhia tenha sido fundada justamente em solo mineiro, com exploração de ferro em Itabira (negócio que ainda compõe o portfólio da empresa), a mineradora se via distante de MG nos últimos anos, em especial após as tragédias de Mariana e Brumadinho.

Após a conclusão dos acordos de reparação de Mariana no ano passado e Brumadinho em 2021 com o governo de Minas e demais compromissos, a companhia se vê pronta para trazer novamente Minas Gerais para o centro de sua nova fase de mineração, com a inauguração oficial da Mina Capanema nesta quinta (4).

Na nova mina, em funcionamento desde o fim do ano passado, a operação não deixará rejeitos, utilizando a umidade natural como substituto ao uso de água no processamento do minério. Sem rejeitos, não haverá a necessidade de barragens, como parte dos esforços da Vale em reduzir seu uso ao longo do tempo.

“Para falar de futuro. Minas Gerais está no centro de uma grande transformação na mineração. Nosso objetivo é claro: consolidar Minas e o Brasil como referência na nova forma de fazer mineração. Jamais esqueceremos Mariana e Brumadinho, que estão na base de uma profunda transformação da Vale nos últimos anos”, afirmou Gustavo Pimenta, presidente da companhia, em discurso na solenidade.

O sistema já é utilizado na Mina de Carajás e no Sistema Norte e consiste na ausência de uso de água na operação, criando como resíduo em pó, em vez de lama de rejeito. Além da preocupação com eliminação de barragens ao longo do tempo, a companhia também tem voltado esforços para retirada de pessoas de linha de frente.

Para tanto, na Mina, o novo modelo contempla cinco caminhões fora de estrada autônomos. A justificativa é a redução de agentes diretamente em locais mais críticos e menos seguros para a operação. A companhia também apresentou soluções de circularidade, com o reprocessamento de minério de ferro contido em uma antiga pilha de estéril.

“É um projeto que a gente está utilizando, por exemplo, 100% de caminhões autônomos. Não tem barragem, não tem rejeito, não tem utilização de água. Então, é outro projeto em relação ao que se fazia há 20 anos atrás”, explicou em coletiva.

A companhia também focará no reaproveitamento através da mineração circular. Segundo a Vale, a prática permite a eliminação de riscos associados às estruturas e traz ganhos ambientais, como a redução de área para disposição do material. 

A empresa vem intensificando práticas de mineração circular no Estado desde 2020, com o reprocessamento de minério de ferro de estruturas geotécnicas em descaracterização, como as pilhas de estéril da mina Serrinha e a barragem Vargem Grande da mina de mesmo nome.

Só no primeiro semestre deste ano, foram produzidas cerca de 9 milhões de toneladas (Mt) a partir desses programas, um aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2024. No ano passado, a produção de fontes circulares somou 12,7 Mt, e há potencial para que a empresa alcance 10% de sua produção total por meio dessas fontes até 2030. Minas Gerais responde por cerca de 80% desse volume. 

Produção em Capanema

A exploração na Mina Capanema teve início em 1942, as atividades foram interrompidas em 2003. A Vale começou trabalhos para reativar unidade em 2021. A instalação voltou a funcionar no fim do ano passado.

A reativação contou com investimentos de R$ 5,2 bilhões, que estava paralisada havia 22 anos, incluindo a modernização das instalações e a integração com outras minas da região para a otimização de processos e redução de impactos ambientais. As obras tiveram duração de cinco anos, envolveram cerca de 40 empresas e mais de 6.000 trabalhadores no pico das atividades, com priorização de mão de obra local. A operação conta com 800 empregados.

A mina vai adicionar aproximadamente 15 milhões de toneladas por ano (Mtpa) à produção de minério de ferro da Vale, contribuindo para o alcance do guidance de 340–360 Mtpa em 2026.

“Hoje, em Minas, a gente faz ao redor de 125 milhões de toneladas. São 15 milhões de toneladas e é muito importante para a gente. É um dos projetos mais simbólicos que a gente tem aqui no Estado hoje”, disse Pimenta.

Novos investimentos

Na inauguração, o presidente da companhia também anunciou investimento de R$ 67 bilhões em Minas Gerais. A maior parte do valor será destinada a soluções para ampliar a filtragem e o empilhamento a seco do rejeito, com o objetivo de reduzir de 30% para 20% o uso de barragens nas operações da empresa no Estado.

“Esses projetos oferecerão mais segurança na produção do portfólio de alta qualidade, que requer etapas de concentração do minério, especialmente o pellet feed high grade, essencial para as rotas de redução direta na produção de aço com menor emissão de gases de efeito estufa”, explica Rogério Nogueira, vice-presidente executivo Comercial e de Desenvolvimento da Vale, em nota.

Haverá investimentos também na modernização dos cinco complexos operacionais da empresa, além de incremento na gestão de estruturas geotécnicas das minas, incluindo conectividade, renovação de frota, instrumentação e monitoramento.

O montante está inserido na estratégia da Vale para 2030, que busca oferecer um portfólio de minério de ferro mais flexível, impulsionado por melhorias no desempenho operacional. Os aportes neste período devem gerar cerca de R$ 440 milhões em royalties por ano, movimentando R$ 3 bilhões anuais em salários para cerca de 60 mil profissionais, entre próprios e contratados. 

Descaracterização de Estruturas

Os recursos anunciados nesta quinta serão empregados na eliminação de barragens e diques do Programa de Descaracterização de Estruturas a Montante, que tem prazo de 10 anos para conclusão. O tempo, segundo o CEO da companhia, foi determinado por recomendação técnica.

Desde 2019, cerca de 60% do programa foi executado. Das 13 estruturas remanescentes, oito estão em obras. Todas estão inativas e são monitoradas 24 horas por dia pelos Centros de Monitoramento Geotécnico da Vale.

“A Vale assumiu um compromisso com a sociedade mineira e com os brasileiros de não ter nenhuma barragem amontante em Minas. A gente já eliminou quase 60%. E o mais importante, as que são classificadas como nível 3, nível mais alto de emergência, hoje a gente não tem mais nenhum”, diz Pimenta.

O presidente também comentou ter sido um marco importante em agosto quando a a redução no nível de emergência de Forquilhas, em Ouro Preto, para nível 2. Então, mostra que o nosso programa de eliminação de barragens amontante está indo muito bem e é uma pauta prioritária para a gente

“Continuamos avançando na gestão de nossas estruturas geotécnicas, aprimorando os controles e estudos técnicos e desenvolvendo tecnologia de ponta, em parceria com nossos fornecedores, para eliminar nossas barragens a montante, com foco absoluto na segurança dos nossos empregados, das comunidades vizinhas e na proteção do meio ambiente”, ressalta Rafael Bittar, vice-presidente executivo de Serviços Técnicos da Vale.

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