O quarto dia de julgamento da trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcado pela surpresa dos ministros com o longo voto do ministro Luiz Fux, que durou mais de 13 horas, visita do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, ao colegiado, tietagem de advogado a um deputado do PT e cochichos entre Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia.
O calhamaço que Fux retirou de um envelope ao iniciar seu voto logo após as 9h anunciava que seu voto seria longo, mas a extensão da sua fala pegou os demais ministros da Turma de surpresa.
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A previsão era de que a sessão da Tuma fosse até o meio-dia, com espaço para estender por mais uma hora — afinal, havia sessão do plenário, já marcada para começar uma hora depois do horário habitual.
Mas o voto de Fux àquela altura ainda estava no início, e o encontro dos onze ministros precisou ser desmarcado, com a sessão da Turma sendo suspensa em três ocasiões: um intervalo de 10 minutos de manhã, uma pausa para o almoço de uma hora, entre as 13h e as 14h, e um novo hiato à tarde.
Na pausa de 10 minutos feita à tarde, quando Fux já havia anunciado boa parte de todas as suas divergências de Moraes, no lugar conhecido como “sala de lanches”, localizada nos bastidores da Turma, os cinco ministros receberam a visita de Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, vice-presidente da Corte.
A visita foi apontada por interlocutores da Corte como um gesto para demonstrar apoio diante da importância do julgamento — e tentar diminuir o clima tenso entre colegas na saleta, entre um prato de frios e outro. Mas Fux ficou apenas por alguns minutos no local, e logo se dirigiu ao seu gabinete, segundo relatos feitos à reportagem.
Ao longo do voto de Fux, ministros passaram a maior parte do tempo olhando fixamente para suas tela. Alguns davam ar de cansaço muito antes do segundo intervalo. Para sustentar a concentração, os magistrados receberam inúmeros refis de café e água.
Por volta das 18h50, o presidente da Turma, Cristiano Zanin, recebeu um copo cheio de Coca-Cola com bastante gelo, uma injeção de açúcar que tomou com calma.
Quebrando a postura contida que os quatro ministros mantiveram ao longo de todo o dia, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes, que sentam um do lado do outro, trocaram algumas palavras ao pé do ouvido. Durante um dos intervalos, ficaram no plenário, quando os demais já haviam saído, e sozinhos na mesa, conversaram discretamente por alguns minutos. Enquanto Fux falava sobre as urnas eletrônicas, já no retorno ao voto, tornaram a se falar e trocaram um bilhete, enviado por Moraes para Cármen.
Os intervalos marcaram outro momento de descontração, como a tietagem feita pelo advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, ao deputado federal Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara dos Deputados e um dos mais próximos quadros do partido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O defensor do réu por golpe de Estado se apresentou ao deputado, trocaram um abraço e conversaram de forma animada.
No último intervalo, já por volta das 20h30, outra cena descontraída foi protagonizada por Flávio Dino, que desceu do plenário e foi até a plateia cumprimentar o advogado de Mauro Cid, Cézar Bitencourt, a quem chamou de “mestre”. Dino deu um abraço no advogado, conhecido doutrinador de Direito Penal, e brincou com outro integrante da equipe jurídica do tenente-coronel, Jair Alves, dizendo que gostaria de chegar “ao mesmo tamanho” dele, referindo-se à forma física do advogado, que é magro.
Destoando do clima das sessões anteriores, marcado por momentos em que a plateia riu e até os ministros brincaram entre si, o quarto dia foi marcado apenas pela voz de Fux, fazendo com que até experientes ministros do STF passassem a apontar que pronunciamento do colega já se enquadra como um dos mais longos da história da Corte. O recorde, até hoje, era detido pelo ministro aposentado Celso de Mello, que em 2019 votou durante seis horas e meia — mas em dois dias separados.
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