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Sociedade Brasileira de Dermatologia cria 1º Departamento de Pele Étnica, coordenado por Katleen Conceição


A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) acaba de criar seu primeiro Departamento de Pele Étnica. A iniciativa tem como missão fomentar o conhecimento dos dermatologistas a respeito da pele étnica – termo que abrange não somente a pele negra, mas também indígena e asiática – e será chefiada pelos dermatologistas Katleen da Cruz Conceição e Cauê Cedar.
Para Katleen, que é referência nos cuidados com a pele negra no Brasil há duas décadas, trata-se de “um marco histórico”.
“Falar sobre pele negra e pele étnica sempre foi uma missão de vida e de carreira. Venho apresentando essa pauta em congressos, simpósios e publicações há mais de 20 anos, porque acredito que reconhecer as particularidades da pele negra é também reconhecer a importância da representatividade e da equidade em saúde”, fala. “Agora, com um departamento oficial, a SBD dá um passo fundamental para estruturar protocolos e educação médica continuada em benefício da população”.
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A criação do Departamento de Pele Étnica era uma demanda antiga dos dermatologistas. “Esse departamento é mais do que necessário, especialmente no Brasil, que tem um perfil muito multirracial. Como lá fora existem departamentos de pele pigmentada e aqui não?”, questiona Regina Schechtman, atual presidente da SBD, se referindo à Skin of Color Society, uma organização norte-americana fundada em 2004 para discutir cuidados com peles pigmentadas. “Além de responder às necessidades da população, a criação desse departamento tem como objetivo orientar dermatologistas brasileiros a respeito das diferentes peles do nosso povo”, completa.
Embora reconheça que estamos vivedo avanços importantes, a dermatalogista afirma que ainda temos um longo caminho a percorrer, especialmente no âmbito das pesquisas clínicas. “A indústria começou a ouvir o consumidor negro. Basta observar que hoje temos linhas de maquiagem com dezenas de tonalidades e protetores solares que não deixam resíduo esbranquiçado, por exemplo. Mas precisamos de mais investimento em pesquisas clínicas específicas, em ativos testados em peles pigmentadas e em tecnologias que atendam melhor às nossas necessidades.”
Em entrevista à Vogue, Katleen conta que os principais planos da dupla de dermatologistas à frente do Departamento são fomentar pesquisas e ampliar a discussão sobre cuidados com peles étnicas em diferentes contextos, desde doenças dermatológicas até procedimentos estéticos, e desenvolver protocolos específicos para a pele dessa população. “Nossa expectativa é criar pontes com médicos, pacientes, indústria e também com sociedades internacionais”, fala.
Legado
Katleen Conceição assume para si a missão de formar novos profissionais especialistas em pele negra muito antes de ocupar o cargo de coordenadora do Departamento de Pele Étnica da SBD. Há seis anos, ela criou um fellowship pioneiro no assunto, no Instituto Professor Rubem David Azulay, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, instituição em que fez estágio durante sua formação, no início dos anos 2000.
Na época, “o tema “praticamente não existia”, lembra. “A maior parte do que eu aprendi sobre pele negra veio da prática clínica, de estudos fora do Brasil de congressos internacionais”. O programa nasceu justamente dessa lacuna na formação médica tradicional: “Conseguimos unir prática clínica, pesquisa e ciência aplicada, criando uma geração de dermatologistas preparados para cuidar da pele negra com excelência e responsabilidade”.
No ano passado, Katleen publicou “Dermatologia para Pele Negra”, primeiro livro brasileiro dedicado exclusivamente ao assunto, lançado em 2024 pela editora Manole Saúde. Nele, destaca as particularidades clínicas, estruturais e fisiológicas da pele negra, oferecendo um recurso valioso para médicos, estudiosos e pacientes.
“Para mim, esse é um dos maiores legados da minha trajetória: transformar minha experiência em conhecimento multiplicado, que impacta não apenas pacientes, mas toda a comunidade dermatológica”, finaliza.