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Residência de Bad Bunny movimenta 200 milhões de dólares e impulsiona moda local em Porto Rico


Ao longo de dez finais de semana e 30 apresentações com ingressos esgotados, fãs não estão apenas lotando os arredores do Coliseu de Porto Rico, o El Choli, para assistir à residência de verão de Bad Bunny, “No me quiero ir de aquí”. Eles também estão injetando cerca de US$ 200 milhões na economia local — um impacto que vai muito além das passagens, hospedagens e turismo: atinge também a moda porto-riquenha. Público e artistas têm apostado em estilistas e marcas locais para compor os looks usados nos shows e eventos da residência, o que tem gerado um efeito dominó no setor criativo da ilha.
“Está todo mundo trabalhando nisso, mesmo que de forma indireta”, diz Michelle Otero, cofundadora e designer da Ecliptica. “Estamos surfando essa onda — e tem sido lindo.” Desde 2000, Michelle e sua irmã Norein comandam a Ecliptica, marca com sede em San Juan, conhecida por vestidos sob medida para festas, casamentos e bailes. Após o furacão Maria, a marca expandiu para o ready-to-wear com a linha Ecliptica Isla, que celebra a cultura porto-riquenha sob um olhar nostálgico. A coleção mais recente, lançada em março e chamada “Centro”, traz estampas vibrantes de galinhas, frutas tropicais, renda mundillo, dominó e cafeteiras moka — temática que dialoga diretamente com o álbum “Debí Tirar Más Fotos”, lançado por Bad Bunny em janeiro, em homenagem à história e à resiliência da ilha.
Desde o lançamento do disco, fãs têm revisitado ícones do folclore porto-riquenho — como o chapéu de palha pava, a flor de maga e a renda mundillo — para incorporá-los em seus visuais, especialmente nos shows. A demanda pela linha Isla cresceu tanto que superou a procura pelas peças de ateliê. “É interessante ver todo mundo redescobrindo algo que já era nosso, por causa da música”, diz Otero. “Não víamos tantos pedidos desde 2018.”
Saia reversível Taína da Ecliptica
Cortesia de Ecliptica Isla

Muitos desses pedidos chegaram após a cantora RaiNao — que participa da faixa “Perfumito Nuevo” — subir ao palco usando a saia reversível Taína da Ecliptica. O top usado por ela era uma peça personalizada do ateliê. A artista já tinha comprado a saia por conta própria e depois entrou em contato para encomendar o look completo para o show. “Tudo aconteceu de forma bem orgânica”, conta Otero.
Bad Bunny e RaiNao no Saturday Night Live. RaiNao usa Ecliptica.
Getty Images
Julho foi um mês de pico nas vendas, impulsionado não apenas por RaiNao, mas também por Gabriela Berlingeri — cliente e parceira frequente da marca, que sempre gera visibilidade ao marcar a Ecliptica nas redes. Muitos clientes são novos: visitantes que foram a San Juan por conta do show e passaram pelo showroom da marca em Miramar perguntando especificamente pelas peças da linha Isla. (A linha Isla, embora sob medida, tem preços mais acessíveis: um vestido custa a partir de US$ 180, enquanto os da linha de ateliê começam em US$ 680.)Para marcas como a Ecliptica, que seguem os princípios da moda lenta e produzem localmente com capacidade limitada, comunicar prazos de produção tem sido um desafio diante da alta demanda.
A estilista Yazmín “Yayi” Perez vive isso na prática. Desde que Bad Bunny apareceu com duas de suas guayaberas (camisas tradicionais de linho) no palco da residência, seus pedidos dispararam. Formada por escolas renomadas como Polimoda Firenze, Politecnico di Milano e FIT, Perez fundou sua marca homônima em 2018 com a proposta de produzir peças sustentáveis em Porto Rico. As guayaberas se tornaram sua assinatura — a primeira usada por Bad Bunny foi um presente do fotógrafo Eric Rojas, que havia comprado a camisa na loja da marca em Miramar. “Vi no Instagram e pensei: ‘Sim! Ele gostou!’”, lembra.
A guayaberas de “Yayi” Perez
Divulgação
Logo depois, a equipe de estilo do artista entrou em contato para criar peças para a residência. Perez desenvolveu oito camisas e quatro calças feitas sob medida, com elementos inspirados na cultura porto-riquenha e no conceito do álbum. Na noite de estreia — que coincidiu com a véspera de seu casamento —, Benito vestiu dois modelos: Cordillera, com o contorno da Cordilheira Central, e Isola, com bolsos triangulares e pregas que lembram a bandeira da ilha.
Perez ainda confecciona tudo com uma equipe de costureiras em seu ateliê. Com o aumento da demanda, o tempo de produção passou de três para dez semanas. As vendas no site cresceram 68% de junho para julho. “Estamos aproveitando para educar o cliente”, afirma. Além dos turistas, o boom também atraiu moradores locais, que passaram a conhecer a marca graças à exposição na mídia. “Fomos entrevistados na TV local e tivemos muitos visitantes na loja dizendo: ‘Te vi no WAPA e não sabia que você fazia guayaberas em Porto Rico’.”
A loja de Yayi Perez em San Juan, Porto Rico
Cortesia de Yayi Perez
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A visibilidade também tem sido reforçada por campanhas como a do coletivo Muns, incentivando o consumo de marcas porto-riquenhas durante a residência — com apoio do próprio Bad Bunny. Sempre que artistas como RaiNao e o grupo Chuwi sobem ao palco, fazem questão de usar criações locais.
O estilista Hermán Nadal, por exemplo, vestiu Chuwi em duas apresentações — e ainda vem mais por aí. Há dez anos à frente da sua marca homônima, Nadal tem Porto Rico como principal inspiração. Sabendo da visibilidade que a residência traria, lançou uma cápsula comercial baseada nas peças feitas para o grupo, que rapidamente gerou pedidos, inclusive da diáspora. “Muita gente quer ter um pedaço da ilha com eles”, diz.
A designer Mónica Santos Gil, do Bronx, também viveu um momento especial. Mesmo sem experiência com moda masculina, ela topou vestir o grupo Chuwi com peças inspiradas no dominó. Um vídeo mostrando os bastidores do processo viralizou, resultando em 1.500 novos seguidores e clientes visitando sua loja em Nova York — até gente de Isabela, cidade natal do grupo. A peça mais pedida? O vestido usado por Lorén, vocalista do grupo, já esgotado, mas com reposição prevista para setembro.
Vestido cut out da marca da Santos by Mónica
Cesar Buitrago
Santos Gil já planejava expandir a linha inspirada no dominó, mas agora está ainda mais determinada. “Quando vi Chuwi entrando no palco com minha peça, chorei”, conta. “Sempre quis ver meu trabalho sendo usado em Porto Rico. Espero um dia poder produzir lá também.”
Edwin Reyes, designer baseado no Bronx, também viu seu trabalho ganhar projeção após Lorén vestir sua saia de babados com a bandeira de Porto Rico. Criada como homenagem ao desfile do orgulho porto-riquenho em Nova York, a peça rendeu uma dúzia de encomendas e motivou Reyes a desenvolver novas versões, incluindo a bandeira azul celeste original e a preta e branca da resistência. “Quero usar minha marca para construir comunidade”, afirma.
Saia de babados à la bandeira de Porto Rico de Edwin Reyes
Cortesia de Edwin Reyes
Já Hermán Nadal, com o aumento dos pedidos, pôde contratar três pessoas para seu ateliê em Bayamón. “Sempre quis isso: uma equipe com cortadores, modelistas, costureiras — todos bem remunerados, trabalhando com propósito.”
Para os criadores locais, este momento representa tanto um marco profissional quanto emocional. “Isso vai além da música — é uma conexão profunda com nossas raízes”, diz Santos Gil. “As pessoas estão entusiasmadas em apoiar e descobrir marcas emergentes de Porto Rico.”
Michelle Otero resume o sentimento: “Fico tão feliz que as pessoas estão enxergando a beleza da nossa cultura, mesmo com todas as dificuldades de viver aqui. Essa nostalgia que o álbum despertou é algo que as pessoas querem e precisam. Só espero que não esqueçam.”