Aranha Movediça: Uma Estreia Promissora na Literatura Cearense
O romance “Aranha Movediça”, de Moacir Fio, é uma obra que não demora a justificar seu título. Com diferentes linhas narrativas que se entrecruzam como em uma teia, o livro nos apresenta um mistério no centro: a morte de João Valdenir, conhecido como Jota do Lixo, uma figura proeminente da cena punk de Fortaleza nos anos 80.
A jornalista Alessandra Moretti, responsável pela primeira linha narrativa, um podcast investigativo, vasculha o passado para esclarecer o que parece ter sido um assassinato, e novos mistérios vão surgindo, nem todos deste mundo. Outras linhas narrativas, mais convencionais, são apresentadas, como a história de Carlos Eduardo, um homem que na infância e na adolescência foi próximo de Jota, e a de Josefa, uma mulher confinada em uma fazenda de séculos passados.
A prosa de Fio justifica o nosso envolvimento, pois está à altura da ambiciosa estrutura do romance. O autor se sai bem compondo um roteiro de podcast, dando voz a um professor de cursinho homossexual de meia idade, e emulando uma narração oitocentista. O maior trunfo, no entanto, é o podcast, que acomoda bem um didatismo que, de outra forma, seria prejudicial à história.
À medida que a história avança, a investida no fantástico é outro acerto de Fio. A entrada de Moça em cena expande o romance, dando relevo à enigmática Cococi, uma cidade fantasma no Sertão dos Inhamuns, interior do Ceará. Moacir Fio arrisca inventar uma mitologia própria para uma região que ainda hoje atrai fascínio e curiosidade.
O romance se filia a uma vigorosa corrente literária da atualidade, que recorre ao insólito para questionar ou se opor a estruturas hegemônicas. “Aranha movediça” é uma estreia promissora, que coloca Cococi no mapa de lugares assombrados do país — e Fio no rol de talentos de nossa literatura, insólita ou não.
Algumas das características que tornam “Aranha movediça” uma obra notável incluem:
- Uma estrutura narrativa complexa e envolvente;
- Uma prosa que justifica o envolvimento do leitor;
- Uma investida no fantástico que expande o romance;
- Uma mitologia própria para a região de Cococi.
No final, “Aranha movediça” é uma obra que nos deixa com a sensação de desorientação, mas de um bom sentido, pois nos faz questionar e refletir sobre a história e os mistérios que se impõem. É uma leitura recomendada para aqueles que buscam uma obra literária que os desafie e os envolva.
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