O Distrito Anhembi, em São Paulo, foi palco nesta terça-feira, 26, do primeiro dia do Lean Summit 2025, considerado o maior encontro sobre gestão Lean do país. A abertura marcou também a estreia da parceria inédita entre o Lean Institute Brasil e a Antena 1, responsável pela primeira temporada do podcast Estúdio Antena 1 Liderança Talks, que já vinha preparando a audiência para os debates agora realizados ao vivo no palco.

Com entrevistas conduzidas por João Carlos Santana (Antena 1) e pelos jornalistas Alexandre Possendoro e Roberta Pissutti (Lean Institute Brasil), o evento reuniu uma plateia altamente qualificada. Entre os destaques do primeiro dia, estiveram executivos que compartilharam experiências sobre liderança, tecnologia, inovação e o impacto do método Lean nas organizações.

Alexandre Mandl: soberania digital e propósito da Magalu Cloud

Em sua conversa com Alexandre Possendoro, o executivo Alexandre Mandl, da Magalu Cloud, destacou que o grande desafio de liderar uma empresa de nuvem no Brasil é manter um propósito claro: democratizar o acesso a serviços de cloud, oferecendo aos muitos o que antes era privilégio de poucos. Para isso, a companhia tem se comprometido a entregar preços competitivos para o mercado nacional, qualidade de engenharia desenvolvida no país e, sobretudo, segurança e soberania dos dados.

Mandl chamou atenção para a confusão comum entre localização e jurisdição dos dados. Ao optar por provedores estrangeiros, muitas empresas brasileiras acabam submetidas a legislações externas, já que ao aceitar os termos de uso concordam automaticamente com as regras de outros países. O diferencial da Magalu Cloud, segundo ele, é garantir que os clientes estejam 100% sob a proteção das leis brasileiras, fortalecendo a segurança jurídica e a confiança de empresas e órgãos públicos.

O executivo também ressaltou que antes da chegada da Magalu Cloud, operar soluções de nuvem no Brasil significava lidar com um “pedágio” de 50 a 70% a mais em custos, devido à dependência de data centers estrangeiros e cabos submarinos. Com a instalação de estruturas próprias em diferentes regiões, incluindo o pioneiro data center no Nordeste, a empresa conseguiu reduzir custos, oferecer latência muito baixa — cerca de 6 milissegundos, ideal para indústrias e aplicações sensíveis — e descentralizar o acesso. Essa regionalização, de acordo com Mandl, permitiu que companhias do Norte e Nordeste deixassem de depender de infraestruturas distantes como as do Sudeste ou até dos Estados Unidos.

Na entrevista, ele também recordou o histórico de inovação do grupo Magazine Luiza, que desde 2010 desenvolve tecnologia própria, incluindo o lançamento de seu e-commerce com engenharia nacional. O modelo atual da Magalu Cloud segue essa linha, baseado na montagem de infraestrutura local: compra de componentes no exterior, montagem no Brasil com incentivos fiscais, uso de software open source para virtualização e oferta de recursos sob demanda. Esse modelo elimina custos extras ligados ao deslocamento de sinal e à dependência de estruturas estrangeiras, tornando a operação competitiva e sustentável. Para Mandl, a mensagem final é clara: a Magalu Cloud é uma nuvem feita por brasileiros para brasileiros, com qualidade global, preços justos e contribuição ativa para a soberania digital do país.

Julio Britto Junior: transformação digital e liderança protagonista

Em entrevista exclusiva a João Carlos Santana, o CEO da Quality Digital, Julio Britto Junior, falou sobre os desafios da transformação digital e a importância de encará-la como um processo contínuo. Segundo ele, cada nova onda tecnológica reinicia a jornada de adaptação, exigindo das empresas capacidade permanente de atualização. A Quality Digital, disse, tem buscado se antecipar a essas mudanças para que seus clientes avancem de forma estratégica.

Britto destacou que as organizações que conseguem adotar tecnologias e metodologias rapidamente conquistam uma vantagem clara em relação à concorrência, pois a inovação gera ganhos em produtividade, escala e assertividade nos processos. Em contrapartida, as que não se atualizam perdem relevância em intervalos cada vez mais curtos. Ele também frisou que esse movimento só é possível quando a liderança assume o protagonismo. CEOs, de acordo com ele, precisam direcionar e acelerar a transformação digital, tratando-a como prioridade estratégica. Empresas que relegam o tema a segundo plano tendem a desaparecer em um mercado altamente competitivo.

Ao longo da entrevista, Britto explicou que o método Lean é fundamental para conectar pessoas, processos e tecnologia. A transformação, segundo ele, só é sustentável quando apoiada em uma cultura organizacional que valorize aprendizado, inovação contínua e uso correto das ferramentas. “Não basta instalar sistemas sofisticados; é preciso mudar mentalidade e comportamento”, disse.

Ele também abordou os desafios atuais impostos pela inteligência artificial. Para o executivo, a IA não apenas altera processos existentes, mas cria novos modelos de negócio e ecossistemas digitais. Nesse cenário, o Lean torna-se decisivo para alinhar pessoas, tecnologia e processos em torno de soluções reais. Como mensagem final, Britto afirmou que saber aplicar corretamente o método Lean é tão importante quanto inovar, pois pequenas melhorias acumuladas resultam em transformações profundas e duradouras. Para ele, participar do Lean Summit é uma forma de compartilhar experiências e refletir sobre novas práticas de gestão em tempos de grande disrupção.

Mark Reich: propósito e disciplina no lançamento de livro

A jornalista Roberta Pissutti entrevistou Mark Reich, ex-executivo da Toyota com 23 anos de experiência, que aproveitou o Lean Summit 2025 para lançar o livro “Gestão com Propósito”. A obra é dedicada ao método japonês Hoshin Kanri, sistema de gestão estratégica que ele ajudou a aplicar na Toyota e que agora busca tornar acessível a outras organizações.

Reich explicou que, ao deixar a Toyota, percebeu que muitas empresas utilizavam de forma superficial o Hoshin Kanri, restringindo-se às ferramentas, como a famosa “matriz X”, sem adotar de fato a mudança de mentalidade necessária. Para ele, aplicar apenas a ferramenta é como comprar um aparelho de ginástica e esperar que a vida mude sozinha, sem alterar hábitos. O verdadeiro impacto está no desenvolvimento de novas formas de pensar, agir e organizar o trabalho.

Durante a conversa, o especialista destacou que a transformação cultural não acontece de forma isolada, mas como consequência de novos comportamentos aplicados na prática. Ele também reforçou a importância de integrar a gestão estratégica de longo prazo com a gestão diária. Enquanto a primeira desafia a empresa a buscar soluções inovadoras para o futuro, a segunda garante o cumprimento de metas rotineiras ligadas a volume, qualidade, custo e atendimento. Ambas se complementam e criam uma organização mais resiliente.

Reich afirmou ainda que implementar corretamente o Hoshin Kanri é uma jornada que exige disciplina e tempo. Resultados podem surgir no primeiro ano, mas a consolidação da cultura leva mais tempo e demanda paciência. Ele destacou o ciclo PDCA (Planejar, Fazer, Checar, Agir) e, sobretudo, o papel do desenvolvimento das pessoas, incluindo as lideranças, como alicerce do sistema. “Não se trata apenas de estratégia, mas de fortalecer a capacidade coletiva de pensar e agir com propósito”, disse.

A jornalista complementou, em declaração ao portal, que foi uma honra receber Mark Reich no evento e que o conteúdo compartilhado por ele certamente agregará valor às empresas brasileiras.

Um primeiro dia histórico

O Lean Summit 2025 começou em clima de entusiasmo, reunindo executivos, gestores e especialistas que discutiram desde soberania tecnológica até transformação cultural e liderança. A parceria inédita com a Antena 1 ampliou o alcance do evento, levando os conteúdos também para o público conectado às plataformas digitais da emissora.

E a cobertura continua: nesta quarta-feira (27), a Antena 1 segue acompanhando os principais debates e entrevistas do segundo dia do Lean Summit 2025 no Distrito Anhembi. Os destaques podem ser conferidos em tempo real pelas redes sociais da rádio e do Lean Institute Brasil.