Os Pumas da Patagônia e a Mudança em sua Dieta
Os pumas (Puma concolor) que retornaram ao Parque Nacional Monte León, na Argentina, após décadas de ausência devido à perseguição por criadores de ovelhas, encontraram um ambiente profundamente modificado. Uma colônia de pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) ocupava a região, e os felinos aproveitaram essa nova presença para alterar sua dieta.
Estudos recentes publicados no Proceedings of the Royal Society B revelaram que os pumas passaram a se alimentar regularmente de pinguins. Isso foi descoberto após a análise de fezes de pumas, que continham restos de pinguins. A equipe de pesquisadores, liderada pelo ecologista Mitchell Serota, monitorou os pumas entre 2019 e 2023, utilizando armadilhas fotográficas, coleiras de GPS e análises de locais de predação.
Convivência Fora do Padrão
Os resultados mostraram que 9 dos 14 pumas acompanhados se alimentavam de pinguins com regularidade, enquanto os demais dependiam de outras presas. Além disso, os pumas que se alimentavam de pinguins apresentavam territórios altamente variáveis ao longo do ano, concentrando-se nas proximidades da colônia durante a época reprodutiva das aves.
Essa abundância previsível de alimento também alterou o comportamento social dos felinos. Animais tradicionalmente solitários e territoriais passaram a se tolerar com mais frequência, registrando 254 encontros entre pumas que se alimentavam de pinguins, contra apenas quatro encontros entre indivíduos que não exploravam essa presa.
Novos Desafios para a Conservação
A maior tolerância entre os pumas resultou em uma densidade populacional incomum, com mais de duas vezes a maior concentração já registrada para a espécie na Argentina. Isso demonstra que a restauração de predadores de topo não significa a simples recriação de ecossistemas do passado.
Os pesquisadores destacam a importância de compreender como grandes carnívoros se comportam em ecossistemas alterados para planejar estratégias de conservação baseadas no funcionamento dos ambientes atuais. Além disso, a interação entre duas espécies nativas levanta dilemas práticos, como a predação por pumas que pode comprometer o crescimento de colônias menores e recém-formadas.
Os estudos futuros pretendem avaliar como essa nova fonte de alimento influencia a pressão de caça dos pumas sobre outras presas, como o guanaco (Lama guanicoe), aprofundando a compreensão sobre os efeitos indiretos da restauração de predadores na Patagônia.
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