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O que acontece com o seu corpo ao usar diariamente as redes sociais? Médicos alertam


Desde a sua popularização no Brasil, a partir da criação do Orkut, MSN Messenger e ICQ nos anos 2000, as redes sociais ocupam um papel central na engrenagem da sociedade contemporânea e têm potencial para comunicar, influenciar, entreter e aproximar pessoas. Com o passar dos anos, os programas se tornaram centros de discussão, principalmente a partir do surgimento dos influenciadores digitais, com foco total na produção de conteúdo para esses segmentos. Mas afinal, existe um limite saudável para se manter antenado em frente a tela do celular?
Pensando nisso, o TechTudo entrevistou médicos e especialistas da área da saúde para entender se o excesso de estímulos diante das telas para consumo de conteúdos diversos, principalmente os de baixa qualidade, pode afetar a saúde do usuário. Conheça, a seguir, a média de uso das redes sociais entre os brasileiros e o que pode acontecer com quem fica muitas horas na frente da tela.
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Entenda os riscos à saúde relacionados ao excesso de tempo de acesso às redes sociais
Reprodução/Freepik
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O que acontece se você usar as redes sociais diariamente por muitas horas?
Não é só em relação ao isolamento, à falta de socialização e à falta de segurança de quem navega indiscriminadamente pelas redes sociais que se debate o excesso de tempo gasto em aplicativos como TikTok, Instagram, Facebook e X (antigo Twitter). Os efeitos deletérios na saúde dos usuários também são discutidos por especialistas. Veja os tópicos que serão abordados nesta matéria:
Quantas horas, em média, os brasileiros passam nas redes sociais?
A culpa é do algoritmo?
Tendências de uso do TikTok
O que acontece com o corpo durante esse tempo de uso?
Há formas de reduzir os impactos sem abandonar o uso do app?
1. Quantas horas, em média, os brasileiros passam nas redes sociais?
O tempo médio gasto pelos brasileiros na frente da tela é de 3 horas e 37 minutos. Pelo menos é isso o que garante um relatório produzido pela Datareportal, plataforma que fornece panoramas sobre o ambiente digital. O Brasil é ainda o terceiro país que mais consome esse tipo de conteúdo, atrás somente da África do Sul e do Quênia. Especificamente no que se refere ao TikTok, uma estatística apresentada pela plataforma de análise de tendências de mercado Exploding Topics, em junho de 2025, aponta que os brasileiros passaram, em média, 28 horas e 34 minutos por mês conectados à referida rede em 2024. O número não é tão inferior no WhatsApp (24 horas) e Instagram (23 horas e 35 minutos), que são responsáveis por entreter os usuários por 24 horas e 23 horas e 35 minutos mensais, respectivamente.
Não é de hoje que os brasileiros são usuários assíduos das redes sociais. A plataforma europeia de pesquisas e análises de dados Statista revela que os brasileiros são o quinto maior mercado consumidor de mídias sociais do mundo, e o segundo maior das Américas, com cerca de 80% da população acessando esse tipo de software. O número de usuários tende a crescer também ao longo dos anos, alcançando 190 milhões de indivíduos em 2028, um aumento de mais de 20 milhões em relação ao fim de 2023.
Segundo pesquisa, os brasileiros ficaram, em média, 3 horas e 37 minutos por dia nas redes sociais em 2024
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2. Mas afinal, a culpa é do algoritmo?
O responsável pelo fascínio dos usuários pelas redes sociais pode ser o algoritmo, que funciona como uma espécie de programação para sugerir e apresentar conteúdos a partir das pesquisas e dos acessos dos indivíduos. Esse sistema mapeia o comportamento do indivíduo na rede, como curtidas, comentários, interações, tempo de visualização de um vídeo, com o objetivo de direcionar conteúdos que possam mantê-lo interessado e instigado, passando, assim, mais tempo na plataforma.
Apesar de parecer que a rede está lendo seus pensamentos, na realidade, essa “mágica” acontece de forma programada. Você se cadastra no aplicativo inserindo algumas informações, como idade, localização e gênero. Ao acessar pela primeira vez, a plataforma mostrará seus vídeos mais populares, no entanto, à medida que você começa a explorar a rede, interagindo, curtindo, comentando e compartilhando, o app passa a direcionar os conteúdos de acordo com a preferência do usuário.
Essa façanha do algoritmo, de maneira estratégica, prende a atenção do usuário, que pode navegar por horas, sem perceber, acessando, na maioria das vezes, o que foi selecionado pelo algoritmo. É importante destacar que esse fenômeno comportamental de consumir materiais aleatórios e de qualidade questionável já vem sendo estudado devido aos conhecidos malefícios, batizado de brain rot.
O algoritmo mapeia as preferências dos usuários de acordo com a interação
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3. Tendências de uso do TikTok
O TikTok é a rede social mais usada pelos brasileiros. E, para entender esse fenômeno, basta observar alguns dados interessantes. Um relatório apresentado pela Datareportal em março de 2025 aponta uma série de indicadores que evidenciam o crescimento exponencial do aplicativo. Para os anunciantes, por exemplo, o TikTok pode significar uma mina de ouro, tendo alcançado 1,59 bilhão de usuários mundialmente em janeiro de 2025 – quase 20% da população do planeta.
O TikTok é a mídia social que mais cresce no mundo. É o que afirma o site Search Logistics, em sua publicação de abril de 2025, que destaca ainda que a plataforma possui 1,5 bilhão de usuários mensais em todo o mundo. Além disso, o Brasil aparece em terceiro lugar em número de usuários, 92 milhões, atrás de Indonésia (108 milhões) e EUA (136 milhões).
A estatística por gênero revela que 44,3% do público dessa rede é feminino, enquanto 55,7% é masculino. Já o perfil relacionado à idade mostra que a média está entre 25 e 34 anos, segundo a Datareportal. Por fim, os indicadores revelam os temas mais buscados no TikTok: humor, 58%; notícias, 34%; e 27% para acompanhar a rotina das celebridades, de acordo com a publicação da B&P Growth Tank.
Até o início deste ano, o Brasil possuía 92 milhões de usuários no TikTok
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4. O que acontece com o corpo durante esse tempo de uso?
O excesso de tempo conectado ao celular e às redes sociais pode estar cobrando um alto preço à saúde física e mental das pessoas. Os problemas são inúmeros, desde disfunções mentais, como ansiedade e depressão, até condições oftalmológicas e ortopédicas podem acometer quem fica o tempo todo conectado às redes. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), Dr. Bruno Pontes, ficar muitas horas diante das telas pode provocar sintomas como ardência nos olhos, sensação de cansaço e dores de cabeça.
“Além disso, essa exposição pode causar fadiga ocular digital (antigamente chamada de síndrome da visão do computador), associada ao ressecamento ocular.” — Dr. Bruno Pontes, diretor da SBO.
Se você passa horas navegando pelas redes sociais, é bem possível que sinta ardência e desconforto nos olhos
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Especialistas alertam também sobre os riscos de doenças que resultam da má postura e de longos períodos diante das telas, seja do computador, tablet ou celular. A especialista em coluna e diretora da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Dra. Maria Fernanda Caffaro, destaca que a alteração postural, especialmente durante o uso do smartphone, tende a ocasionar dores e desconforto em algumas partes do corpo.
“O pescoço fica inclinado em direção ao aparelho, assim como o tronco […] essa alteração postural ao longo de várias horas e por dias pode acarretar dores musculares nas regiões do pescoço, do tronco, podendo afetar também os ombros.” — Dra. Maria Fernanda, diretora da SBOT.
A especialista em coluna afirma, ainda, que estudos antigos já associam a postura inadequada durante o uso de desktop, notebook, tablet e celular – além do ato de digitar por muitas horas sem descanso –, a casos de tendinite nos punhos e dedos por conta do teclado; já no que se refere ao celular, tendinite principalmente na região do polegar.
Doenças posturais e casos de tendinite podem estar relacionados ao excesso tempo no computador ou celular
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Em tempos de amplos debates em torno da saúde mental, é fundamental ajustar a rotina e adotar algumas medidas profiláticas para não ser acometido por doenças e transtornos. Nesse sentido, o médico neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, fundador e diretor do Centro de Cefaleia São Paulo, Dr. Mario Peres, “o acesso diário e prolongado às redes sociais pode afetar diferentes funções cerebrais e comportamentos, tais como a atenção, a memória, a tomada de decisão, o controle inibitório, gerando mais compulsões, ansiedade, depressão e comparação social negativa”.
“Vários estudos apontam que o tempo excessivo de tela (>3–4 horas/dia em redes sociais) está associado à maior prevalência de sintomas depressivos, distúrbios de ansiedade, pior qualidade do sono, e até maior risco de suicídio.” — Dr. Mario Peres, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
O sono também é afetado pela exposição prolongada às telas, e um dos vilões é a luz azul emitida pelo aparelho. Por isso, Dr. Mario Peres confirma que “a luz azul emitida pelas telas (especialmente à noite) inibe a secreção de melatonina, hormônio regulador do sono, o que pode atrasar o início do sono, reduzir sua profundidade e fragmentar o ciclo circadiano”.
O uso prolongado das redes sociais pode afetar diferentes funções cerebrais
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5. Há formas de reduzir os impactos sem abandonar o uso do app?
Nem tudo está perdido. É possível adotar alguns cuidados para preservar a saúde sem precisar abandonar os aplicativos de redes sociais. Nesse sentido, Dr. Bruno Pontes, diretor da SBO, dá algumas dicas para manter a saúde dos olhos:
Seguir a regra 20-20-20: a cada 20 minutos, desviar o olhar da tela e direcioná-lo a um ponto ou objeto a mais ou menos 6 metros de distância por 20 segundos.
Manter a tela entre 50 a 70 cm de distância e ligeiramente abaixo da linha dos olhos.
Piscar conscientemente mais vezes.
Usar lubrificantes oculares sem conservantes se necessário.
Evitar o uso intenso de telas 1 a 2 horas antes de dormir.
Evite usar celular de 1 a 2 horas antes de dormir para preservar a saúde dos seus olhos
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Ele também explica que é preciso atenção ao tempo de exposição às telas. “Até 2 horas contínuas sem pausa já pode causar sintomas, como fadiga ocular e ressecamento. O ideal é fracionar o uso ao longo do dia, sempre com intervalos”, reforça o diretor da SBO.
“Em relação a crianças e adolescentes, a Academia Americana de Pediatria recomenda, no máximo, 2 horas diárias de lazer em telas. Já para menores de 2 anos recomenda-se evitar telas (exceto videochamadas com familiares).” — Dr. Bruno Pontes.
Para evitar dores e inflamações na coluna e nas articulações, por exemplo, a especialista em coluna Dra. Maria Fernanda Caffaro afirma que, além da atividade física regular equilibrada e do alongamento, é importante que a estação de trabalho seja adequada e ergonômica. “Fazer pausas durante o dia, levantar-se da estação de trabalho para se alongar e mudar a postura no decorrer do dia também são ações importantes”, reforça a diretora da SBOT.
Organize a estação de trabalho de forma a manter a postura adequada no decorrer do dia
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As orientações do fundador e diretor do Centro de Cefaleia São Paulo, Dr. Mario Peres, incluem evitar usar as telas à noite, especialmente próximo do horário de dormir, fazer pausas e manter uma rotina de atividades físicas e sociais para preservar a saúde mental. Ainda, reitera que o ideal é que adultos acessem suas redes sociais por até 2 horas por dia; já crianças e adolescentes, de 1 a 2 horas por dia, sempre sob monitoramento dos responsáveis.
Com informações de Statista, Opinion Box, Datareportal, Exploding Topics, Search Logistics, B&P Growth Tank, Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
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