Mesmo após sua partida precoce em 2021, Marília Mendonça continua sendo uma das vozes mais marcantes da música brasileira. Sua presença ainda ecoa nas rádios, nas playlists e, agora, em uma polêmica envolvendo um pen drive que guarda mais de uma centena de gravações inéditas.
O dispositivo, compilado por Juliano Soares, conhecido como Tchula — parceiro de composição e amigo próximo da artista — tornou-se o centro de um impasse entre família, gravadora e empresários.
Foto: Reprodução / Instagram / @mariliamendoncacantora
Segundo informações reveladas no podcast Marília – O Outro Lado da Sofrência, produzido pelo portal G1, o conteúdo do pen drive inclui cerca de 110 arquivos, entre rascunhos, gravações de voz e violão, além de composições próprias e de outros artistas. Esse acervo representa não apenas uma oportunidade de manter viva a obra da cantora, mas também uma fonte de divergências sobre como e quando esse material deve ser lançado.
“A ideia é trabalhar 10 músicas por ano. Existem coisas para 20 anos, com folga”, revelou Wander Oliveira.
A proposta seria divulgar cerca de 10 músicas por ano, mantendo o legado da artista em constante renovação. No entanto, Wander também declarou que abriu mão de seus direitos sobre o conteúdo do pen drive, defendendo que o dispositivo deveria pertencer exclusivamente a Léo, filho de Marília Mendonça e seu único herdeiro. Para ele, o pen drive representa a história da mãe de Léo e deveria ser entregue ao menino quando ele tiver maturidade para decidir o que fazer com o material.
Apesar da intenção de preservar o conteúdo como uma herança afetiva, o advogado da família, Robson Cunha, apresentou uma visão diferente. Segundo ele, todo o material produzido por Marília Mendonça em vida já pertence à gravadora Som Livre, conforme contrato firmado em 2019. Cunha confirmou que há negociações em andamento para incluir os arquivos do pen drive nos próximos lançamentos da artista, negando qualquer acordo prévio sobre manter o conteúdo apenas como memória pessoal.
Marília Mendonça: os contratos da artista
A situação se complica ainda mais com a necessidade de assinatura de contratos por Murilo Huff, pai de Léo, que representa legalmente o filho. Sem essa formalização, os projetos futuros ficam estagnados, mesmo com o interesse da gravadora em avançar. Cunha acredita que esse processo será resolvido em breve, permitindo que novas músicas de Marília Mendonça cheguem ao público.
Esse não é o primeiro episódio em que decisões sobre o legado da cantora geram controvérsia: um exemplo recente foi o lançamento de um dueto póstumo entre Marília e Cristiano Araújo, criado digitalmente. A iniciativa partiu da família, mas não contou com o apoio de Wander Oliveira, que afirmou que, se tivesse sido consultado, teria se posicionado contra. Ainda assim, respeitou a vontade dos familiares e não impediu o lançamento.
O caso do pen drive levanta questões profundas sobre os limites entre o direito autoral, a memória afetiva e os interesses comerciais. De um lado, há o desejo de manter viva a obra de uma artista que marcou a música brasileira. De outro, existe a preocupação com o respeito à sua imagem, à sua história e à autonomia de seu herdeiro.
A ausência de consenso entre os envolvidos mostra como o legado de Marília Mendonça transcende a música, tornando-se um símbolo de disputa entre preservação e exploração.
Enquanto os acordos não são firmados, fãs aguardam ansiosamente por novidades. A expectativa é que, com o tempo, as partes envolvidas encontrem um caminho que honre a trajetória da cantora e respeite os sentimentos de quem mais a amava. Afinal, cada verso deixado por Marília Mendonça carrega não apenas talento, mas também emoção, verdade e uma conexão profunda com o público.
O pen drive, mais do que um simples objeto, tornou-se um emblema da complexidade que envolve o pós-vida de artistas tão influentes. E, nesse cenário, a música de Marília Mendonça continua viva — esperando o momento certo para tocar mais uma vez os corações brasileiros.