Ivete Sangalo e o Pagode Genérico em “Clareou”
O álbum ao vivo “Clareou” de Ivete Sangalo é uma obra que busca conectar a cantora baiana com o samba de Clara Nunes, mas acaba por apresentar uma conexão artificial com o gênero. A intenção de Ivete é clara: buscar uma legitimidade para a turnê do show “Clareou” citando nominalmente bambas do samba do Brasil, como Clara Nunes, Beth Carvalho, Clementina de Jesus, Candeia e João Nogueira.
No entanto, a audição do álbum mostra que Ivete opta por um pagode genérico, mais trivial e sem alma, que nada tem a ver com o pagode semeado no Rio de Janeiro nos anos 1970 e 1980. Esse tipo de samba é o dominante no álbum e no show de Ivete, que parece surfar na onda do sucesso dos shows de pagode de nomes como Thiaguinho, Péricles e Ludmilla.
- Ivete convida nomes como Péricles e Belo para participar do álbum, mas as interpretações ficam abaixo do potencial da cantora.
- A celebração do repertório de Benito Di Paula é ignorada, com Ivete cantando sambas-canção de forma exteriorizada e sem condizente com a letra.
- O álbum termina com a música-título “Clareou”, um samba solar que junta Thiaguinho e Negra Li.
Em resumo, “Clareou” é mais um disco/show que mostra Ivete Sangalo atenta aos sinais e em sintonia com as tendências do mercado, mas é preciso dissociar o álbum de Clara Nunes e do samba de outra cepa. Ivete é uma cantora vocacionada para o palco, com carisma e habilidade para se adaptar ao mercado, mas é importante não confundir o pagode genérico com o samba autêntico.
Portanto, o álbum “Clareou” é uma obra que busca se conectar com o samba, mas acaba por apresentar uma visão superficial e comercial do gênero. É um exemplo de como a música pode ser influenciada pelas tendências do mercado, mas também é importante lembrar que a autenticidade e a alma do samba não podem ser substituídas por uma abordagem genérica e superficial.
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