Entre a próxima quinta (4) e domingo (7), Fortaleza (CE) receberá a esquadra de treinamento da Força Marítima de Autodefesa do Japão, em celebração aos 130 anos de amizade entre Brasil e Japão.
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Após passar por Santos (SP) e pelo Rio de Janeiro, em agosto, a esquadra chega à capital cearense como parte de uma navegação transoceânica de instrução destinada à formação de futuros oficiais. Além do caráter técnico, a visita reforça o propósito de estreitar laços diplomáticos e culturais entre as duas nações.
Navios históricos
Sob o comando do Contra-Almirante Hiroshi Watanabe, os navios JS Kashima e JS Shimakaze atracarão no Porto de Fortaleza às 9h da manhã do dia 4 de setembro.
Construído em meados dos anos 1990 exclusivamente para treinamento, o JS Kashima nunca participou de combates. Com 143 metros de comprimento e 18 metros de largura, o navio atinge velocidade de até 25 nós (cerca de 46 km/h) e pode acomodar até 370 militares.
Já o JS Shimakaze é um contratorpedeiro que pode alcançar 30 nós (56 km/h) e possui capacidade para transportar um helicóptero. Com 150 metros de comprimento e 16 metros de largura, atuou em missões nacionais antes de ser convertido em navio de treinamento, em 2021.
A passagem da esquadra por Fortaleza tem relevância estratégica: desde a Segunda Guerra Mundial, a cidade funciona como ponto de ligação marítima entre o Brasil, a Europa e os Estados Unidos. É o que destaca o economista Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais e CEO da Amero Consulting.
“Atualmente, Fortaleza recebe cabos submarinos de todo o mundo, tornou-se um grande centro de data centers, e o Ceará é um dos principais polos de desenvolvimento de energias renováveis, como solar, eólica e hidrogênio verde, áreas de grande interesse também para os japoneses”, contextualiza.
O Capitão dos Portos do Ceará, Capitão de Mar e Guerra Bruno Emilião Pinto, participará da recepção aos navios como representante da Marinha do Brasil, além do Embaixador do Japão no Brasil, Teiji Hayashi, e do Cônsul-Geral do Japão no Recife, Masami Ohno.
Entre os dias 04 a 07 de setembro, estão programadas diversas atividades na capital cearense entre a Marinha do Brasil e a Esquadra Japonesa, incluindo um cerimonial de Honra à Terra Brasileira, que será realizado às 10h da quinta-feira (04).
Significado da celebração no cenário internacional
Para Lucena, a celebração de 130 anos de amizade reforça não apenas o aspecto cultural, mas econômico e social das nações. “O fato de que o mundo está extremamente polarizado, e principalmente de que estamos assistindo a uma visão muito unilateral dos Estados Unidos, que inclusive gera problemas com os japoneses, eu acho que reforça a visão do Brasil e do Japão de multilateralidade e de que a diplomacia tradicional ainda tem valor, apesar da situação que o mundo vive”, afirma.
Segundo o economista, a relação entre Brasil e Japão é marcada por uma forte troca cultural e histórica, já que os povos dos dois países sempre mantiveram fluxos de ida e vinda ao longo das décadas. Para ele, os pontos centrais dessa parceria estão ligados ao avanço em novas tecnologias, à estratégia conhecida como Japan Inside — voltada à criação e expansão de mercados consumidores — e ao desenvolvimento de carros movidos a hidrogênio, que também reforça a competitividade frente a potências como China e Estados Unidos.
Lucena destaca ainda a recente dispensa de vistos entre Brasil, Japão e Estados Unidos, medida que deve estimular o turismo e abrir mais espaço para cooperação em áreas como gastronomia e educação nos próximos anos.
Não por acaso, o Brasil abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão, estimada em até 2,7 milhões de pessoas. “Vale lembrar que parte da história econômica e do desenvolvimento brasileiro foi construída também pelos japoneses”, comenta. “Os descendentes japoneses somam aproximadamente 1,5 a 2% da população brasileira, o que é extremamente significativo”.