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Entenda o que acontece com seus espermatozoides ao passar muito tempo no celular


Estudos científicos recentes, que também vêm sendo citados por reportagens e publicações nas redes sociais, apontam que o uso excessivo do celular pode ter um impacto negativo na fertilidade masculina, reduzindo a quantidade e a qualidade dos espermatozoides no sêmen. No entanto, embora gere preocupação em muitos homens, a possível relação entre o celular, presente de forma constante no nosso dia a dia, e o risco de infertilidade ainda é tema de debate entre especialistas, que estão longe de chegar a um consenso.
Se você está preocupado consigo mesmo ou com algum homem que passa horas no celular, entenda, nesta reportagem, o que já se sabe sobre o assunto. O que dizem as pesquisas? Qual é o tamanho do risco? E qual a explicação por trás dos números? Confira a seguir.
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Celular no bolso afeta espermatozoides e fertilidade masculina? Descubra
Reprodução/IA/ChatGPT
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Entenda as origens da polêmica
A ideia de que o uso de eletrônicos pode prejudicar a espermatogênese (geração de espermatozoides nos testículos) está diretamente relacionada ao calor gerado pelos aparelhos, seja através do aquecimento do dispositivo em si, ou pela emissão das ondas eletromagnéticas, que poderiam interagir com as células humanas e gerar um aumento da temperatura interna do corpo.
Esse aquecimento poderia ser prejudicial porque a espermatogênese é altamente sensível à temperatura, ocorrendo de forma ideal entre 34 e 35 °C, ou seja, entre 2 a 4 °C abaixo da temperatura corporal média. Qualquer elevação tende a prejudicar o processo, reduzindo a quantidade e a qualidade dos espermatozoides.
O médico especialista em fertilidade e reprodução assistida Alessandro Schuffner explica que as primeiras pesquisas sobre a relação entre eletrônicos e fertilidade foram realizadas há cerca de duas décadas. Na época, com celulares ainda não tão disseminados, a preocupação era o uso excessivo do laptop sobre o colo. Desde então, diferentes estudos vêm analisando a questão.
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O que dizem as pesquisas?
Diversas pesquisas, conduzidas em várias partes do mundo, já buscaram analisar a relação entre o uso de celular e a fertilidade masculina. Podemos citar como exemplos dois trabalhos recentes, que ganharam destaque na mídia e reacenderam a discussão sobre o tema. São eles:
Um estudo da Universidade de Genebra, na Suíça, com 2.886 homens recrutados para o exército, que mostrou que a concentração média e a contagem total de espermatozoides foram significativamente menores em homens que relataram usar o celular mais de 20 vezes por dia, na comparação com aqueles que acessam menos o aparelho.
Um estudo da Universidade de Calcutá, na Índia, que fez um mapeamento genético e analisou o efeito da radiação eletromagnética de celulares em mais de 1300 homens: 708 com problemas de fertilidade e 640 férteis. A pesquisa descobriu que portadores de determinadas mutações apresentaram risco 10 vezes maior de desenvolver azoospermia, ou seja, ausência de espermatozoides no sêmen.
Um olhar atento sobre essas pesquisas, no entanto, logo revela que ambas são bastante específicas. O estudo suíço, por exemplo, só contou com homens jovens, entre 18 e 23 anos, e de contextos relativamente similares. Já o trabalho indiano focou em indivíduos com variações genéticas raras. Por isso, apesar da repercussão, essas pesquisas não necessariamente são as melhores para compreender o tema.
Uma opção mais rigorosa, do ponto de vista científico, é verificar o que dizem as meta-análises: estudos que reúnem os resultados de diversos outros trabalhos para identificar tendências mais gerais. Veja alguns dos resultados mais recentes:
Estudo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, em colaboração com uma clínica brasileira, analisou 10 trabalhos anteriores, totalizando 1.492 amostras de sêmen. Ela mostrou que a exposição a celulares reduziu a movimentação dos espermatozoides em cerca de 8% e a viabilidade em cerca de 9%. No entanto, não foi identificado um efeito claro na concentração de espermatozoides
Estudo da Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul, analisou 18 pesquisas com 4.280 amostras. Os cientistas concluíram que o uso de celular está relacionado a resultados piores na movimentação, na viabilidade e na concentração dos espermatozoides. O trabalho, no entanto, não conseguiu identificar uma relação clara entre o tempo de uso e a proporção dos danos.
Estudo da Universidade de Boston, nos EUA, em parceria com outras instituições americanas e da Dinamarca, acompanhou 3.100 homens que tentavam ter filhos e concluiu que, no geral, carregar o celular no bolso não reduz as chances de gravidez. Efeitos negativos foram notados apenas em homens com baixo índice de massa corporal. A análise da qualidade do sêmen também não mostrou mudanças claras.
O que esses resultados significam?
Mesmo com os estudos que apontam riscos e com a possibilidade já conhecida de prejuízos à espermatogênese por causa do calor, o médico Alessandro Schuffner é categórico ao afirmar que ainda não há consenso quanto ao efeito de celulares e outros eletrônicos na fertilidade masculina. Isso quer dizer que, por ora, ainda não é possível afirmar com certeza que os celulares causam danos aos testículos — muito menos quantificar esse possível efeito negativo.
Essa indefinição se deve a alguns motivos. O primeiro é que as pesquisas muitas vezes apresentam conclusões divergentes. Além disso, elas podem ter resultados influenciados por questões alheias ao controle dos cientistas.
A medicina é complexa. São feitos vários trabalhos e alguns mostram que sim, há impactos, mas outros não. Existem muitos vieses e fatores de confundimento, como chamamos”
Também é importante destacar que, em pesquisas científicas, a correlação não significa, necessariamente, causalidade. Ou seja: um estudo pode até constatar que os homens que utilizam muito o celular produzem menos espermatozoides, mas essa descoberta, por si só, não é suficiente para provar que o celular é o causador do problema de fertilidade.
Qual é a recomendação médica em relação a celulares e fertilidade masculina?
Dr. Alessandro Schuffner destaca que, diante das evidências atuais, não há um consenso que determine recomendações quanto ao uso de celular.
Nenhuma entidade médica afirma que devemos orientar um homem, por exemplo, a ficar sem celular no bolso, ou sem celular durante o carregamento, ou mesmo sem falar ao celular ”
Assim, a recomendação para os homens que já enfrentam ou têm receio de desenvolver problemas de fertilidade é buscar orientação com um urologista, andrologista ou especialista em medicina reprodutiva. Esse profissional será capaz de identificar e tratar, caso a caso, um conjunto de fatores e problemas de saúde que comprovadamente impactam na fertilidade masculina, como veremos a seguir.
Celular pode afetar a fertilidade masculina?
Reprodução/Pexels
O que pode explicar a baixa fertilidade dos homens?
A infertilidade masculina pode ter uma série de causas. Entre as mais comuns estão síndromes genéticas, doenças que causam desequilíbrio hormonal, lesões ou malformações nos órgãos do sistema reprodutivo e até exposição a produtos químicos, a certos tipos de medicamentos ou à radiação.
Para a maioria dos homens que não sofrem com alguma dessas condições, uma boa saúde geral costuma se refletir em uma produção de espermatozoides com maior quantidade e melhor qualidade. Nesse sentido, o estilo de vida saudável faz toda a diferença. Entenda como alguns maus hábitos podem prejudicar a fertilidade masculina:
Fumo: o tabaco contém toxinas que danificam o DNA dos espermatozoides e reduzem sua movimentação, dificultando a formação de embriões saudáveis.
Álcool em excesso: diminui a produção de testosterona e prejudica a formação dos espermatozoides, além de causar disfunção erétil.
Sedentarismo: o hábito de passar muito tempo sentado pode, comprovadamente, levar ao prejuízo pelo excesso de calor nos testículos. Também está relacionado ao excesso de peso.
Obesidade: aumenta a produção de hormônios femininos e inflamação no corpo, reduzindo a produção e a qualidade dos espermatozoides.
Dieta pobre: a falta de nutrientes essenciais pode enfraquecer a produção e a saúde dos espermatozoides.
Estresse: também desequilibra os hormônios ligados à reprodução, prejudicando a produção e a maturação dos espermatozoides.
Drogas: desregulam o metabolismo como um todo e podem afetar também os hormônios relacionados à espermatogênese.
Para o especialista em reprodução humana Alessandro Schuffner, estes maus hábitos são os verdadeiros causadores dos problemas de fertilidade apontados pelas pesquisas citadas anteriormente.
Esse é o grande viés; o grande fator de confundimento desses trabalhos. Imagine uma pessoa que fica um número de horas exagerado no laptop ou celular. A qualidade de vida é horrível. Essa pessoa provavelmente tem sobrepeso, não come adequadamente… tem uma série de hábitos de vida que, esses sim, podem ser muito mais impactantes no que diz respeito à fertilidade. O calor do celular pode até ter algum efeito, mas esses outros fatores são muito mais importantes”
No fim, a correlação entre uso excessivo de celular e infertilidade masculina, encontrada por algumas pesquisas, é provavelmente um indício de um problema maior: a dificuldade em manter hábitos saudáveis. Mas tudo isso ainda precisa ser mais estudado e respostas mais claras podem surgir nos próximos anos. Assim é a ciência.
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Com informações de Fertility & Sterility; PubMed (1), (2), (3); ScienceDaily; SpringerNature; The Times of India e Yale Medicine.