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Dois por um: quando o amor por um cachorro constrói dois lares


Logo após o fim do meu relacionamento, entre as incertezas do recomeço, tomei uma decisão imediata: Nescau seguiria sendo de nós dois. Não era apenas por instinto de cuidado. Ele é meu cachorro caramelo, de 11 anos, que, durante muito tempo, conviveu com uma doença que exigia atenção constante. Eu e meu ex sempre estivemos juntos nesse cuidado – e nada disso desaparece da noite para o dia porque um namoro terminou. Nos dois anos seguintes à separação, escolhi morar perto para poder participar da rotina dele. Com o tempo, passamos a nos ver uma vez por semana – e sigo fazendo questão desse encontro. Porque, sinceramente, não há dia difícil que um cachorro não consiga melhorar. Pelo menos é assim com o nosso marronzão.
E é claro que não estou sozinho. Compartilhar a guarda de pets depois do fim de um relacionamento é cada vez mais comum, e, apesar de demandar diálogo e organização, costuma nascer de um só lugar: o afeto. Assim foi também com o stylist Daniel Ueda, que divide a guarda do chihuahua Guido com o ex-companheiro, o estilista André Boffano, com quem tem uma relação amigável. “A gente combinou que ele ficaria uma semana em cada casa, e foi assim por muito tempo. No fim, virou uma mão na roda: como eu viajo bastante, dava uma tranquilidade saber que ele tinha outra casa segura”, conta. Guido já transitava entre os dois lares desde o namoro – então, para ele, a adaptação foi natural. “Ele tinha uma caminha na minha casa, outra na casa do André, assim como o kit comidinha, o kit tudo”, diverte-se.

Mas nem tudo saiu como o planejado: para lidar com a saudade do Guido, Daniel acabou adotando um novo chihuahua, Ludovico. “Eu ficava morrendo de saudade, aí falei: vou ter um só meu. E quando o Guido vinha, era bom ter outro cachorro como companhia para ele”, explica. Com a recente mudança de cidade de André, Guido passou a viver em tempo integral com Daniel. “Ele e o Ludovico viraram superamiguinhos”, celebra.
A criadora de conteúdo Paulinne Pontarolli também vive rotina similar desde 2022 com o ex-companheiro. “A pior parte da separação para mim foi deixar o [cão] Zero, que era muito mais apegado ao meu ex. Sabia que não dava para separá-los, então quem se mudou sem ele fui eu.” Zero hoje tem uma caixinha com seus pertences e visita Paulinne sempre que o ex viaja. Às vezes, passa só um fim de semana, outras fica até 20 dias. “O meu ex cuida da alimentação, e eu, dos acessórios, caminhas, brinquedos”, diz.
Ocaso da golden retriever Cecília, de 2 anos, é ainda mais organizado. Desde que ela chegou, seus tutores, a personal trainer Janaína Martins e o gerente de contas Michel Garcia, definiramuma rotina: durante a semana coma mãe e, nos fins de semana, com o pai. “Ela tem mochilinha e mala!”, conta Janaína. Michel completa: “Tem mais coisa que eu”. Juntos, eles mantêm uma planilha com custos, vão ao veterinário sempre que possível, e, mesmo com as diferenças de criação (Janaína é mais rígida com adestramento, Michel diz que ela “mima demais”), o cuidado com Cecília vem em primeiro lugar. “A gente pensa no bem-estar dela”, diz Michel.
Muita gente desconhece, mas há leis que amparam o pet neste tipo de situação. “As decisões judiciais têm se baseado em princípios que priorizam o bem-estar do animal, aplicando analogicamente dispositivos do Código Civil que tratam da guarda compartilhada dos filhos, adaptando-os para os pets”, explica a advogada animalista Antilia Reis. “Para a Justiça, embora ainda sejam considerados bens móveis pelo Código, os animais são reconhecidos como seres sencientes, sujeitos de direito e, por isso, a Justiça leva em conta o vínculo afetivo, a capacidade de cuidado e a estabilidade do ambiente. Além disso, é possível formalizar acordos extrajudiciais de guarda compartilhada, que ganham força quando homologados judicialmente.”
Segundo Antilia, “os animais passam a ser vistos como membros afetivos da estrutura familiar multiespécie, com direito à proteção e respeito ao seu bem-estar”. Eu, aqui esperando ansiosamente a hora da próxima visita semanal ao meu marronzão, posso garantir que são mesmo.
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