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De Bratislava para o mundo: Adéla estreia seu pop sem pedir licença


Se você está em um lugar público e prestes a dar o play no clipe de Sex on the Beat de Adéla, talvez seja sábio abaixar o volume primeiro. O vídeo começa com a jovem cantora eslovaca de 21 anos — cabelo tingido de rosa pastel, sobrancelhas descoloridas — simulando um orgasmo diante de um santuário da cultura pop montado no quarto. Escrito em fita adesiva rosa choque: “Sex = pop.” Em seguida, ela assiste a uma masterclass imaginária no YouTube com Christina Aguilera — “Domine sua sexualidade e vire realeza pop em oito semanas!”, canta Aguilera — antes de lançar uma coreografia impressionante, concebida por Robbie Blue (colaborador de Doechii), que inclui a mais ousada aula de aeróbica que você já viu… e tudo isso sobre um homem vestido como funcionário de escritório usando tapa-olho.
Por trás de tudo, está o humor auto consciente de Adéla: uma crítica meta ao mantra “sexo vende” que por décadas dominou o estrelato pop. Ela leva essa ideia ao extremo — subversivo, audacioso — e é impossível não sorrir. “Sou uma pessoa engraçada,” ela diz, durante um Zoom, direto de casa em Los Angeles, com um sorriso tímido. “O humor é como eu lido com as coisas ruins. Te ajuda a não mergulhar na deprê. Sou do Leste Europeu e meio meio… sarcástica.” Ela solta uma risada alta. “Essa é minha vibe.”
Esse espírito audacioso corre por todo o EP de estreia dela, The Provocateur, lançado recentemente — especialmente na capa, que mostra Adéla à luz de um flash ofuscante em um túnel de concreto, levantando a jaqueta de couro como se fosse urinando — uma piscadela irônica à série de fotos cult dos anos 90 Women Pissing, de Sophy Rickett. Enquanto Sex on the Beat oferece uma crítica irônica sobre o lado duplo da fama feminina, outras faixas revelam toda a intensidade de sua veia composicional. Em Death by Devotion, guitarras distorcidas rememoram o NIN, co-produzida por Dylan Brady (100 gecs) e Zhone, e traz a frase deliciosamente absurda: “work the horse, no ketamine.” Já “Finally Apologizin, a faixa de encerramento, é puro pop descarado, com um refrão que parece um canto de parquinho à estilo Gwen Stefani — “You get what you want from me!” — sobre sintetizadores electroclash afiadas.

É uma declaração audaciosa que parece marcar o surgimento de uma estrela pop plenamente formada — ainda mais impressionante quando você descobre que Adéla lançou sua carreira solo há menos de um ano. Pode apostar, vão ter muitas reações. Se Adéla parece (ou soa) familiar, é porque sua carreira solo não foi o primeiro impulso rumo à fama. Em 2022, ela se mudou de Bratislava para Los Angeles para participar de um rigoroso programa de treinamento com a chance de entrar no grupo K‑pop Katseye, tudo documentado em duas séries da Netflix (Dream Academy e Pop Star Academy). Nos programas, Adéla logo se destacou como uma das competidoras mais fortes, colecionando elogios dos jurados e figurando no topo das lideranças — além de se tornar quase uma figura maternal (embora fosse adolescente) para as colegas mais jovens. O público rapidamente a adotou como uma das participantes mais comentadas, superando até algumas finalistas.
Para Adéla, ser “provocadora” significa falar sua verdade — que muitos não querem ouvir. “Desde criança na Eslováquia, sempre tive opiniões diferentes das dos outros, e era muito direta. No programa, pintaram meu perfil como brutal e confrontador, e as reações foram polarizadas. As pessoas ou me amavam ou me odiavam — e agora, curto isso. Prefiro isso do que ser medíocre. Se você não gosta do que faço, ótimo. Por quê? E se gosta, ótimo também. Por quê? Valoriza-se artistas que são autênticos.”
Ao rever o programa, é fácil perceber que Adéla nasceu para ser artista solo — algo que muitos jurados apontavam. “Naquele momento, também senti isso,” ela reflecte. “Mesmo antes de sair do show, já sentia dentro de mim. Foi um processo que precisei entender.” No dia seguinte ao fim das gravações, ela ligou para os pais, que perguntaram se voltaria à Eslováquia. “É claro que não,” ela lembra. “Eles sugeriram faculdade—e eu: ‘Vocês têm que estar brincando?’ Trabalhei por dois anos nisso. Faculdade agora?”
Em vez de se abater, Adéla mergulhou em tudo que pôde. Escreveu Homewrecked inspirada pela música pop que idolatrava em seu quarto — e ao receber Pop Star Academy, aproveitou o burburinho gerado para lançar a faixa de forma independente. Mas foi Superscar, sua segunda faixa autônoma, que a apontou como uma pop auteur em ascensão: um hino furioso que desmonta o modo como a indústria explora artistas jovens — “Shut my lips to speak, stick to your strategy” — e um clipe que mostra seus dotes como dançarina sem medo.
Adéla
Divulgação
É impressionante lembrar que ela fez tudo isso sozinha. “Foi difícil,” ela admite. “Estudei na faculdade em tempo integral, trabalhando em tudo: escrevendo, produzindo, editando clipe, até customizando luvas à noite. Mas acho que isso me mostrou quem eu sou e facilitou minha transição para a gravadora.” Em maio, Adéla assinou com a Capitol Records, tornando The Provocateur seu primeiro lançamento em grande selo. “Sabia que meu projeto não podia ser moldado por gente de gravadora. Eu construí tudo sozinha até aqui — isso me deu respeito.”
Seu stylist e colaborador, Chris Horan — conhecido por sua parceria com Charli XCX — acredita muito nela. “Vi Pop Star Academy e pensei: ‘Essa garota é a estrela’,” diz Horan. Ele ajudou Adéla a incorporar suas raízes eslovacas em sua estética, via referências do Leste Europeu e das modelos “Slavic Doll” dos anos 2000. “Ela tem uma visão clara. É fácil acompanhar.”
Adéla agradece: “Adoro que Chris valorize a narrativa. Não é sobre ser cool, é sobre ter significado.” Para ela, sua origem como imigrante nos Estados Unidos sempre foi vista como um ponto fraco — “por isso aprendi inglês perfeito” — e tê-la valorizado através de seu trabalho foi um momento especial. Ela sabia que, vindo da Eslováquia, a ideia de estrela global soaria absurda para muitos, incluindo sua família — “Não entendi como era possível. Mas, hey… Estamos fazendo acontecer.” E, com sua energia focada e clara, realmente está.
“Estamos fazendo acontecer” até chega a ser modesto. Quando eu conversava com Adéla nas vésperas do lançamento, ela estava nos retoques finais do EP e do vídeo de Sex on the Beat — mas permitiu-se curtir o Lollapalooza em Chicago, para ver a Katseye no palco principal. “Ainda sou amiga de todas do Katseye: sabia que era um momento bombástico e quis estar lá por elas.” E quando será sua vez de subir ao palco? “Quero fazer shows, sem frescura. Não sei como o EP vai ser recebido, mas não ligo. Quero clubs e shows reais. Queria ser tipo Gaga em 2006, montando palco até no estacionamento do Ikea. Essa é minha vibe. E se um dia for maior… melhor ainda.”
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