Nem sempre histórias assombradas por fantasmas e espíritos malignos são histórias inteiramente de horror. Por trás dos sustos que fazem o público pular da cadeira e da energia pesada que passa aquela sensação de que algo parece estar fora do lugar, existe também um lado complexo envolvendo relações humanas e como, independente do risco, somos capazes de fazer tudo para salvar aqueles que amamos em situações de perigo.
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É justamente essa ideia que Invocação do Mal 4: O Último Ritual, filme que conclui a popular saga de terror criada por James Wan (Jogos Mortais) nos cinemas, consolida em pouco mais de duas horas de duração. Sob comando do diretor Michael Chaves, que retorna ao universo da franquia após entregar resultados irrisórios com Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021) e A Freira 2 (2023), o quarto e último filme da saga é aquele tipo de produção angustiante que você só percebe no final que passou o tempo todo tenso, segurando a respiração como se a vida dos personagens dependesse disso.
Mesmo que toda essa adrenalina tente camuflar a mensagem piegas que aparece nas entrelinhas da trama, Invocação do Mal 4 consegue se sobressair ao abraçar o magnetismo de Vera Farmiga (Bates Motel) e Patrick Wilson (Aquaman), que, desde 2013, ano de lançamento do primeiro (e melhor, diga-se de passagem) longa da franquia, provam que, para além dos exorcismos e das entidades malignas, Ed e Lorraine Warren se firmaram na cultura pop justamente por causa da entrega arrebatadora da dupla de atores.
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Um tanto quanto agridoce, a despedida do casal de demonologistas aposta, sem medo de ser feliz, no modelo da “família de comercial de margarina” para encerrar a jornada dos Warren com sustos, referências, dramas familiares e, claro, o bom e velho exorcismo nosso de cada dia. Não é revolucionário, mas entrega uma jornada satisfatória e coerente para uma franquia que sempre se apoiou na força do amor para impulsionar a jornada de seus personagens.
Despedida emocionante dos Warren
Embora esteja nítido desde o primeiro filme, Invocação do Mal 4: O Último Ritual é a prova de como Vera Farmiga e Patrick Wilson são a alma do negócio. Claro que a mão de James Wan, mesmo nos altos e baixos da franquia, também se fez presente ao longo da trajetória da franquia para que o universo idealizado por ele permanecesse de pé.
Aqui, o diferencial em relação aos longas da boneca Annabelle e da temível Freira é que Invocação do Mal conta com todo o carisma transcendental de Farmiga e Wilson na frente das telas, uma dinâmica tão sincera e bem trabalhada que é possível senti-la no ar.
Invocação do Mal 4 não faz nada de novo, e nem parece estar preocupado em inovar sua fórmula, mas a química palpável da dupla de demonologistas é capaz de manter a nossa atenção do começo ao fim. As performances tão naturais e fortes resultam em uma despedida sensível que, além de homenagear a trajetória de Ed e Lorraine Warren até o derradeiro caso do casal, também reforça o comprometimento de ambos com os seus respectivos personagens, independente de qualquer coisa.
Vê-los no quarto e último filme da franquia, então, é a comunhão de tudo que levou o casal de investigadores paranormais até aqui, com suas inseguranças, medos, visões e anseios em relação ao futuro, que agora ganham um novo olhar através de Judy (Mia Tomlinson), a filha da dupla que assume um protagonismo maior em Invocação do Mal 4, quase como numa passagem de bastão.
Esquivando-se de elaborar as menções superficiais (e bastante duvidosas, convenhamos) às discussões sobre ciência e fé, o filme usa o carisma dos Warren, assim como pautas universais acerca do poder da família e do amor, para acompanhar o casal em um último e perigoso caso envolvendo os Smurl, uma família de oito pessoas que alega estar sendo assombrada por espíritos.
Obrigados a voltar à ativa contra a vontade deles, Ed e Lorraine se juntam à filha e o namorado dela, Tony (Ben Hardy), para tentar entender o que está acontecendo na casa dos Smurl. Barulhos estranhos, cheiros fortes e olhos brilhantes no escuro são apenas alguns elementos que passam a compor a rotina da família, que aos poucos vai entrando em pânico à medida que os ataques paranormais se intensificam.
Embora pareçam resistentes a princípio, Ed e Lorraine enxergam através da filha a oportunidade de, mais uma vez, ajudar aqueles que precisam em um momento tão delicado e incompreensível. O problema é que, dessa vez, tudo é mais familiar e pessoal do que eles esperavam.
Assim, no meio dessa bagunça envolvendo espíritos, dramas familiares e uma pitada de alívio cômico (sempre vindas de Ed, claro), Patrick Wilson e Vera Farmiga fazem mágica acontecer na frente das câmeras, apoiando-se na naturalidade da relação construída por ambos para concluir a jornada dos Warren com um final digno para uma franquia que sempre caminhou pelas águas turbulentas da inconsistência.
Chuva de sustos e novelão
Sem tempo para perder, Invocação do Mal 4: O Último Ritual concluiu a jornada de Ed e Lorraine brincando com as possibilidades que o terror tem para oferecer. Sem desperdiçar oportunidades para fazer o público pular da cadeira com jumpscares (algo que acaba tirando um pouco da força do clímax final, mas não se pode ganhar sempre, não é?), o diretor Michael Chaves fez um bom trabalho ao criar aquela atmosfera macabra que antecede um susto de deixar o coração acelerado, a boca seca e a vontade de dormir com as luzes acesas, mesmo que você já tenha conhecimento das engrenagens por trás.
Nada é gratuito: Chaves consegue manter o espectador de olhos bem abertos para encontrar os demônios escondidos em cena, apostando no legado da franquia para explorar o horror de um jeito divertido e descompromissado. Não é inovador, mas, honestamente, ele nem tenta ser, o que não chega a ser exatamente um problema.
Logo, o resultado, embora não seja perfeito, surpreende se levarmos em consideração que Chaves não conseguiu ter o mesmo êxito com Invocação do Mal 3 e A Freira 2. Integrantes do universo da franquia, ambos deixaram muito a desejar com tramas fracas e execuções nem um pouco inventivas que marcaram pontos esquecíveis da saga, uma maldição que Invocação do Mal 4 combater com folga.
Ainda assim, o filme tem seus problemas, como a dificuldade de encontrar um meio-termo para desenvolver o ritmo do enredo. Isso faz com que, mesmo com a agilidade das sequências mais tensas, o restante se prolongue a ponto de atrapalhar a resolução do conflito final, deixando a conclusão clichê ainda mais agridoce com mensagens um tanto cafonas e questionáveis sobre o poder de uma família unida (dá até para sentir uma revirada de olho vindo aí).
Essas questões, no entanto, não incomodam a ponto de atrapalhar a experiência de sentar na poltrona de uma sala de cinema para acompanhar o último caso de Ed e Lorraine Warren. Chegando ao fim dessa jornada (até onde sabemos), a dupla de investigadores sobrenaturais mostra que ainda tem fôlego para encarar demônios perturbadores, entidades malignas e forças paranormais que parecem não ter explicação. Tudo em nome do amor, e não há nada mais universal do que isso, até mesmo em uma história que explora o que se esconde nos cantos escuros da nossa casa.
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