A voz de Marília Mendonça levou “Leão” ao topo: a música se tornou a mais ouvida pelos brasileiros na última década, consolidando um marco histórico da era digital da música. Por trás do hit, está o rapper Xamã, responsável pela composição da faixa, originalmente lançada em 2020 no álbum Zodíaco.
Na versão original, “Leão” é um R&B romântico, mas foi a interpretação de Marília que transformou a música em fenômeno. Um quinto episódio do podcast Marília – O outro lado da sofrência mergulha na história da canção e no impacto dos lançamentos póstumos da cantora, revelando também os bastidores da gestão do seu legado.
Em entrevista ao g1, Xamã recordou a parceria com a amiga: “Ela criou uma textura diferente para a música. No jeito de interpretar, a Marília vestia a música como uma roupa, parecia parte dela.” O primeiro contato dos dois aconteceu pelas redes sociais, quando a cantora comentou uma prévia de uma música de Xamã: “Na hora achei que era fake”, confessou o rapper.
A colaboração aconteceu pouco depois que Xamã escreveu “Leão” em um estúdio no Rio de Janeiro. Ele convidou Marília por acreditar que a música combinaria com seu signo — leonina, como ela costumava dizer, embora na realidade fosse canceriana. “Mandei um rascunho para ela, muito inseguro, porque era a Marília”, lembrou o cantor.
Marília gostou tanto da composição que, em 2021, criou uma segunda versão da música, agora com batida de arrocha, apresentada na live Serenata. Essa versão entrou no álbum póstumo Decretos Reais, lançado em 2023, e rapidamente se tornou a versão definitiva do sucesso. “Nunca imaginei que alguém faria uma versão assim, tão envolvente”, comentou Xamã, acrescentando que o público acabou se apaixonando ainda mais pelo balanço da adaptação.
A perda da amiga impactou profundamente Xamã. Ele conversou com Marília poucos dias antes do acidente que tirou a vida da cantora e, após a tragédia, ficou um ano sem cantar “Leão” em seus shows. “Não gosto de fazer show estando triste”, explicou.
Hoje, o rapper reconhece que a parceria mudou sua carreira. “Muitas pessoas conheciam minha voz, mas não sabiam quem eu era. A Marília me apresentou a um público novo e ainda ajudou a derrubar barreiras entre estilos musicais. Ela curtia rap, experimentava outros gêneros e fazia tudo parecer natural”, concluiu.
Marília Mendonça: quantidade de músicas inéditas surpreende
Mesmo após sua partida precoce em 2021, Marília Mendonça continua sendo uma das vozes mais marcantes da música brasileira. Sua presença ainda ecoa nas rádios, nas playlists e, agora, em uma polêmica envolvendo um pen drive que guarda mais de uma centena de gravações inéditas.
O dispositivo, compilado por Juliano Soares, conhecido como Tchula — parceiro de composição e amigo próximo da artista — tornou-se o centro de um impasse entre família, gravadora e empresários.
Segundo informações reveladas no podcast Marília – O Outro Lado da Sofrência, produzido pelo portal G1, o conteúdo do pen drive inclui cerca de 110 arquivos, entre rascunhos, gravações de voz e violão, além de composições próprias e de outros artistas. Esse acervo representa não apenas uma oportunidade de manter viva a obra da cantora, mas também uma fonte de divergências sobre como e quando esse material deve ser lançado.
“A ideia é trabalhar 10 músicas por ano. Existem coisas para 20 anos, com folga”, revelou Wander Oliveira.
A proposta seria divulgar cerca de 10 músicas por ano, mantendo o legado da artista em constante renovação. No entanto, Wander também declarou que abriu mão de seus direitos sobre o conteúdo do pen drive, defendendo que o dispositivo deveria pertencer exclusivamente a Léo, filho de Marília Mendonça e seu único herdeiro. Para ele, o pen drive representa a história da mãe de Léo e deveria ser entregue ao menino quando ele tiver maturidade para decidir o que fazer com o material.
Apesar da intenção de preservar o conteúdo como uma herança afetiva, o advogado da família, Robson Cunha, apresentou uma visão diferente. Segundo ele, todo o material produzido por Marília Mendonça em vida já pertence à gravadora Som Livre, conforme contrato firmado em 2019. Cunha confirmou que há negociações em andamento para incluir os arquivos do pen drive nos próximos lançamentos da artista, negando qualquer acordo prévio sobre manter o conteúdo apenas como memória pessoal.