Como drones de guerra migraram da Ucrânia para o crime no Brasil
A guerra na Ucrânia iniciada em 2022 consolidou-se como o maior laboratório de inovação em veículos aéreos não tripulados (VANTs) da história, transformando drones comerciais baratos em armas letais de alta eficácia. As táticas, técnicas e procedimentos desenvolvidos e aprimorados nesse conflito transbordaram para o mundo, sendo rapidamente assimilados por atores não estatais, de cartéis mexicanos a facções brasileiras.
Os grupos de voluntários e entusiastas de tecnologia, como a notória organização Aerorozvidka, começaram a adaptar drones comerciais para missões de vigilância e reconhecimento, direcionando fogo de artilharia com precisão devastadora. A evolução para o uso ofensivo foi orgânica e engenhosa, com os mesmos drones sendo modificados para transportar e soltar granadas, explorando a vulnerabilidade da blindagem superior de tanques.
O laboratório ucraniano: um manual de guerra “open source”
O ponto de virada tático foi a ascensão do drone FPV (First-Person View), originalmente projetados para corridas amadoras, que foram transformados em mísseis guiados de baixo custo. Com um custo de poucas centenas de dólares, um drone FPV carregado com explosivos podia neutralizar um ativo militar de milhões, estabelecendo uma nova e brutal assimetria econômica no campo de batalha.
A disseminação global desse conhecimento foi rápida, com vídeos de combate, tutoriais de modificação e discussões táticas sendo amplamente compartilhados em diversas plataformas, criando um “manual de instruções” de código aberto para a guerra de drones. O que foi aperfeiçoado na Europa Oriental tornou-se acessível a qualquer grupo no mundo, fornecendo um roteiro detalhado para a militarização de tecnologia civil.
A resposta do Estado: uma corrida contra o tempo
A escalada pegou o Estado em uma posição reativa, forçando uma corrida para desenvolver respostas em múltiplas frentes. No Congresso, projetos de lei buscam tipificar como crime específico o uso de drones por organizações criminosas, com penas de até doze anos de reclusão. No campo operacional, a demanda é pela criação de uma doutrina nacional para o enfrentamento da ameaça aérea.
A tecnologia mais promissora é a de “take-over” ou “soft-kill”, como o sistema EnforceAir, que permite assumir o controle do drone invasor e pousá-lo em uma área segura, neutralizando a ameaça sem risco colateral. Essa tecnologia pode devolver a vantagem tática às forças de segurança.
A verticalização do conflito urbano é uma realidade irreversível. A inação ou uma resposta fragmentada permitirá que o poder aéreo se consolide nas mãos do crime organizado, com consequências imprevisíveis para a segurança pública e a estabilidade do Estado.
- Os drones comerciais são modificados com “garras” ou ganchos que podem ser comprados por apenas R$ 120 para soltar cargas explosivas por controle remoto.
- Programadores desbloqueiam as limitações de software dos fabricantes, permitindo que os aparelhos voem a altitudes e distâncias muito maiores, tornando a localização do operador extremamente difícil.
- A ampla visibilidade do ataque representa um catalisador para a proliferação da tática, com o risco de que outros grupos criminosos queiram “fazer igual”, elevando o nível da ameaça.
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