No Brasil, todo mundo tem uma história com brigadeiro. Mas poucos podem dizer que essa história começa na cozinha da própria bisavó. Christiane Pelajo pode – e vai além. Bisneta de Heloísa Nabuco de Oliveira, a mulher que criou o doce mais amado do país, ela também é uma das jornalistas mais respeitadas da sua geração, e hoje, à frente do Times Brasil – CNBC, comanda a narrativa de um novo Brasil conectado à inovação, à tecnologia e, claro, ao protagonismo feminino. Em uma conversa com a coluna, ela fala sobre reinvenção, coragem, redes de apoio, ancestralidade empreendedora e o que é, de fato, sucesso. “Eu não consigo imaginar o sucesso isolado, o sucesso individual”, diz. “É sempre ter pessoas junto que almejam a mesma coisa.” Confira o bate-papo abaixo:
Liliane Rocha: O Brasil conhece a jornalista e apresentadora Christiane Pelajo, suas credenciais falam muito sobre você, mas não falam tudo (e nem devem). O que você gostaria que todos soubessem sobre você? Quem é Chris?
Chris Pelajo: Eu sou uma pessoa muito intensa, tenho muita energia e eu mergulho profundamente em todos os projetos que eu resolvo abraçar.  Isso também acontece no meu trabalho. Eu já faço o que eu faço há 30 anos, mudei em alguns momentos. Depois de 26 anos de empresa, na TV Globo, mudei. E agora eu estou no Times Brasil – CNBC.  No meio do caminho, entre a saída da Globo e a entrada na CNBC, eu fiquei dois anos empreendendo, e aí eu conheci uma outra “Chris”, porque eu te confesso, e nunca falei isso para ninguém: Eu nunca me imaginei como uma empreendedora! No entanto, essa ideia já vinha de alguns anos, desde o momento em que eu tive um câncer, em 2017. Um diagnóstico de um câncer é um soco no estômago. Então eu resolvi entrar num processo de autoconhecimento muito profundo.
Liliane Rocha: Como você lidou com o câncer?
Chris Pelajo:  O primeiro médico que eu fui disse que havia 70% de chance de ser um tumor maligno. Liliane, eu sou muito prática, eu sou muito pragmática! Então, eu virei para o meu marido e falei: “Estamos lidando com um câncer”. Só que eu tive muita sorte, porque o câncer estava completamente encapsulado. Eu fiz a cirurgia robótica, o médico tirou um terço do meu rim direito, mandou para a análise, e realmente era um tumor maligno, não precisei fazer mais nada. Não precisei fazer rádio, não precisei fazer quimio, nada disso. Mas o diagnóstico já é um soco no estômago. Como eu te falei, por isso que eu mergulhei nesse processo todo.
A partir dessa cirurgia robótica, eu me encantei com tecnologia na área da saúde. E aí, assim que eu voltei para o ar, eu propus uma série de reportagens sobre tecnologia na área da saúde e procurei várias novas tecnologias para a gente trazer novidades na área da saúde. A primeira matéria que eu fiz foi sobre o “Da Vinci”, que é o nome do robô que me operou. Eu acompanhei como repórter uma cirurgia robótica. Era um caso de câncer de próstata, em que é muito utilizado o robô, e acompanhei a cirurgia inteira para trazer em detalhes como ela funcionava.
Liliane Rocha: Neste atual momento da sua vida, Chris, o que você sabe com certeza e o que você ainda pretende descobrir?
Chris Pelajo: Que é importante entrar nesse universo de tecnologia e conseguir conciliar com a comunicação. É algo que eu nunca pensei que fosse possível! Como eu falei para você, foi só a partir do momento que eu entrei numa sala cirúrgica e fui operada por um robô que eu me encantei, eu sempre gostei de tecnologia. Mas, não era algo que: “Ah, eu quero mergulhar nisso”. Eu passei a querer mergulhar nesse universo quando fui operada por um robô.
Para poder explicar tecnologia e inovação para as pessoas, você tem que, de fato, ter uma comunicação eficaz. Você tem que ter uma comunicação assertiva. Você tem que saber comunicar aquilo. Então isso é algo que, de fato, faz diferença para mim e disso eu tenho certeza.
Liliane Rocha: Chris, este mês estamos celebrando 80 anos da história do brigadeiro. Quando você pensa na sua bisavó, a mulher que criou o brigadeiro, você sente que, de alguma forma, a força e a estratégia dela se transformaram no tempero invisível que tempera também a sua coragem diante das câmeras?
Chris Pelajo: Sem dúvida nenhuma, eu tenho muito da minha bisavó! A gente chamava a minha bisavó de vovozinha. Ela era, de fato, uma mulher muito corajosa. Você imagina: uma mulher com três filhas meninas, na década de 30 que se separou. Ninguém se separava na década de 30. E ainda teve que se virar para conseguir criar as filhas sozinha, porque o meu bisavô não ajudou em nada. Então, ela parou para pensar: “O que eu sei fazer bem? Eu sei cozinhar”. Ela cozinhava salgado muito bem também, mas resolveu mergulhar nos doces. E aí virou uma das maiores doceiras do Rio de Janeiro.
 Era sempre chamada para fazer doces para casamentos, aniversários, eventos. Em 1945, ela foi chamada para fazer os doces de um evento em homenagem ao então candidato à presidência da República, Brigadeiro Eduardo Gomes. Quando estava fazendo os doces, ela pensou: “vou criar um doce e vou colocar o nome de Brigadeiro, em homenagem a ele”. E assim surgiu o brigadeiro! O brigadeiro nasceu no dia 10 de setembro de 1945.
Eu achava que não tinha o DNA de empreendedora. Quando eu pedi demissão, e mergulhei nesse mundo, eu percebi que eu tenho, sim. Eu sou empreendedora, eu sou uma empresária. Eu não tenho a menor dúvida de que a CNBC, quando veio para o Brasil e me chamou para ser âncora do telejornal (principal telejornal da emissora no horário nobre, levou em consideração não apenas a minha trajetória de 26 anos apresentando o jornal diariamente, mas também o fato de que, nos dois anos fora da TV, me aproximei profundamente do mundo dos negócios.
Christiane Pelajo
Divulgação
Liliane Rocha: Essa trajetória que você compartilha também está no livro que você organizou com 65 mulheres, o Protagonistas. Como foi conduzir essa experiência e de que forma ela tem transformado sua visão sobre liderança, histórias de vida e protagonismo feminino?
Chris Pelajo: É uma delícia estar em um projeto com outras 64 mulheres que eu admiro tanto e que passei a admirar mais ainda. Eu sempre defendo rede de apoio. É fundamental. Nós, mulheres, temos que ter rede de apoio. Nós, mulheres, temos que ser amigas. Existe um levantamento que diz que pessoas que têm amigos vivem mais. E assim, se depender disso, eu vou viver eternamente.
Eu tenho um orgulho gigantesco do que a gente fez nesse livro. A gente traz uma diversidade de mulheres, uma diversidade de histórias que foi pensada para ser assim. Não existe, e isso eu afirmo com convicção, um livro coletivo de mulheres com tantas histórias diferentes, com tantas mulheres, com trajetórias diferentes. E isso me encanta porque me emociona.
Liliane Rocha: Ao assumir o comando da âncora da CNBC, você não apenas entrou diante das câmeras mais uma vez, mas se tornou a voz de um novo olhar sobre o Brasil e o mundo dos negócios. Como essa experiência dialoga com a forma como você enxerga a responsabilidade de informar, inspirar e conectar pessoas através da comunicação?
Chris Pelajo: Na minha opinião, Liliane, muito mais do que estar aqui em frente das câmeras, é uma responsabilidade gigantesca, imensa, de ser a ponte da informação, com o trabalho de dezenas de pessoas que estão nos bastidores, que não aparecem, mas que são fundamentais nesse trabalho.  É claro que estou falando da maior marca de jornalismo de negócios do mundo: a CNBC, presente há 35 anos em quase 100 países. Por mês, cerca de 550 milhões de pessoas assistem à CNBC ao redor do mundo, e temos acesso ao material de todas as suas filiais. Isso representa um diferencial enorme que agora estamos trazendo para o Brasil.
Comunicar, na minha opinião, vai além de transmitir fatos. É mais do que estar na frente da câmera, é mais do que levar apenas a informação. A gente tem que dar contexto, a gente tem que gerar reflexão nas pessoas, gerar inspiração, e é algo que eu sempre quis muito fazer, tanto no ar quanto nas minhas palestras, nos meus treinamentos de comunicação. No caso da TV, especificamente, é mostrar as oportunidades, os desafios do Brasil e do mundo dos negócios também como um todo, mas sempre de forma mais humana.
Liliane Rocha: Como você percebe o impacto das redes sociais e da tecnologia em nossas relações pessoais e na forma como nos comunicamos? E como podemos cultivar conexões mais autênticas e significativas em um mundo cada vez mais digital?
Chris Pelajo: As redes sociais e a tecnologia, evidentemente, transformaram e estão ainda transformando, porque, como eu disse antes, a gente não sabe onde isso vai chegar. Elas transformaram profundamente a forma como a gente se conecta; pessoas e informação. A tecnologia aproximou, concorda? Aproximou pessoas e informação. A gente tem acesso, o que é uma coisa que às vezes explode a cabeça, né? A gente tem acesso a muito mais informação do que a gente tinha antes.
Mas, também, elas trouxeram um grande desafio, que é encontrar profundidade nas relações. A gente tem mais informação, a gente conectou mais gente, a gente se conecta mais, mas cadê a profundidade disso? Então, na minha opinião, o desafio maior talvez esteja em como vamos aprofundar essa conexão, porque a comunicação, através da tecnologia, ganhou velocidade, mas perdeu presença. E para cultivar, na minha opinião, essas conexões mais autênticas, a gente tem que ter intenção. Eu gosto muito dessa palavra, é tudo com intenção.
Liliane Rocha: Para você, o que é sucesso?
Chris Pelajo: O sucesso é ter outras pessoas junto comigo que queiram chegar no mesmo lugar. O que é esse lugar? Tem muita gente que diz: “Ah, mas eu não cheguei lá”. O que é o “lá”? O “lá” para mim pode ser diferente do “lá” para você. Então assim, eu não consigo imaginar o sucesso isolado, o sucesso (como um processo) individual. É sempre ter pessoas junto, ter pessoas junto que almejam a mesma coisa, que queiram chegar com você no mesmo lugar. E, na minha opinião, esse livro que só é um sucesso porque a gente conseguiu exatamente isso. Conseguimos uma conexão que é muito impressionante. Cada vez que eu conheço algumas autoras eu sinto: “Gente, parece que as pessoas são minhas amigas há anos”.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.
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