Angela Ro Ro, um dos nomes mais marcantes da música popular brasileira, morreu nesta segunda-feira (08.09), aos 75 anos, no Rio de Janeiro. De acordo com a TV Globo, a artista estava internada desde junho, após uma infecção pulmonar grave que evoluiu para um quadro delicado. Ela havia passado por uma traqueostomia, recuperado parcialmente a fala e vinha se comunicando com os fãs por meio das redes sociais.
Autêntica, corajosa e dona de um timbre inconfundível, Angela construiu uma carreira sólida e ousada. Foi uma das primeiras artistas brasileiras a se assumir homossexual publicamente e nunca teve medo de dizer o que pensava (fosse sobre política, fosse sobre amor). Sua morte encerra um dos capítulos mais importantes da MPB, mas sua obra segue viva. Nos últimos meses, enfrentava dificuldades financeiras e contou com o apoio de amigos, fãs e colegas de profissão, que se mobilizaram para ajudá-la por meio de campanhas de doação.
Uma vida dedicada à música
Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves em 1949, no Rio, a artista adotou o nome artístico Angela Ro Ro em alusão à sua risada rouca e contagiante. Com formação clássica em piano e forte influência do jazz e do blues, lançou seu primeiro álbum em 1979; um marco na MPB. O disco de estreia trazia faixas como “Gota de Sangue”, “Tola Foi Você” e “Amor, Meu Grande Amor”, que viriam a se tornar clássicos instantâneos. Ao longo das décadas, Angela navegou por baladas passionais, composições existenciais e arranjos intensos. Sua voz carregava a vulnerabilidade dos grandes intérpretes, e seu repertório refletia uma artista que nunca tentou se encaixar em moldes fáceis. Ela fez da dor poesia e da paixão, hino. Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, ela lançou dez álbuns de estúdio — incluindo o clássico Angela Ro Ro (1979) e sucessos como Só Nos Resta Viver (1980) e Simples Carinho (1982), além de três discos ao vivo.
Muito antes de se falar sobre representatividade com a força de hoje, Angela já quebrava tabus ao falar abertamente sobre sua sexualidade em entrevistas e canções. Em tempos de censura e repressão, ela foi presença firme e rebelde, sempre fiel à própria verdade — e isso se refletia em tudo o que fazia, do palco às letras. Suas composições foram interpretadas por nomes como Maria Bethânia, Marina Lima e Simone, e suas próprias interpretações deixavam marcas profundas por onde passavam.