Por Andrei Khalip
LISBOA (Reuters) – A morte de pelo menos 16 pessoas no histórico Elevador da Glória que descarrilou em Lisboa expôs as falhas na imagem do ‘velho charme’ da capital portuguesa, que está repleta de turistas, mas que funciona com uma infraestrutura pitoresca, porém precária.
No acidente de quarta-feira, o vagão saiu dos trilhos em uma curva e bateu em um prédio a poucos metros de seu gêmeo na parte inferior da íngreme encosta de 265 metros, deixando destroços com corpos presos dentro. O cabo de tração que os ligava havia se rompido.
Jorge Silva, vice-presidente da associação portuguesa de especialistas técnicos em proteção civil, disse que um vagão feito de um material mais moderno, como fibra de carbono, em vez de metal e madeira — o mesmo projeto usado desde 1914, quando a linha foi eletrificada — teria tornado o acidente menos violento e mortal.
‘As peças são rígidas o suficiente para suportar a oscilação e o serviço normal, mas não foram projetadas para suportar o impacto no caso de um descarrilamento, ficando torcidas e deixando os passageiros mais expostos’, disse ele.
Os bondes de Lisboa que sobem e descem as colinas íngremes também datam de meados do século 20 e têm uma estrutura semelhante, disse ele.
‘Deve-se investir na renovação dos vagões, usando materiais mais modernos, mesmo que preservando sua forma histórica’, afirmou.
Silva disse que uma investigação mostrará até que ponto o sistema de cabo pendular desempenhou um papel no acidente.
A tecnologia testada pelo tempo teve que lidar com a triplicação do número de passageiros na linha do funicular ‘Glória’ na última década, chegando a mais de 3 milhões de pessoas por ano, com o crescimento do turismo.
Os dois carros, cada um com capacidade para cerca de 40 pessoas, sobem e descem a ladeira alternadamente, enquanto motores elétricos puxam o cabo que os conecta.
Manuel Leal, líder do sindicato da Fectrans, disse à TV local que os trabalhadores haviam reclamado que problemas com a tensão do cabo dificultavam a frenagem, mas que ainda era cedo para dizer se essa era a causa do acidente.
A empresa de transporte municipal Carris disse que todos os protocolos de manutenção foram cumpridos. Silva disse que é provável que seja necessária uma manutenção e inspeção mais rigorosa e frequente para evitar futuros acidentes com o atual uso mais intenso.
No entanto, as tentativas de modernização na cidade propensa a terremotos também preocupam engenheiros e arquitetos, que temem uma recorrência do Grande Terremoto de Lisboa de 1755.
Muitas casas no centro de Lisboa construídas pouco depois de 1755, com estruturas internas interconectadas e pilares pioneiros para resistir a terremotos, foram recentemente adaptadas de uma forma que poderia comprometer suas estruturas antissísmicas originais, disseram vários especialistas em engenharia à Reuters.
Embora as casas mais novas construídas após 1958 devam ter estruturas resistentes a sismos por lei, nenhum reforço antissísmico é exigido para edifícios antigos que estejam sendo reformados.