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A antiga planta africana da ressurreição, que fisgou a atenção de Giorgio Armani


Nesta quinta-feira (4), o mundo se despede do estilista de moda italiano Giorgio Armani, que morreu, aos 91 anos, devido a uma doença não especificada, mas que está associada à velhice. O óbito foi confirmado pelo Grupo Armani em seu perfil oficial no Instagram.
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“Com infinita tristeza, o Grupo Armani anuncia o falecimento de seu criador, fundador e incansável impulsionador: Giorgio Armani”, diz a publicação. “Il Signor Armani, como sempre foi chamado com respeito e admiração por funcionários e colaboradores, faleceu em paz, cercado por seus entes queridos. Incansável até o fim, ele trabalhou até seus últimos dias, dedicando-se à empresa, às coleções e aos muitos projetos em andamento e futuros”.
O post afirma ainda que a câmara funerária do estilista estará aberta em Milão, na Itália, na Via Bergognone 59, dentro do Armani/Teatro, entre sábado (6) e domingo (7). O funeral será realizado de modo reservado, conforme desejo expressado em vida pelo próprio ícone da moda.
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A curiosa planta da ressurreição
Como ingrediente principal de sua linha de cuidados com a pele Crema Nera, Giorgio Armani escolheu a chamada “planta da ressurreição” (Myrothamnus flabellifolia). Muito utilizada na medicina tradicional africana, essa espécie tem a impressionante capacidade de sobreviver mesmo após quase secar por completo. Ela pode perder até 95% da água do seu corpo e aparentar estar morta, mas voltar a florescer em apenas 12 horas depois da chuva
Por isso, ganhou um nome que pode ser traduzido aproximadamente como “despertar dos mortos” em línguas indígenas (em isiZulu, é chamada de Uvukakwabafile; já em isiNdebele, é Umazifisi e em Shona, Mufandichumuka). Acredita-se ainda que a M. flabellifolia seja uma das plantas mais antigas do nosso planeta.
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A consultora científica de Giorgio Armani, Jill Farrant, professora de biologia molecular e celular na Universidade da Cidade do Cabo (UCT), redescobriu as plantas de ressurreição em 1993, quando foi convidada a analisar uma tese de doutorado sobre quatro plantas.
Uma delas tinha a incrível capacidade de perder quase toda a sua água e ainda sobreviver. Isso trouxe à mente de Farrant uma lembrança de quando ela tinha nove anos, brincando na fazenda de seu pai em Limpopo, na África do Sul. Lá, ela descobriu uma planta que pensava estar morta, mas que floresceu novamente após a chuva. “Ainda tenho o diáriozinho de papel em que escrevi [sobre a planta]”, lembra a especialista, em comunicado em 2021.
As plantas da ressurreição são conhecidas por sua capacidade de “fingir-se de mortas”. Elas podem perder até 95% da água e parecer completamente mortas, apenas para florescer novamente em apenas 12 horas após a chuva.
University Of Cape Town
Na época, Farrant contou sobre a descoberta ao pai, que interpretou aquilo como uma fantasia de criança, e ela também descartou a ideia. Por ironia do destino, hoje a professora já publicou vários artigos sobre as plantas da ressurreição, que fazem justamente o que ela observou quando criança. “Das 135 plantas de ressurreição existentes, apenas três ou quatro crescem na Europa. O restante está na África”, observa.
Para Farrant o que torna essas plantas especiais, principalmente a M. flabellifolia, são os produtos químicos que elas usam para sobreviver à extrema perda de água e ao calor que matariam qualquer outra planta. ” São esses fitoquímicos que servem como poderosos antioxidantes que podemos usar em produtos farmacêuticos e cosméticos”, conta.
Professora Jill Farrant e a planta Myrothamnus flabellifolia em plena floração
University of Cape Town
A espécie utilizada na linha de Giorgio Armani contém o maior número de antioxidantes que Farrant já viu em uma planta. Seu principal antioxidante protege as membranas celulares humanas de danos — até mais que a vitamina C. “A ativação antioxidante pode defender as células contra danos causados ​​pela poluição, raios UV, desidratação, radicais livres e temperaturas extremas, todos os quais aceleram o envelhecimento da pele”, ela explica.
Quando Armani buscava uma planta para sua linha de cuidados com a pele, ele queria duas coisas: uma planta com uma história interessante e que estivesse na lista de ingredientes permitidos em produtos para a pele na China. O estilista almejava alcançar o mercado chinês, ciente da importância dos cuidados com a pele na cultura chinesa. Foi então que a M. flabellifolia preencheu todos os requisitos.
Preocupações com a espécie
Armani obtinha a planta do Zimbábue, em grande parte porque este país vende o produto internacionalmente a um custo bastante razoável. Como condição para seu papel como consultora científica, Farrant solicitou que as plantas não sejam adquiridas da África do Sul, a menos que haja investimento em estudos para colheita sustentável.
A M. flabellifolia cresce em rochas que ela decompõe para formar solo. Embora a espécie possa ser cultivada em massa em estufas, estudos mostram que isso altera a composição da planta. Ou seja: quando ela não precisa produzir antioxidantes fortes para sobreviver, ela não o faz.
Visto isso, a especialista está trabalhando para proteger a planta da ressurreição de uma eventual extinção. Ela realizou estudos para medir as taxas de crescimento e reprodução da espécie e se preocupa que agricultores sejam bem remunerados pelo cultivo da planta.
Farrant usa grande parte da renda que recebe da Armani e de outras fontes para complementar a renda e os subsídios de seus alunos. “É da minha natureza apoiar os azarões”, diz ela, “sejam eles plantas ou humanos. E não há sensação mais gratificante do que ver aquele pequeno azarão chegar ao topo e se tornar um verdadeiro jogador em campo”.