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Espécie inédita achada no Brasil tem semelhanças com o extinto dodô

Descoberta de Nova Espécie de Ave na Amazônia Brasileira

A descoberta de uma nova espécie de ave na Serra do Divisor, no extremo oeste da Amazônia brasileira, tem gerado grande interesse entre cientistas e conservacionistas ao redor do mundo. A nova espécie, conhecida como tinamu-de-cara-cinzenta ou tinamu-de-máscara-ardósia (Tinamus resonans), apresenta características únicas, incluindo um comportamento dócil e falta de medo dos humanos, semelhante ao extinto dodô.

A equipe responsável pelo achado, composta por especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Acre, começou a investigar a espécie em outubro de 2021, após ouvir um chamado profundo e inquietante durante uma expedição na floresta. Após três anos de esforços, a equipe finalmente conseguiu observar e registrar a espécie em novembro de 2024, utilizando uma reprodução sintetizada digitalmente do canto da ave.

Características da Nova Espécie

O tinamu-de-máscara-ardósia apresenta uma plumagem vibrante em tons que variam da canela ao ruivo, com uma faixa escura que atravessa os olhos. A espécie tem um corpo robusto e vive em habitat isolado, com alta especialização ecológica. Embora não haja parentesco direto com o dodô, as semelhanças entre as duas espécies são notáveis, incluindo o estilo de vida terrestre e a falta de medo dos humanos.

A distribuição da ave é incrivelmente restrita, com apenas 2.106 indivíduos estimados, e está limitada a áreas acima de 300 metros de altitude, em uma estreita faixa das montanhas da Serra do Divisor. A região é caracterizada por microhabitats e isolamento biogeográfico, o que favorece a vida de espécies altamente especializadas.

Ameaças à Sobrevivência da Espécie

A sobrevivência da espécie em longo prazo está longe de ser garantida, devido a pressões externas que incluem:

  • Proposta de construção de uma rodovia entre Brasil e Peru;
  • Projeto ferroviário transcontinental que pode acelerar o desmatamento local;
  • Planos para reduzir a proteção do Parque Nacional da Serra do Divisor;
  • Avanço da mineração, dependendo de decisões legislativas;
  • Incêndios florestais, considerados a ameaça mais imediata aos solos arenosos da região.

Além disso, a caça não é comum na área ocupada pela espécie, mas regiões adjacentes têm histórico de captura de tinamus para consumo, o que pode se tornar um risco adicional caso o acesso humano aumente.

A equipe de pesquisadores está trabalhando arduamente para garantir que a espécie seja reconhecida e protegida antes que as políticas avancem ainda mais. A descrição da espécie foi baseada em três espécimes observados e muitos registros de campo, e análises genéticas ainda são cruciais para determinar sua história evolutiva e posicionamento taxonômico.

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O anúncio da descoberta de uma nova espécie de ave na Serra do Divisor, no extremo oeste da Amazônia brasileira, mobilizou cientistas e conservacionistas ao redor do mundo. Descrito pela primeira vez em um estudo publicado nessa terça-feira (2) na revista Zootaxa, o tinamu-de-cara-cinzenta, também chamado tinamu-de-máscara-ardósia (Tinamus resonans), encanta com seu comportamento dócil e falta de medo dos humanos, características que lembram o extinto dodô (Raphus cucullatus).

A equipe responsável pelo achado é composta por especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Acre. Seus esforços começaram ainda em outubro de 2021, quando, durante uma expedição no meio da mata, eles ouviram um chamado profundo, prolongado e inquietante.
De acordo com o relato dos pesquisadores, o som era semelhante ao canto de outros tinamus, mas possuía uma amplificação natural que se espalhava pelo sub-bosque da floresta, criando a sensação de que a ave estava simultaneamente em vários pontos. Essa acústica “fantasmagórica” dificultava determinar a direção exata, bem como a distância da fonte.
Holótipo de Tinamus resonans em diferentes ângulos
Luis Morais
Por três anos, os autores tentaram seguir a trilha sonora, enfrentando relevos íngremes, vegetação densa e chuvas constantes. No entanto, o mistério só foi solucionado em novembro de 2024, quando a equipe utilizou uma reprodução sintetizada digitalmente do canto. O som chamou a atenção de dois exemplares da espécie, que emergiram da vegetação e se deixaram observar – confirmando se tratar de uma espécie desconhecida.
Embora a maioria dos tinamus tenha um visual discreto, que permite com que eles se adaptem bem aos ambientes, a nova espécie parece ser um ponto fora da curva. O tinamu-de-máscara-ardósia ostenta uma plumagem vibrante em tons que variam da canela ao ruivo e uma faixa escura que atravessa os olhos; aí o porquê de ter “máscara” em seu nome.
Apesar da semelhança com o dodô, vale esclarecer que não há parentesco direto entre o tinamu recém-descoberto e a famosa ave, que, evolutivamente, era mais próximo de pombos e rolas. Ainda assim, o paralelo é inevitável, já que as espécies têm estilo de vida terrestre, o corpo robusto, vivem em habitat isolado e apresentam alta especialização ecológica.
Vida isolada no coração da Amazônia
Diferentemente de outros grupos de tinamus, os quais fogem ao menor sinal de perigo, o tinamu-de-máscara-ardósia se aproximou espontaneamente dos pesquisadores, caminhando sem pressa. Como lembra o portal IFLScience, esse tipo de inocência comportamental foi fatal para o dodô no século 17, quando colonizadores neerlandeses chegaram à Ilha Maurício, no Oceano Índico.
A distribuição da ave é incrivelmente restrita. De acordo com os pesquisadores, ela só habita áreas acima de 300 metros de altitude, em uma estreita faixa das montanhas da Serra do Divisor. O jornal The New York Times descreve essa formação como uma “ilha celeste”, cercada por planícies amazônicas em todas as direções.
Essa configuração cria uma série de microhabitats e um isolamento biogeográfico, que favorece a vida de espécies altamente especializadas. Outros cinco tinamídeos de pequeno porte vivem na Serra do Divisor, mas nenhum nas altitudes mais elevadas, como os T. resonans. Sua população é estimada em apenas 2.106 indivíduos.
Embora a localidade seja remota e quase desabitada, pressões externas vêm crescendo nas suas proximidades. Entre as possíveis ameaças estão:
A proposta de construção de uma rodovia entre Brasil e Peru;
Um projeto ferroviário transcontinental que poderia acelerar o desmatamento local;
Os planos para reduzir a proteção do Parque Nacional da Serra do Divisor, o quarto maior do país;
O avanço da mineração, a depender de decisões legislativas; e
Os incêndios florestais, considerados a ameaça mais imediata aos solos arenosos da região, que podem perder milênios de evolução ecológica após um único fogo.
Além disso, por mais que a caça não seja comum na área ocupada pela espécie, regiões adjacentes têm histórico de captura de tinamus para consumo. Isso pode se tornar um risco adicional caso o acesso humano aumente.
“Mesmo que a área seja praticamente desabitada e em grande parte intacta, a sobrevivência da espécie em longo prazo está longe de ser garantida”, explica Luis Morais, doutorando em zoologia no Museu Nacional do Rio de Janeiro e principal autor do artigo, em entrevista ao New York Times. “Espécies restritas a faixas de altitude estreitas também são altamente sensíveis às mudanças climáticas.”
Conservação do achado
A descrição da espécie foi baseada em três espécimes observados e muitos registros de campo. Porém, análises genéticas ainda são cruciais para determinar sua história evolutiva e posicionamento taxonômico. Como poucos projetos abordam a taxonomia dos tinamídeos amazônicos, essa pesquisa parece ser particularmente valiosa.
Em dezembro, a equipe de Morais se reunirá com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para definir o status oficial de conservação da espécie e traçar um plano de manejo. O órgão já intensifica ações de monitoramento na região e afirma ter reduzido o desmatamento local em mais de 11% em 2025.
Mesmo assim, Morais é incisivo: o futuro da ave depende de decisões políticas urgentes. “Tudo isso me faz pensar que a espécie não terá um futuro fácil. Estamos trabalhando arduamente para garantir que isso seja reconhecido antes que essas políticas avancem ainda mais”, alerta o especialista.