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Adultização Infantil: entre Telas, Pressões e a Nova Lei Sancionada por Lula

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O que é adultização

Ela tem oito anos e já sabe que precisa dançar como uma adulta para ganhar curtidas. Ele tem dez e ostenta roupas de marca porque aprendeu que status rende seguidores. Essas cenas não são exceções: fazem parte de uma infância cada vez mais encurtada. Chamamos isso de adultização — quando pressões de estética, sexualidade, consumo e desempenho empurram crianças e adolescentes para um mundo que ainda não deveria ser deles.
O alerta dos especialistas

No evento Educação em Pauta, realizado no Instituto12, um clube privado e hub importante da comunidade no Rio de Janeiro entre CEOs, fundadores, líderes, investidores e criativos em torno de inovação e futuro, ouvi reflexões contundentes de Andréia Sadi — jornalista, apresentadora e comentarista política, Laís Fontenelle Pereira — mestre em Psicologia Clínica pela PUC Rio e especialista em Psicologia Escolar, e Guilherme Cintra — diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann. Cada um, a partir de sua trajetória, destacou os sinais da adultização precoce e a urgência de preservarmos o direito de ser criança.

A pesquisa TIC Kids Online Brasil (Cetic.br, 2023) mostra que 93% das crianças entre 9 e 17 anos estão online diariamente. Esse dado por si só não é negativo, mas escancara a exposição contínua a riscos: da sexualização precoce à violência digital, passando por padrões de beleza inatingíveis que corroem a autoestima.

O episódio recente do influenciador Felca, que denunciou a produção de conteúdos de adultização infantil no YouTube e TikTok, foi apenas a ponta de um iceberg. A prática já é cotidiana, visível e altamente lucrativa para quem capitaliza em cima da audiência jovem.

A nova lei sancionada por Lula

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 15.211/2025, apelidada de Estatuto Digital da Criança e do Adolescente. A lei moderniza o marco regulatório e impõe responsabilidades claras às plataformas digitais, tais como:

Verificação de idade confiável e vínculo de contas de menores de 16 anos a responsáveis legais.
Remoção imediata de conteúdos ligados a exploração sexual, assédio ou violência, com notificação obrigatória às autoridades.

Supervisão parental avançada, com filtros, controle de privacidade e limitação de notificações.
Proibição de práticas predatórias, como as loot boxes em jogos eletrônicos, que exploram vulnerabilidades psicológicas.

Sanções rigorosas: de advertências a multas de até 10% do faturamento global das empresas que descumprirem as regras.

É um marco histórico. Pela primeira vez, o Brasil estabelece uma estrutura de governança digital voltada para proteger a infância.

Os desafios da implementação

Apesar dos avanços, a lei não é uma solução mágica. Plataformas globais precisarão investir pesado em tecnologia e compliance para atender às novas exigências. Famílias precisarão se engajar de forma mais ativa — e muitas ainda não se sentem preparadas para isso.

Há também dilemas éticos: até onde vai a proteção e onde começa a censura? Quem define o que é “conteúdo impróprio”? O Estado brasileiro terá capacidade de fiscalização suficiente frente ao alcance e poder das big techs?
Além disso, a adultização não é um problema restrito ao digital. Ela é presente na publicidade, na cultura do consumo e até em modelos escolares que antecipam pressões de desempenho acadêmico e profissional. A lei pode conter excessos, mas infelizmente não elimina a cultura já instalada.

Que infância queremos proteger?

No fim das contas, a pergunta que ecoa é: que infância queremos preservar?

Queremos uma infância hiperconectada, mas consciente e protegida, ou uma infância sacrificada em nome do algoritmo e do engajamento? A lei representa um avanço institucional, mas sua eficácia dependerá de como escolas, famílias e sociedade irão se apropriar dela.

É urgente resgatar o valor do brincar, do tempo lento, da experimentação sem julgamentos. Crianças não precisam de feeds perfeitos, precisam de adultos imperfeitos que as escutem e as guiem.

O Estatuto Digital da Criança e do Adolescente abre um novo capítulo. Cabe a nós garantir que ele não seja apenas letra morta, mas o início de uma mudança cultural capaz de devolver às crianças aquilo que é delas por direito: a infância.

Iona Szkurnik é fundadora e CEO da Education Journey, plataforma de educação corporativa que usa Inteligência Artificial para uma experiência de aprendizagem personalizada. Com mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford, Iona integrou o time de criação da primeira plataforma de educação online da universidade. Como executiva, Iona atuou durante oito anos no mercado de SaaS de edtechs no Vale do Silício. Iona é também cofundadora da Brazil at Silicon Valley, fellow da Fundação Lemann, mentora de mulheres e investidora-anjo.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

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