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“Historicamente, a Tecnologia Nunca Gerou Desemprego em Massa”, Diz CTO da Amazon

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Em sua primeira visita ao Brasil pós-pandemia, Werner Vogels, CTO global da Amazon e VP da Amazon Web Services (AWS), o braço de cloud da companhia, retorna ao país em um contexto significativamente diferente da sua última passagem, em 2019. Durante sua estadia, que incluiu visitas a clientes e projetos, Vogels compartilhou uma perspectiva otimista sobre o papel da tecnologia, especialmente a inteligência artificial generativa.

Iniciou a entrevista relatando a visita a Paraisópolis, em São Paulo, onde a empresa possui uma parceria, desde 2022, com a Favela LLog na gestão de entrega em regiões de periferias. Werner fez questão de compreender como a tecnologia pode solucionar desafios logísticos complexos e atender populações em locais de difícil acesso. Ele relembra que, historicamente, o avanço tecnológico não resultou em desemprego em massa, mas sim na criação de novas profissões e indústrias. Para ele, a ascensão da IA generativa segue esse padrão, abrindo portas para novas oportunidades.

“A preocupação sobre a IA assumir empregos é compreensível, mas a história mostra que o desenvolvimento tecnológico, ao contrário do que se pensava, não levou à extinção em massa de postos de trabalho. Ao invés disso, conceitos como o paradoxo de Jevons explicam que o aumento da eficiência proporcionado por novas tecnologias não resulta apenas na otimização de tarefas existentes, mas na criação de novas possibilidades e na realização de mais atividades”, explica Werner.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2030, a IA deverá impulsionar a criação de 170 milhões de novas oportunidades de trabalho, ao mesmo tempo em que transformará ou eliminará cerca de 92 milhões de empregos atuais. Esse saldo líquido aponta para a geração de aproximadamente 78 milhões de novos postos de trabalho em todo o mundo.

No início deste ano, a Amazon confirmou um investimento de US$ 100 bilhões em tecnologia para 2025, com foco especial em IA. Este valor representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Segundo Andy Jassy, CEO da empresa, uma parte relevante desse montante será destinada à AWS,  liderada na América Latina pela brasileira Paula Bellizia. O investimento visa a expansão de data centers e infraestrutura para suportar a crescente demanda por IA.

Forbes Brasil – Por que estamos falando tanto de IA sendo que é uma tecnologia de décadas?
Werner Vogels – A tecnologia, em geral, tem um papel importante, não apenas a inteligência artificial generativa. Afinal, se pensarmos na própria palavra ‘inteligência artificial’, ela não é algo de dois anos atrás, mas sim de 1956. A tecnologia em si não é nova, mas o seu contexto sim. Os conceitos, como previsão, reconhecimento de imagens, processamento de linguagem natural e detecção de intenções, já são considerados simplesmente ‘IA’ porque funcionam de forma integrada. Na verdade, um dos pioneiros do termo ‘inteligência artificial’, McCarthy, chegou a dizer que, ‘assim que ela passa a funcionar, nós não chamamos mais de IA’.

FB – Como lidar com os empregos que deixarão de existir por causa da IA?
WV – A preocupação sobre a IA assumir empregos é compreensível, mas a história mostra que o desenvolvimento tecnológico, ao contrário do que se pensava, não levou à extinção em massa de postos de trabalho. Ao invés disso, conceitos como o paradoxo de Jevons explicam que o aumento da eficiência proporcionado por novas tecnologias não resulta apenas na otimização de tarefas existentes, mas na criação de novas possibilidades e na realização de mais atividades. A origem da computação em nuvem, por exemplo, permitiu que empresas se tornassem mais eficientes, eliminando a necessidade de infraestrutura ociosa e custosa, e consequentemente, possibilitando a expansão de serviços como Uber, além da popularização de ferramentas. A discussão sobre a IA e o mercado de trabalho frequentemente se centra em um possível paradoxo: a tecnologia, em vez de eliminar empregos, cria novas oportunidades e expande o escopo de atuação.

Werner Vogels e Jeff Bezos, durante evento da AWS nos Estados Unidos

FB – Como requalificar parte importante desses profissionais?
WV – A educação é um fator crucial para a ascensão social. Se as pessoas tiverem mais educação, elas podem ter melhores empregos. A chave para mudar essa realidade está em compreender que a educação capacita os indivíduos, abrindo portas para o mercado de trabalho. Programas como o AWS re/Start se propõem a isso, oferecendo treinamento em TI e desenvolvimento web em períodos de seis meses a um ano, com garantia de emprego para quase todos os formandos. Com a IA generativa, por exemplo, o desenvolvimento de software se torna muito mais fácil. O que antes levava cinco semanas para construir um site, agora pode ser feito em um dia. Isso democratiza o acesso à criação de soluções tecnológicas. A tecnologia, portanto, se torna uma aliada poderosa para a inclusão e o desenvolvimento de novas carreiras. As planilhas, surgidas nos anos 60 e popularizadas nos anos 80, exemplificam essa dinâmica. Naquela época, grandes instituições financeiras contavam com equipes reduzidas, muitas vezes dependendo de calculadoras para simular operações que hoje são feitas instantaneamente. Quando as planilhas se tornaram acessíveis, os profissionais que antes executavam essas tarefas repetitivas não foram descartados; foram reaproveitados para atividades que demandam maior capacidade intelectual e criatividade humana. Afinal, os humanos são capazes de muito mais do que a mera execução de tarefas. Como costumo dizer: a IA pode prever, mas são os humanos que decidem.

FB – De que maneira isso ocorre no caso da Amazon, por exemplo?
WV – Analisamos bilhões de transações passadas para identificar padrões e eficácia. Com base nesses dados, construímos modelos preditivos. Quando uma nova transação ocorre, ela é avaliada por esse modelo, que indica a probabilidade de ser excelente. Em vez de descartar automaticamente, a transação é encaminhada a um humano para análise. Essa abordagem torna a IA uma ferramenta para apoiar o sucesso humano, e não para substituí-lo. É fundamental compreender que a tecnologia, por si só, é uma ferramenta. Ela não possui intenção, alma ou consciência. A sua aplicação eficaz depende de como a direcionamos para resolver problemas reais. Na AWS, o foco é em capacitar os clientes, oferecendo um ambiente de experimentação com diversos modelos de IA, como os da Anthropic, OpenAI, Meta e outros. A AWS Bedrock, por exemplo, permite que empresas explorem e comparem esses modelos, garantindo que a escolha da tecnologia seja baseada em fatos e nas necessidades específicas do problema a ser resolvido, e não em tendências passageiras. A decisão final e a responsabilidade recaem sempre sobre o ser humano.

Projeto em parceria com a Favela Logg, em Paraisópolis, visitado por Werner

FB – Você mencionou que, durante esses dias no Brasil, visitou uma favela, como a IA pode ajudar a lidar com a pobreza e as diferenças sociais?
WV –  Eu acredito que a tecnologia pode ser aplicada para combater a pobreza, a incerteza econômica e melhorar o acesso à saúde. Isso não se limita apenas às favelas, mas a outras regiões onde nem todos têm fluência em tecnologias avançadas. Em minhas viagens recentes pela América do Sul, Ásia do Sul e África, observei similaridades significativas na disparidade entre ricos e pobres. A tecnologia tem um papel crucial em ajudar a construir programas que possam tirar pessoas da pobreza. Por exemplo, em hospitais, a IA pode ajudar a transcrever a escrita de médicos, que muitas vezes não é clara, convertendo-a em termos especializados. Uma aplicação prática para comunidades carentes, como favelas, é o uso de tecnologias como a What3Words. Essa plataforma divide o mundo em quadrados de 3×3 metros, permitindo a localização exata de qualquer ponto com apenas três palavras. Isso demonstra o potencial da tecnologia em ajudar diversas comunidades.

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