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Clínica em Londres que promete filtrar microplásticos do sangue por US$ 13 mil tem atraído celebridades. Será que funciona?


Os microplásticos – pequenas partículas de plástico quase invisíveis, até mesmo em microscópios – estão por toda a parte: no ar, na água, na comida e até no nosso corpo. Há pouco mais de três anos, cientistas suecos descobriram a substância também no sangue de seres humanos.
As partículas são tão pequenas que os pesquisadores precisaram usar um equipamento especial para transformar essas impurezas em gás e um computador para identificar que tratava-se de um tipo específico plástico, o mesmo encontrado em garrafas pet, embalagens de alimentos e sacolas plásticas.
Mas uma clínica em Londres promete filtrar essas impurezas do sangue – e em apenas duas horas.
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Trata-se da Clarify Clinics, criada em Londres ano passado pela atriz e filantropa Yael Cohen – conhecida pela iniciativa Fuck Cancer, que incentiva jovens britânicos a conversar com seus pais sobre exames de prevenção ao câncer.
O procedimento é relativamente simples e funciona assim: com duas cânulas conectadas às veias, um aparelho retira o sangue do corpo e transferem para uma centrífuga que separa os glóbulos vermelhos e o plasma; então, o plasma passa por um filtro com carvão ativado e outras substâncias, que supostamente retém as impurezas do sangue antes de devolvê-lo ao corpo. Tudo dura cerca de duas horas e é feito na clínica, na presença de apenas um médico e um enfermeiro.
Yahel Cohen
Reprodução/Instagram
Antes e depois de passar pelo procedimento, os pacientes são submetidos a um teste para detectar o número de partículas de plástico em uma gota de sangue. A própria Yael Cohen se submeteu ao tratamento e compartilhou seus exames nas redes sociais, indicando uma suposta redução de 90% dos microplásticos depois de uma única sessão do procedimento.
Segundo a atriz – que, vale dizer, não tem formação médica –, o procedimento tem se mostrado positivo em casos de covid longa e também pode retardar a progressão do Alzheimer e ajudar pessoas com doenças autoimunes. Em entrevista ao The Cut, Cohen disse, ainda, que a filtragem pode ser benéfica para pessoas que usam Ozempic, mas não entrou em detalhes sobre isso.
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Procedimento não tem comprovação
O procedimento oferecido pela Clarify Clinics não tem comprovação por pesquisas importantes e nem aprovação de órgãos reguladores de saúde, como a FDA, dos Estados Unidos.
Mesmo assim, há fila de espera pelo tratamento, que custa US$ 13 mil (valor equivalente a mais de R$ 70 mil). Segundo a imprensa internacional, investidores, executivos e celebridades estão interessados em filtrar os microplásticos do sangue – o ator Orlando Bloom, que já passou pelo procedimento, é um exemplo.
Orlando Bloom passou pelo procedimento que promete eliminar microplásticos do sangue
Reprodução Instagram
O que a Clarify promete aos seus pacientes é a esperança de aliviar certos sintomas ao retirar do sangue microplásticos eoutros contaminantes potenciais, como produtos químicos PFAS (substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas) e pesticidas. Mas a ciência está longe de ser conclusiva sobre se o procedimento tem qualquer validade para a saúde.
Em entrevista à Vogue Brasil, o hematologista Guilherme Perini, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que os microplásticos podem impactar a microbiota intestinal e gerar complicações como inflamações crônicas e infertilidade, além de aumentar o risco para alguns tipos de câncer. No entanto, ressalta que essas partículas são uma descoberta científica muito recente, por isso “ainda são necessários estudos maiores e mais profundos para entendermos seu verdadeiro impacto”.
Há pesquisas demonstrando a presença deles em diversos tecidos, órgãos e secreções humanas – além do sangue, essas impurezas já foram detectadas no fígado, no sêmen e na placenta. “No entanto, a maior parte das partículas de microplástico não estão presentes no plasma sanguíneo, mas sim depositadas em tecidos. Então é possível que, se esse os impactos do procedimento existem, eles são mínimos”, completa.