Em uma temporada marcada por estreias de estilistas em casas já consolidadas, poucas despertam tanta curiosidade quanto a de Nicholas Aburn. Ele assume o posto de diretor criativo no lugar de Piotrek Panszczyk, que fundou a Area ao lado de Beckett Fogg pouco mais de dez anos atrás, transformando a marca em um polo do brilho, glamour e fantasia tipicamente americanos. Fogg permanece à frente da empresa como CEO.
Aos 37 anos, Aburn traz não apenas currículo, mas também admiração pela marca. “Fui indicado à Beckett por uma amiga que sabia o quanto eu gostava da Area”, conta ele em uma manhã recente no estúdio temporário da grife, em Tribeca. “Ela disse: ‘Tenho uma proposta meio maluca para te fazer, você toparia?’”
Oficializado como novo diretor criativo em fevereiro deste ano, Aburn começou a trabalhar na sua primeira coleção logo no mês seguinte. “Não quero mudar tudo; para mim, trata-se mais de adicionar camadas, de criar personagens que habitem a realidade”, reflete. E completa com um sorriso: “Quero dizer, Nova York é uma realidade divertida”.
Nicholas Aburn
Cortesia de Area
Area
Cortesia de Area
Sua visão de Nova York, ele admite, é levemente idealizada, com lentes cor-de-rosa. Nicholas Aburn cresceu em Maryland, mas passou a maior parte da vida adulta entre Londres e Paris. Atualmente, mora em Milão, onde está concentrada grande parte da produção da Area. “O plano, desde o início, era dividir meu tempo meio a meio entre Nova York e Milão, mas a realidade é que sempre tem uma prova de roupa, sempre tem alguma coisa acontecendo, então acabei não estando tanto aqui”, explica. “Já estive muito em Nova York ao longo da vida, mas sinto que tenho uma relação meio Hemingway com a cidade — aquele americano que a observa à distância.”
A primeira amostra concreta de sua visão criativa veio em agosto, quando o perfil da Area no Instagram publicou a mensagem: “A Area está reconsiderando tudo. Enquanto isso, considere…” — seguida por mais de cem imagens de mulheres marcantes das últimas três décadas. Pense em Debi Mazar nos anos 80, Rihanna nos anos 2000, Gwen Stefani nos anos 90, e nomes atuais como Lily-Rose Depp, Bella Hadid e Taylor Swift. Ao lado dessas, apareciam figuras da alta sociedade da Park Avenue nos anos 1980, em vestidos volumosos e tons joia, contrastando com personalidades do tipo IYKYK (“if you know, you know”, ou seja, “se você sabe, você sabe”), como a cantora-compositora Okay Kaya, a stylist Helena Tejedor e as artistas Jamian Juliano-Villani e Julie Verhoeven — entre muitas outras.
Vistas individualmente nas redes sociais, as imagens remetiam a um tipo específico de “party girl” do centro de Manhattan. Mas, no estúdio da marca, onde foram impressas e coladas em painéis gigantes de inspiração, o que se via era um mosaico de mulheres (e alguns poucos homens) com um senso de estilo pessoal inegociável — pessoas que não apenas gostam, mas precisam fazer as coisas do seu próprio jeito.
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Cortesia de Area
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Nicholas Aburn entende bem o que é fazer as coisas do seu próprio jeito. Crescido em Maryland, ele se apaixonou por moda ainda criança, assistindo ao programa de Elsa Klensch na CNN ao lado da mãe. “Minha mãe assistia, então eu assistia com ela, e depois pegava as roupas e lenços dela, colocava na minha irmã mais nova e fazia desfiles de moda”, lembra.
Na hora de escolher a faculdade, porém, os planos dos pais eram bem diferentes dos seus. “Eles queriam que eu me inscrevesse em universidades da Ivy League, mas eu, em segredo, me candidatei para a Central Saint Martins [CSM]”, conta. Aburn não foi aceito em nenhuma das Ivy Leagues, mas conseguiu uma vaga na prestigiada escola londrina. “Pensei: ‘Lá eu posso ser o melhor nessa área’, e descobri que estudar em Londres ainda sairia mais barato.” Os pais, no entanto, não ficaram convencidos. “Disseram: ‘Se quiser pagar por isso, vai ter que pagar sozinho’. Então arrumei um emprego; trabalhei em tempo integral na loja da Prada enquanto cursava a faculdade. Literalmente corria da loja da Bond Street para a escola, com o uniforme da Prada. Isso me colocava em desacordo com os meus colegas, mas foi positivo — me tornou um observador. Me fez levar o trabalho e a moda muito a sério.”
Formou-se em 2010 e permaneceu na instituição para fazer o mestrado, sob a orientação da lendária Louise Wilson, conhecida por seu rigor e exigência com os alunos. No entanto, Wilson acabou reprovando Aburn. “Ela gostava muito de mim, chegou a me dar uma bolsa de estudos, mas a dinâmica mudou porque eu queria fazer coisas mais reais — ou pelo menos que se relacionassem com a realidade — e ela não estava nada de acordo”, recorda. Apesar disso, conseguiu exibir sua coleção na mostra de formatura, ainda que “escondida lá no fundo”.
Foi justamente ali que David Bamber, diretor de design feminino do estúdio da Tom Ford por muitos anos, o descobriu. “Ele disse que sabia que a Louise escondia bons alunos nos fundos, mas acho que ele só estava sendo gentil”, ri. Aburn passou, assim, de aluno reprovado a ser o primeiro da turma a conseguir um emprego. “Ainda tenho o papel dizendo que fui reprovado — tenho um orgulho meio estranho disso.”
Area
Cortesia de Area
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Cortesia de Area
Na Tom Ford, Nicholas Aburn passou quatro anos como designer de VIPs, criando vestidos sob medida para celebridades usarem em tapetes vermelhos e estreias de filmes. “A diretora de moda feminina viu o que eu estava fazendo e perguntou: ‘Quer trabalhar também na coleção principal?’ E eu disse: ‘Claro que quero’”, relembra. Assim, depois de cumprir o expediente, ele virava noites fazendo croquis para a linha principal. “Eu queria muito aquilo”, afirma.
Aburn conta que aprendeu lições valiosas com Tom Ford e David Bamber, diretor do estúdio feminino. “Eles sempre falavam sobre como é de fato vestir uma roupa. O Tom dizia que fazer uma peça lisonjeira não é só ‘não aumentar os quadris’; o vestido pode ser lindo, mas se a cauda fica presa em tudo, ou se toda vez que a pessoa se senta ela precisa ajeitar, então não é chique”, explica. “Internalizei esse senso de responsabilidade — responsabilidade soa pesado, mas é isso: quero que as pessoas se divirtam ao usar o que eu crio.”
E, claro, diversão é parte essencial do universo da Area. A coleção de verão 2026 de Aburn traz todos os elementos clássicos da marca — jeans, muitos cristais, lantejoulas, aplicações e peças que vão além de vestidos de tapete vermelho: são declarações visuais. Mas há também alfaiataria refinada (“essa é a beleza de estar em Milão”, diz), camisetas vintage e uma influência do sportswear americano que costura, com bom humor, uma ponte entre as coleções conceituais de Piotrek Panszczyk e a abordagem mais “pé no chão” de Aburn — sem que isso signifique abrir mão da fantasia.
No estúdio, confetes, pompons e todo tipo de “resto de festa” foram reaproveitados em novas criações. “Não faz sentido arrancar o coração da coisa — que é justamente a diversão e o brilho”, afirma. “Quantas marcas têm carta branca pra trabalhar com esse tipo de material? Então sim, estou me divertindo.”