Na era do streaming onipresente, onde o sofá virou cenário de estreia e o controle remoto ditador, ir ao cinema é um gesto quase revolucionário. Mas alguns lugares insistem em lembrar que, mais do que projetar imagens em uma tela, o cinema pode ser um ritual de beleza, conforto e atmosfera inigualável. Estes 15 palcos pelo mundo, entre majestosos palácios e joias escondidas, elevam a ida ao filme a uma experiência que envolve arquitetura, história e aquela pitada de glamour que as luzes da tela jamais poderiam replicar. É um convite para desacelerar, para celebrar o cinema como acontecimento, encontro e, por que não, um pouco de espetáculo? Confira abaixo a lista com esses cinemas imperdíveis, cada um deles uma celebração única do universo da sétima arte:
Cineteca Nacional — Cidade do México, México
Cineteca Nacional — Cidade do México, México
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Visitar a Cineteca Nacional é como entrar numa galeria gigante de cinema, onde cada sala, cartaz e relíquia parece te contar um segredo do passado fílmico do México. Localizada no bairro de Xoco, ao sul da Cidade do México, ela expandiu bastante com reformas em 2012, de modo que de 4 salas de exibição passaram para 11, cada uma batizada com nomes de figuras icônicas do cinema mexicano. O acervo é absurdamente rico: milhares de títulos em formatos clássicos de 16mm e 35mm, enormes coleções de cartazes, fotografias e materiais iconográficos, além de uma videoteca digital que permite revisitar obras que não são exibidas nos circuitos comerciais. A arquitetura mistura modernidade e espaços abertos que recebem luz natural, cafés e exposições, o que faz parecer que o prédio inteiro celebra o cinema; não apenas projetando filmes, mas preservando sua memória, estimulando debates e convidando o público a se perder nos corredores antes de subir para a sala escura.
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The Electric Cinema — Londres, Reino Unido
The Electric Cinema — Londres, Reino Unido
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O The Electric Cinema em Notting Hill é o tipo de lugar que te obriga a desfilar antes de se acomodar: ele é antigo (abriu lá por volta de 1910), decorado com móveis de couro, poltronas rechonchudas, mantas de cashmere, sofás de casal e até camas duplas na primeira fila — para quem quiser transformar a sessão de cinema em algo entre “ver filme” e “experiência intimista”. O interior é luxuoso sem apelar para ostentação, o estilo Edwardiano Barroco contrasta com o fato de que você pode pedir um drink que aparece na sua poltrona enquanto espera o trailer. Há duas versões: o Portobello Road, mais clássico e aconchegante, e o White City, mais moderno, com tecnologia de projeção recente e som Atmos, quebrando o charme histórico com conforto contemporâneo. O Electric mantém a aura de cinema de culto / cinema de charme, onde ver filme é quase ritual: vestir algo legal, sentar bem, sentir o veludo do assento, suspender o tempo.
Puskin Art Cinema — Budapeste, Hungria
Puskin Art Cinema — Budapeste, Hungria
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O Puskin Art é pra quem acha que um cinema deve ser uma obra de arte ambulante: inaugurado em 1929, projetado pelos arquitetos Béla Jánszky e Tibor Szivessy, ele foi uma das primeiras salas da Hungria capazes de exibir filmes com som, e logo se tornou referência para cinema alternativo. A arquitetura interna é impressionante: teto art déco ornamentado, colunas em mármore, luzes trabalhadas, lustres elegantes e uma fachada preservada que lembra que estilo e funcionalidade podem andar de mãos dadas. Ele sobreviveu à guerra, às revoluções, à mudança de regimes e ainda hoje exibe tanto clássicos quanto obras contemporâneas de arte, com salas menores que favorecem uma experiência de proximidade – não aquela sensação de “sou só mais um espectador numa massa”. Frequentadores costumam elogiar como cada detalhe dali (desde o hall até o som) parece pensado pra suspender o cotidiano, pra fazer você lembrar que cinema é ritual, não só entretenimento.
Puskin Art Cinema — Budapeste, Hungria
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Cinemateca Brasileira — São Paulo, Brasil
Fachada da Cinemateca Brasileira
Rovena Rosa / Agência Brasil
A Cinemateca Brasileira é aquele lugar onde o passado do cinema brasileiro resolve bater à porta, usando rollos de filme, documentos envelhecidos e narrativas que não cabem nos streamings. Fundada oficialmente em 1946, funciona no prédio que já foi o velho Matadouro Municipal, na Vila Mariana, um espaço que por si só já conta histórias antes mesmo da película rolar. O acervo é gigantesco: algo como mais de 250 mil rolos de filmes, milhares de registros documentais, roteiros, folhetos, fotos (ou seja, se história de cinema fosse coleção de figurinhas, eles teriam completado o álbum várias vezes). Nos últimos anos, enfrentou incêndios, abandono, reformas. Em 2021 um galpão pegou fogo, e mais recentemente um princípio de incêndio por curtocircuito atingiu parte da estrutura, mas felizmente o acervo foi salvo e as intervenções seguem pra modernizar climatização, segurança e restauro geral. Fora isso, há duas salas de exibição e um espaço externo pra sessões; os ingressos nem são caros, o charme é imenso, o valor cultural idem.
Fachada da Cinemateca Brasileira, na Vila Clementino, em São Paulo
Rovena Rosa / Agência Brasil
Orinda Theatre — Orinda, Califórnia, EUA
Orinda Theatre — Orinda, Califórnia, EUA
Getty Images
Se cinema tivesse perfume de veludo, o Orinda Theatre cheiraria exatamente a isso: inaugurado em dezembro de 1941, projetado em estilo Art Déco pomposo por Alexander Aimwell Cantin, com afrescos, um teto estrelado (“starlight ceiling”), cortinas grandes, letreiro de neon que poderia servir de farol pra viajantes cinefílicos. Ele quase foi demolido nos anos 80, mas graças a um grupo local de salvamento cultural (“Friends of the Orinda Theatre”) sobreviveu – ganharam mais duas salas mantendo o auditório principal intacto. Rolou uma longa restauração recente, limpeza, restauração de murais, do lobby, e adaptação para filmes e eventos ao vivo, tudo pra lembrar que cinema é lugar de congregar gente, suspender cotidiano, deixar luz ruim do celular de lado. Depois da pandemia, reabriu com programação híbrida, shows ao vivo, filmes e aquela sensação de que você está entrando num templo de encanto velho‑novo.
Orinda Theatre — Orinda, Califórnia, EUA
Getty Images
Village East by Angelika — Nova York, EUA
Village East by Angelika — Nova York, EUA
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O Village East é o tipo de cinema que te faz suspirar de amor pela arquitetura antiga antes mesmo de você olhar pro cartaz do filme: originalmente um teatro iídiche dos anos 20, estilo revival mouro, teto ornamentado, domo decorativo, varanda delicada, tudo isso transformado por décadas até se tornar um multiplex elegante em 1991 sob o nome City Cinemas e hoje operado pela Angelika. Ele passou por restaurações para recuperar detalhes originalmente perdidos, mantendo exteriores e interiores como marcos históricos oficiais de NYC. As salas variam entre grandes projeções, clássicos, estreias mainstream e pérolas de arte independente, há experiência em 70mm às vezes, bar e cozinha renovados – ideal pra quem gosta de ver cinema com pipoca gourmet, entorno com personalidade, sem abrir mão do charme antigo, daquela opulência meio esquecida que ainda sustenta o espetáculo de ir ao cinema.
Village East by Angelika — Nova York, EUA
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Raj Mandir — Jaipur, Índia
Raj Mandir — Jaipur, Índia
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Raj Mandir é tipo um palácio rosa que você entra pensando “isso não pode ser só pra ver filme”, inaugurado em 1 de junho de 1976, projeto do arquiteto W.M. Namjoshi, e com capacidade para mais de 1.100–1.200 pessoas – sim, um ginásio com tapetes, lustres, escadarias imponentes e uma fachada luxuosa que faz você querer posar pro Instagram antes da sessão. Está equipado com tecnologia de projeção digital moderna, som Dolby Atmos, além de cadeiras mais confortáveis que antigamente, enquanto conserva o glamour vintage: cortinas pesadas, recepção decorada, aquele tipo de lugar em que o aroma do lugar mistura com expectativa de ver Bollywood bombando. O cinema é de propriedade de uma família joalheira local (o grupo Bhuramal Rajmal Surana), o que se reflete nos detalhes ornamentais — há alusões a pedras preciosas, ornamentos majestosos, decoração que grita riqueza sem precisar dizer “sou caro”. Até o final de 2025 vai passar por uma restauração de patrimônio pra manter intacto seu charme clássico, com melhorias no som, tela, ar‑condicionado.
Pathé Koninklijk Theater Tuschinski — Amsterdã, Holanda
Pathé Koninklijk Theater Tuschinski — Amsterdã, Holanda
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Tuschinski é o cinema pra quem acha que ver filme pode, e deve, ser uma cerimônia: abriu em 1921, idealizado por Abraham Tuschinski, cheio de estilos combinados – Art Deco, Art Nouveau, influência da Escola de Amsterdã – tudo misturado de um jeito que parece que cada sala é uma pequena obra de arte que te recebe com tapetes grossos, luz suave, detalhes ornamentados e bar pra você tomar algo antes ou depois (ou durante, se tiver coragem). Tem 6 salas, capacidade total de cerca de 1.431 lugares, a maior delas com uns 735 assentos; recentemente passaram por restaurações para recuperar o estilo original das décadas de 20‑30, reconstituindo afrescos, ornamentos, mantendo o grandioso mas incluindo o conforto moderno: cadeiras de luxo, bom sistema de som, ar condicionado, bar “Abraham” pra dar aquele toque de cocktail cinematográfico.
Le Grand Rex — Paris, França
Le Grand Rex é o tipo de cinema que faz até o Louvre parecer modesto. Inaugurado em 1932, no coração de Paris, ele não economiza em nada: nem nos detalhes Art Déco, nem na grandiosidade – são mais de 2.700 assentos na sala principal, um palco colossal, e uma cúpula estrelada que simula um céu noturno, porque por que se contentar com telhado quando se pode ter o firmamento? Ele foi inspirado nos grandes movie palaces americanos (especialmente no Radio City Music Hall), mas claro, com aquele toque francês que diz “oui, je suis magnifique”. Além dos filmes, o Rex abriga shows, eventos, festas e até um tour interativo que te leva pelos bastidores da projeção e da arquitetura – é meio parque temático, meio templo do cinema. Totalmente restaurado e modernizado com som Dolby Atmos e projeção 4K, o Grand Rex não só sobreviveu ao século XXI como ainda dita o tom: lá, cinema continua sendo espetáculo.
Avalon Theatre — Catalina Island, Califórnia, EUA
Avalon Theatre — Catalina Island, Califórnia, EUA
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No Avalon Theatre, ver um filme é quase um pretexto para experimentar como era ser rico em 1928, quando até a ida ao cinema exigia um sapato polido e uma postura impecável. Localizado no térreo do famoso Catalina Casino – que não é cassino coisa nenhuma, é só o nome do prédio mesmo – o Avalon é uma cápsula do tempo art déco, com murais épicos no teto e aquele cheiro de história misturado com carpete antigo. Lá dentro, você meio que espera que alguém apareça de cartola pra anunciar o filme. O som ainda impressiona, a acústica é digna de ópera, e a projeção moderna convive tranquilamente com o glamour de uma época em que cinema era espetáculo total, não apenas distração entre notificações do celular.
Le Colisée — Carcassonne, França
Le Colisée — Carcassonne, França
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Le Colisée é aquele cinema francês que parece saído de um sonho Belle Époque onde ninguém sabia o que era streaming e todo mundo ia ao cinema com cachecol e opinião formada. Construído em 1922 como teatro e transformado em cinema nos anos 30, ele tem mais curvas do que um romance francês e mais espelhos do que um camarim de diva. Sacadas, vitrais coloridos, colunas de época e aquele ar de “não estamos apenas vendo um filme, estamos participando de um evento cultural importantíssimo”. Ele já passou por fechamentos, ameaças de virar estacionamento e até por restaurações milionárias, mas segue firme como templo de sofisticação cinematográfica no sul da França. Entrar ali é tipo declarar: “sim, eu gosto de cinema, mas gosto mais ainda de beleza”. E ninguém te julga por isso – pelo contrário, até te oferece um café antes da sessão.
Le Colisée — Carcassonne, França
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Sala Equis — Madrid, Espanha
Sala Equis — Madrid, Espanha
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Sala Equis é o cinema para quem acha que assistir a um filme precisa vir com drinks artesanais, luminárias vintage e uma pitada de ironia. Instalado num antigo cinema pornô (o lendário Alba) o espaço foi repaginado como se Wes Anderson tivesse passado por lá com um orçamento decente e uma playlist lo-fi. Tem uma sala pequena com poltronas confortáveis e projeções em versão original (porque dublagem aqui não entra nem com convite), mas o grande lance é o ambiente: um pátio interno com comida, bebida, gente descolada tentando parecer casual e um clima de “vamos fingir que viemos pelo filme, mas na real estamos aqui pela estética”. Funciona também como espaço cultural, com debates, festas discretamente intelectuais e aquele toque de “Madri cool” que só os locais realmente antenados conhecem. Um cinema? Sim. Um estado de espírito? Também.
Cinema dei Piccoli — Roma, Itália
Cinema dei Piccoli — Roma, Itália
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Imagina o cinema mais fofo do mundo, menor do que sua sala de estar, com charme de antiquário e cheiro de nostalgia — esse é o Cinema dei Piccoli, aberto em 1934 dentro da Villa Borghese, reconhecido pelo Guinness como o menor edifício do mundo usado como sala de cinema. Com apenas 63 lugares, tela modesta (500 × 250 cm), combinado com projeções digitais e em película (35mm e 16mm), som estéreo DTS, ar‑condicionado, acesso para portadores de deficiência — tudo isso embrulhado numa atmosfera de “cinema de bairro para crianças e adultos curiosos”. Ele exibe filmes para crianças durante a tarde e sessões à noite com cinema de ensaio em versões originais legendadas, além de oficinas e eventos — é tipo se Alice no País das Maravilhas tivesse dirigido um cinema independente.
Cinema dei Piccoli — Roma, Itália
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Cineteca Madrid — Madrid, Espanha
Cineteca Madrid é pra quem pensa que cine alternativo devia ter trono próprio: nasceu em 2011 no antigo Matadero de Madrid — galpão de frigoríficos e caldeiras convertidos com gosto e audácia arquitetônica —, e é dedicado a cinema de não-ficção, documentários, formatos híbridos, tudo aquilo que não entra no circuito comercial mas que te agarra pela mente. Tem três salas: Azcona (224 lugares), Plató (129), Borau (65), além de espaços multifuncionais como lobby, cantina, pátio e arquivo; recentemente substituiu projeção tradicional por projetor laser RGB puro na Sala Azcona, pra garantir cores vibrantes e atmosfera de imersão cinematográfica. Se Leo quis reclamar do tamanho das cadeiras de multiplex, aqui ele suspira aliviado por cada detalhe visível. Programação sempre antenada, debates, festivais, público que vai a cinema não só por ver filme, mas por estar no cinema.
The Labia Theatre — Cape Town, África do Sul
The Labia Theatre — Cape Town, África do Sul
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Se cinemas fossem pessoas, The Labia seria aquela tia elegante, com vestido vintage, boas histórias pra contar, mas que também aceita pagar boleto digital. Aberto em maio de 1949 (era um salão de baile da Embaixada Italiana antes disso), o cinema independente arte‑repertório sobrevive graças a um público fiel que curte desde blockbusters até festivais de cinema alternativo. O prédio tem quatro salas: uma de 176 lugares, outras de 95, 67 e uma íntima de 66 assentos — ou seja, há espaço pra multidão ou pra encontrar seu cantinho preferido. O interior conserva o charme do velho mundo: cabine de ingressos antiga, balcão de doces vintage, paredes de madeira, e café/bar charmoso no lobby. Adotou projeção digital há alguns anos, melhorou som, mantendo o espírito clássico. É o tipo de cinema onde você olha ao redor e espera que o aluguel da poltrona venha com oxigênio pros nostálgicos.
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