Uma enorme estrutura misteriosa em forma de letra “S” invertido surgiu no centro do Sol no dia 4 de setembro. O fenômeno foi registrado por observatórios espaciais, e antecedeu a ejeção de uma nuvem magnetizada de plasma com até 700 mil km de diâmetro – dimensão suficiente para engolir mais de 50 planetas do tamanho da Terra enfileirados.
A pluma de plasma, tecnicamente chamada de ejeção de massa coronal (EMC), destacou-se como uma mancha escura contra a superfície brilhante da estrela, já que sua temperatura era mais baixa do que a da região ao redor. O evento, classificado como uma erupção solar de classe M, projetou o material diretamente em direção ao nosso planeta, destaca o site Live Science nesta terça-feira (9).
Três dias depois, em 7 de setembro, a EMC alcançou a Terra e impactou a magnetosfera (o campo magnético que protege a superfície terrestre da radiação espacial). O choque provocou uma tempestade geomagnética de categoria G1, considerada leve.
Segundo o portal Spaceweather, tal efeito coincidiu com a ocorrência de um eclipse lunar total, conhecido popularmente como “lua de sangue”. Isso criou uma rara sobreposição de eventos astronômicos, embora poucas auroras tenham sido avistadas em latitudes médias.
O enigma do “S” solar
A curiosa formação, cerca de 10 vezes maior que a Terra, é apelidada de “erupção sigmoide”, e foi observada exatamente no centro do hemisfério solar voltado para o nosso planeta, a cerca de 125 mil km de diâmetro. O nome vem da letra grega sigma (Σ), equivalente ao “S” no alfabeto, e já havia sido associado anteriormente a erupções solares particularmente intensas.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Spaceweather, essas estruturas surgem quando os campos magnéticos ao redor das manchas solares se torcem como molas comprimidas, fazendo com que a região adquira a forma serpenteante do “S”. Esse formato costuma ser um prenúncio quase certo de instabilidade.
“Quando você vê um ‘S’ no Sol, geralmente significa que algo está prestes a explodir”, indica o veículo de comunicação. Em 2017, uma configuração semelhante foi registrada pouco antes de uma explosão solar de magnitude X9,3, considerada a mais poderosa em quase uma década, de acordo com um estudo publicado em novembro de 2024 no The Astrophysical Journal.
O que a ciência sabe até agora
Embora os astrônomos já associem a forma sigmoide a erupções, ainda há debate sobre sua origem exata. A explicação tradicional sugere que ela resulta da fusão de duas estruturas magnéticas em forma de “J”. Pesquisas mais recentes, como um artigo publicado em 2022 no The Astrophysical Journal, apontam que uma única estrutura em “J” pode se transformar em “S” devido ao deslizamento dos campos magnéticos.
A CME parecia uma sombra gigante ao sair do sol e desde então colidiu com a Terra
NASA/SDO
O fenômeno ganhou ainda mais relevância porque ocorre em meio ao atual máximo solar (fase mais ativa do ciclo de 11 anos da nossa estrela). Inicialmente, esperava-se um máximo moderado, mas o ciclo mostrou-se mais intenso e precoce do que o previsto, trazendo uma sucessão de eventos notáveis: tornados solares gigantes, ejeções canibais de plasma e auroras em latitudes incomuns.
Apesar de o máximo solar estar perto de seu fim, especialistas alertam que os próximos meses ainda podem registrar atividade elevada. A instabilidade dos campos magnéticos solares deve continuar produzindo tempestades espaciais, algumas delas capazes de interferir em satélites, comunicações e até redes elétricas na Terra.