Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
A mudança de Bob Wollheim para os Estados Unidos, em 2021, não foi apenas uma decisão estratégica de carreira, mas também um movimento pessoal cuidadosamente planejado. O mercado americano representava uma oportunidade imensa para a CI&T, onde atualmente ele está como sócio e vice-presidente. A empresa criada em Campinas, no interior de São Paulo, abriu capital em novembro desse mesmo ano na Bolsa de Nova Iorque (NYSE).
No entanto, a transição não foi simples. Mesmo com uma carreira de mais de vinte anos, sólida e reconhecida no Brasil, Bob se viu começando do zero em um novo contexto. A reputação construída ao longo de anos não se traduzia automaticamente no mercado americano, e isso mexeu com sua percepção de identidade profissional. Para enfrentar esse desafio, ele criou uma estratégia pessoal de posicionamento, escreveu um livro em inglês, o “Orchestration: The Art of Business & People” não para vender, mas para se apresentar. A iniciativa funcionou: ao distribuir o livro na escola do filho, Bob percebeu uma mudança imediata na forma como era percebido. A publicação virou seu cartão de visita.
Nesta conversa com a Forbes Brasil, Bob detalha esse processo, fala sobre negócios, tecnologia e a percepção de inovação sobre o Brasil no exterior. “Não temos reputação tecnológica como pais. Às vezes há curiosidade, mas não há crença de que o Brasil resolve problemas complexos com padrão mundial. E quando a conversa acontece. Aí sim. Contamos histórias como o Pix, bancos gigantes. O CTO entende os problemas e se conecta.”
Forbes Brasil – Como foi começar do zero nos EUA?
Bob Wollheim – Toda minha reputação no Brasil não significava nada lá. Isso mexe com o ego, mesmo você sendo bem resolvido profissionalmente. Escrevi um livro em inglês para me posicionar. Distribuí na escola do meu filho e tudo mudou. Virou meu cartão de visita.
FB – A CI&T fez o IPO em 2021, isso pavimentou esse novo momento de expansão da empresa onde você passa a atuar?
Bob – O IPO mudou o jogo? Sim. Passamos a jogar a Premier League. A expansão já vinha acontecendo, mas o IPO nos posiciona como empresa global. Não diretamente impacta o cliente, por ele quer solução. O capital aberto ajuda na percepção, mas não é o motivo pelo qual nos procuram.
FB – Como se posicionar como empresa global?
Bob – Não é só narrativa. É reputação, valor, marca. A frase “best kept secret”, (segredo mais bem guardado) ainda faz sentido, mas precisamos ser mais proativos. Quando levamos isso para a comunicação fizemos um teste com vídeos de várias empresas do nosso mercado e parecia tudo igual. Mesmo sem AI, era humano copiando humanos.
FB – A marca Brasil ajuda no pré-venda?
Bob – Muito pouco. Não temos reputação tecnológica como pais. Às vezes há curiosidade, mas não há crença de que o Brasil resolve problemas complexos com padrão mundial. E quando a conversa acontece. Aí sim. Contamos histórias como o Pix, bancos gigantes. O CTO entende os problemas e se conecta.
FB – O que falta para sermos reconhecidos como hub de inovação?
Bob – Temos unicórnios incríveis, mas não vieram da invenção científica. Aplicamos bem, mas ainda não inventamos.Eu diria que, se pensarmos no mundo empresarial de forma geral, não estamos tão distantes assim. Quando falo de mundo empresarial, estou me referindo a setores como os bancos brasileiros, a indústria automobilística e a área de saúde — sejam empresas nacionais ou multinacionais. Nesses segmentos, estamos relativamente bem posicionados. Por outro lado, ainda estamos longe quando se trata do universo da inovação, especialmente no que diz respeito a iniciativas como a OpenAI ou a criação de startups que não apenas aplicam tecnologias desenvolvidas em outros lugares, mas que de fato inventam novas soluções.
FB – E com a IA generativa isso se agrava ou melhora?
Bob – Nesse momento da inteligência artificial, acredito que o Brasil não está mal em termos de aplicações e usos. Somos um país criativo, e isso nos permite avançar rapidamente nesse campo. No entanto, quando falamos de desenvolvimento profundo — como a criação de um LLM — percebemos que essa capacidade ainda é rara na região. Poucos países no mundo têm isso. A Argentina, por exemplo, criou o Mercado Livre, e a Europa tem casos como o Spotify, mas são exceções. A concentração está nos Estados Unidos e na China.
FB – O que falta para termos uma OpenAI brasileira?
Bob – A pergunta é complexa. Sem dúvida, educação é um fator central — mas não pode ser uma educação convencional. Não adianta repetir modelos ultrapassados. Precisamos de uma nova geração de ensino, como fizeram China, Singapura e Coreia, que investiram em educação transformadora há 10, 15, 20 anos. Criar mais vagas em TI que ensinam conteúdos defasados não resolve. É preciso reformular o modelo e, além disso, despertar uma vibração nacional: o país precisa se sentir capaz, se posicionar, buscar e brigar por protagonismo. Há tantas oportunidades no mundo empresarial tradicional — bancos, saúde, indústria — que muitos empreendedores acabam desviando da invenção pura. Criar um LLM exige foco e energia, mas quando se olha ao redor, há tantos problemas urgentes a resolver que a tendência é optar por soluções mais imediatas. Temos unicórnios, decacórnios, empresas como iFood e NuBank, que geram enorme valor, mas que cresceram sobre plataformas já existentes. Não vieram da invenção científica. E é justamente esse salto que ainda nos falta.
com.br/">Forbes Brasil.