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1ª selfie no espaço é remasterizada junto de outras imagens da era pré-Apollo; veja


O restaurador digital Andy Saunders lançou recentemente, em 28 de agosto, seu novo livro, Gemini and Mercury Remastered (2025), em que apresenta versões inéditas e de alta qualidade de fotografias captadas durante as missões espaciais Mercury e Gemini. Esses programas foram as primeiras tentativas da humanidade de viver e trabalhar no espaço, sendo decisivos para o sucesso da corrida espacial dos Estados Unidos.
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Entre os destaques da obra está a primeira “selfie” no espaço, feita pelo astronauta Buzz Aldrin em 1966, durante a missão Gemini 12. A imagem, agora remasterizada, revela o astronauta flutuando no vazio cósmico, com a Terra ao fundo, em um registro que mistura pioneirismo tecnológico e emoção humana.
As missões Mercury e Gemini não só provaram que era possível enviar astronautas ao espaço e trazê-los de volta em segurança, como também serviram de campo de testes para técnicas fundamentais: caminhadas espaciais, encontros entre naves e voos de longa duração. Foi esse aprendizado que permitiu que a Nasa levasse o homem à Lua.
Restauração das imagens
Em entrevista à revista Sky at Night, da BBC, Saunders explicou que o processo de restauração envolveu o uso das digitalizações dos filmes originais da Nasa, guardados por décadas para evitar deterioração. Até pouco tempo, quase todas as reproduções disponíveis eram feitas a partir de cópias de segunda geração, o que resultava em imagens opacas, lavadas e sem a intensidade de cores originais.
A restauração exigiu um processo artesanal. Os negativos brutos não estavam prontos para serem exibidos diretamente, pois traziam consigo ruídos, distorções e camadas de envelhecimento químico. Saunders, que já havia se notabilizado ao localizar a bola de golfe perdida pelo astronauta Alan Shepard na Lua, aplicou técnicas modernas de processamento digital para “escavar” as informações escondidas em cada quadro.
Dessa forma, ele conseguiu resgatar cores, detalhes e texturas que estavam ocultos. “É como arqueologia: tirar o pó de um tesouro escondido e revelar algo extraordinário enterrado há décadas”, indica o especialista. “Absolutamente nenhuma IA foi utilizada.”
Não se buscou embelezar, reimaginar ou inventar as imagens, mas, sim, restaurar e trazer clareza a elas, simplesmente remover as camadas de idade, deterioração e duplicação da forma mais vívida e fiel possível. Por isso, o trabalho vai muito além de ajustes de contraste ou nitidez.
Em alguns casos, foi necessário aplicar técnicas semelhantes às usadas em astrofotografia, como o empilhamento de imagens, que permite reduzir ruídos e recuperar detalhes em sequências de filmes de 16 mm gravados no espaço. “Quando detalhes há muito perdidos reaparecem, é uma emoção indescritível. Parece revelar um tesouro que estava enterrado havia décadas”, avalia o restaurador. Veja os resultados:
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Importância histórica das missões
As imagens, lembra o portal IFLScience, são mais do que registros técnicos. Elas documentam conquistas cruciais para a exploração espacial. O Projeto Mercury foi o primeiro a levar americanos ao espaço, entre eles, Alan Shepard, que em 1961 enfrentou atrasos tão longos antes da decolagem que acabou precisando urinar dentro do traje espacial.
Já as missões Gemini serviram como “campo de treinamento” para a Apollo, testando manobras de encontro e acoplagem de naves, caminhadas espaciais e voos de longa duração. Foram experiências arriscadas, mas essenciais para que a Nasa conseguisse cumprir a meta de John F. Kennedy de colocar o homem na Lua antes do fim da década de 1960.
Essas jornadas também proporcionaram uma nova perspectiva sobre a Terra. Enquanto a Estação Espacial Internacional (ISS) orbita a cerca de 400 km de altitude, algumas missões Gemini atingiram mais de 1.200 km, oferecendo vistas únicas do planeta, ainda hoje consideradas entre as mais impressionantes da história da fotografia espacial.
Entre o passado e o futuro
Saunders acredita que o impacto dessas imagens vai além da estética: trata-se de uma lição sobre progresso. “Essas missões mostram que conquistas históricas são confusas, imperfeitas e conquistadas com esforço coletivo. Em um mundo de gratificação instantânea, elas nos lembram que as coisas mais significativas vêm da resiliência e de fazer o que é difícil”, disse ele ao site SWNS.
O restaurador também ressalta uma diferença fundamental entre a fotografia da era pré-Apollo e a digital contemporânea. Naquela época, cada disparo contava e havia poucas exposições disponíveis e os astronautas não podiam revisar instantaneamente o resultado. Isso fazia de cada clique uma aposta carregada de significado.
Hoje, com a expectativa de novas imagens das missões Artemis à Lua, Saunders se pergunta se a abundância de registros digitais não acabará diluindo a força que aquelas fotos em filme ainda transmitem. “Há algo muito especial na natureza finita do rolo de filme, e até na espera pelo retorno das missões para que as imagens pudessem ser reveladas”, conclui.