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Durante anos, o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) concentrou-se em modelos massivos operados a partir da nuvem, alimentados por grandes volumes de dados implementados de forma centralizada. No entanto, essa abordagem está evoluindo rapidamente. Hoje, a IA está migrando para a computação de borda (edge computing), onde os dados são processados diretamente no local em que são gerados, marcando uma mudança estratégica na infraestrutura tecnológica das organizações.
Esse novo paradigma impulsiona três tendências-chave que os líderes empresariais devem considerar:
- 1) Adoção de arquiteturas na borda;
- 2) Avanço de agentes autônomos inteligentes — conhecidos como IA agêntica;
- 3) Aprendizado colaborativo, que redefine como os modelos de IA são treinados e implantados.
Essas tendências não apenas transformam a tecnologia, mas também abrem novas oportunidades para melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e acelerar a tomada de decisões.
A abordagem tradicional de “nuvem primeiro” está dando lugar a configurações híbridas que combinam dispositivos locais, computação na borda e capacidades em nuvem dentro de um ecossistema conectado. Essa mudança não é apenas técnica, mas estratégica: permite que as organizações processem dados em tempo real, exatamente onde os eventos críticos ocorrem — como em plantas industriais, hospitais ou redes de infraestrutura.
Segundo um estudo da consultoria IDC, encomendado pela Associação Brasileira de Empresas de Software (ABES), o Brasil figurou na 10ª posição global de investimentos de TI em 2024, totalizando US$ 58,7 bilhões.
Ainda segundo dados divulgados pela ABES, a computação de borda deve acumular US$ 4 bilhões em recursos aplicados em hardware, software e serviços até o fim de 2025.
Considerando o contexto anterior de um ecossistema conectado, um dos avanços mais disruptivos é o uso da IA agêntica. Em setores como manufatura, saúde e energia, essa tecnologia permite que agentes inteligentes na borda detectem falhas, se comuniquem entre si e corrijam desvios de forma autônoma. Isso elimina a necessidade de enviar dados para a nuvem para processamento, reduzindo custos, tempos de resposta e riscos operacionais.
Por exemplo, em aplicações industriais, modelos de visão computacional já realizam inspeções de qualidade em tempo real. No entanto, a abordagem tradicional de retreinar modelos na nuvem é lenta e ineficiente. A IA agêntica resolve esse desafio ao permitir que os sistemas se adaptem localmente, melhorando a precisão e a produtividade.
O modelo tradicional de treinamento centralizado enfrenta desafios crescentes, como altos custos de tráfego de dados, riscos de privacidade e latência. Em resposta, o aprendizado colaborativo está ganhando espaço.
Essa abordagem permite treinar modelos localmente e transmitir apenas atualizações para o repositório central, otimizando o uso da largura de banda e fortalecendo a proteção de dados.
Para os líderes empresariais, isso significa que os dados mais valiosos — aqueles gerados em tempo real na borda — podem ser aproveitados de maneira mais ágil e segura, permitindo decisões estratégicas com maior rapidez.
Para capitalizar essas tendências, as organizações devem investir em uma infraestrutura robusta, flexível e escalável, que integre dispositivos, bordas inteligentes, centros de dados locais e nuvens públicas ou privadas. Além disso, será crucial garantir a interoperabilidade entre agentes, modelos e sistemas empresariais, bem como manter um desempenho operacional eficiente com custos controlados.
Embora o treinamento de modelos continue sendo relevante na nuvem, o verdadeiro valor da IA se materializa na borda: onde os dados são processados, decisões críticas são tomadas e resultados são gerados. As organizações que compreenderem essa evolução e modernizarem sua infraestrutura tecnológica estarão mais bem posicionadas para liderar em um ambiente empresarial cada vez mais competitivo.
Para os líderes empresariais, essa transição não é apenas uma questão tecnológica, mas uma oportunidade estratégica de transformar seus negócios e capturar o valor da próxima geração da inteligência artificial.
Luis Gonçalves é presidente da Dell Technologies para a América Latina.
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