A pandemia de COVID-19 redefiniu nossa relação com a tecnologia, gerando uma demanda sem precedentes por computadores pessoais. Os anos de 2020 e 2021 testemunharam o maior crescimento do mercado de PCs em uma década, e milhões de brasileiros adquiriram notebooks que se tornaram ferramentas indispensáveis para o trabalho e o estudo remotos. Agora, quase cinco anos depois, essa geração de aparelhos está atingindo o ponto “limite”. Com uma vida útil média que varia de 3 a 5 anos, o seu fiel companheiro da pandemia pode estar começando a mostrar sinais de cansaço, com lentidão e uma bateria que já não dura como antes.
Esses não são problemas isolados, mas sintomas de um desgaste natural acelerado pelos softwares atuais, que são muito mais exigentes. Para aprofundar a análise e explicar as causas técnicas de cada sintoma, o TechTudo conversou com Kemps Moreira, analista de tecnologia e infraestrutura, especialista em dispositivos como notebooks e desktops. A seguir, detalhamos os principais sinais de que está na hora de aposentar seu notebook e explicamos o motivo pelo qual insistir em reparos pode não ser a melhor escolha.
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Seu notebook comprado durante a pandemia pode estar com os dias contados
Divulgação/HP
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Neste guia, você verá que os principais indicativos de que está na hora de “aposentar” o seu notebook da pandemia são:
Bateria viciada (ou “notebook com fio”)
Lento, mesmo com armazenamento em SSD
Superaquecimento por nada
Barulhos estranhos
Não é compatível com sistemas operacionais atuais
Tela azul e tela preta são frequentes
Defeitos físicos
Bônus: o risco corporativo para empresas
1. Bateria viciada (ou “notebook com fio”)
O primeiro e mais perceptível sinal de envelhecimento de um notebook é a falha da sua principal característica: a portabilidade. O problema se manifesta de forma clara no dia a dia, quando você desconecta o aparelho da tomada e, em poucos minutos, o ícone da bateria já exibe um alerta vermelho. Uma reunião online ou uma aula se tornam uma busca ansiosa por um carregador. Na prática, seu notebook “portátil” se transformou em um “desktop com fio”, um aparelho que só funciona quando está permanentemente conectado à energia, eliminando a flexibilidade que o tornou uma ferramenta tão essencial.
O especialista Kemps Moreira explica como esse problema afeta diretamente a rotina: “Imagine a seguinte situação: você está no meio de uma reunião ou apresentando um trabalho e, de repente, o notebook desliga. Isso acontece porque a bateria já não segura carga, e você se torna refém da tomada”. Essa degradação ocorre devido ao desgaste químico natural das baterias de íon-lítio, que suportam um número limitado de ciclos de carga antes de perderem sua capacidade.
Em casos mais graves, a degradação química pode levar ao estufamento da bateria, um fenômeno perigoso capaz de danificar o teclado e o trackpad, além de representar um risco de incêndio. Segundo o analista de infraestrutura, a falha da bateria é um dos sinais mais claros do fim do ciclo de vida de um aparelho. “O cuidado no uso ajuda a prolongar essa vida útil, […] mas o ‘fim’ de um notebook é inevitável. E com o passar do tempo, chega um momento em que a manutenção e os reparos não compensam mais e a troca é a melhor ou até mesmo a única escolha”, afirma.
Uma bateria ‘viciada’ é o primeiro sintoma de um notebook que está chegando ao fim
Filipe Garrett/TechTudo
2. Lento, mesmo com armazenamento em SSD
Um dos maiores avanços na experiência de uso de computadores foi a popularização dos SSDs frente aos tradicionais HDs, e provavelmente seu notebook da pandemia é equipado com um, para garantir velocidade e fluidez. No entanto, mesmo com essa tecnologia, tarefas que antes eram instantâneas, como abrir o navegador com algumas abas e outros aplicativos ao mesmo tempo, agora transformam o notebook em uma carroça, com “engasgos” e uma irritante demora para responder. Esta é a manifestação de um fenômeno conhecido como “gargalo” (bottleneck).
“Este talvez seja o sinal mais comum e frustrante. O notebook demora para ligar, os programas levam uma eternidade para abrir, e até tarefas simples se tornam lentas. Isso acontece porque o hardware, como o processador e a memória RAM, já não acompanham as exigências dos softwares atuais”, explica Kemps Moreira.
Em um computador, o desempenho geral é sempre limitado pelo seu componente mais lento. Muitos notebooks de 2020/2021, para manter o preço competitivo, foram equipados com 8 GB de RAM e processadores mais antigos, que hoje são insuficientes para as demandas de sistemas operacionais e aplicativos modernos.
Mesmo com SSDs, o computador pode entrenfar os chamados “gargalos”
Reprodução/Kingston
O resultado é que o processador e a pouca memória RAM não conseguem mais dar conta do volume de dados que o SSD é capaz de entregar, criando o famoso gargalo. Moreira descreve o impacto disso na rotina: “A lentidão se manifesta em momentos de pico de trabalho. Você tenta abrir um programa e ele trava, seu navegador de internet demora para carregar uma simples página. […] A sensação é de que o notebook está sempre lutando para te acompanhar, tornando o seu dia a dia menos produtivo e muito mais estressante”.
3. Superaquecimento por nada
Outro sintoma clássico de um notebook envelhecido é o aumento excessivo e constante da temperatura. A base do aparelho esquenta a ponto de se tornar desconfortável, mesmo durante tarefas leves como navegar na internet, e a ventoinha (cooler) dispara em rotação máxima, produzindo um ruído alto e persistente que antes só era ouvido em atividades pesadas. Este é um sinal claro de que o sistema de arrefecimento do seu notebook está comprometido e não consegue mais trabalhar de forma eficiente.
As causas para esse superaquecimento crônico geralmente são físicas e se desenvolvem ao longo do tempo. A principal delas é a obstrução das saídas de ar por poeira, cabelos e outros detritos, que bloqueiam o fluxo de ar e aprisionam o calor dentro do chassi. Outro fator é a degradação da pasta térmica, um material que faz a ponte de calor entre o processador e o dissipador. Após anos de uso, essa pasta resseca e perde sua eficácia, fazendo com que o calor fique “preso” no processador.
Para se proteger, o notebook ativa um mecanismo de defesa chamado thermal throttling, no qual ele reduz drasticamente seu próprio desempenho para gerar menos calor. É por isso que o aparelho fica tão lento quando está quente. Kemps Moreira descreve a ação: “O superaquecimento se manifesta de forma bem notável. O notebook começa a esquentar no seu colo ou na mesa, o cooler faz um barulho alto e constante, e o desempenho cai drasticamente para evitar que ele sobreaqueça ainda mais. A experiência é bem ruim”.
Aplicação de pasta térmica no processador ajuda a diminuir o superaquecimento.
Reprodução/Freepik: vladyslavhoroshevych
4. Barulhos estranhos
Um notebook saudável deve operar de forma relativamente silenciosa. Com o tempo, no entanto, você pode começar a notar ruídos que não existiam antes, como cliques, estalos ou um som de algo “raspando”. Esses sons são mais do que um incômodo; são diagnósticos auditivos de que componentes físicos estão prestes a falhar. Um som de “arranhado” ou um chocalho, por exemplo, geralmente indica que o rolamento da ventoinha (cooler) está desgastado e prestes a parar de funcionar, o que agravaria o superaquecimento.
Se o seu notebook for um modelo mais antigo que ainda utiliza um disco rígido mecânico (HDD), cliques rítmicos e repetitivos são um alerta crítico. Esse som, conhecido como o “clique da morte”, é um sinal inequívoco de falha mecânica interna e indica que você deve fazer um backup imediato de todos os seus dados, pois a perda total dos arquivos pode ocorrer a qualquer momento. Outro ruído comum é um zumbido elétrico agudo, chamado de coil whine, que geralmente é inofensivo, mas se aparecer subitamente e pode indicar estresse em algum componente elétrico.
A diferença entre a lentidão (que pode ser um desgaste natural) e barulhos estranhos ou travamentos é que esses últimos indicam uma falha crítica, que pode levar a perda de dados
Segundo o especialista, os ruídos não são apenas um incômodo, mas “avisos de que um componente físico importante está falhando”. Ignorar esses sons é arriscar uma falha completa que pode levar desde o superaquecimento descontrolado até a perda irrecuperável de seus arquivos importantes.
SSDs são os mais comuns em notebooks comprados na pandemia
Reprodução/Enterprise Storage
5. Não é compatível com sistemas operacionais atuais
Um dos sinais mais definitivos de que um notebook chegou ao fim de sua vida útil não está no seu desempenho, mas na sua capacidade de se manter seguro. O problema se manifesta quando você tenta instalar um novo sistema operacional, como o Windows 11, e recebe uma mensagem de que seu hardware não atende aos requisitos mínimos, ou quando o Windows 10 informa que seu suporte oficial está chegando ao fim (outubro de 2025). Isso significa que seu aparelho não poderá mais rodar as versões mais recentes e seguras do sistema operacional.
A principal barreira técnica que impede muitos notebooks da era pandêmica de rodarem o Windows 11 é a exigência do chip de segurança TPM 2.0, que muitos modelos daquele momento não foram equipados, para cortar custos.
“Esta é a maior e mais perigosa consequência. Sistemas operacionais antigos param de receber atualizações de segurança e correções de falhas, tornando o notebook um alvo fácil para vírus, ataques e roubos de dados. É como andar com um carro sem cinto de segurança”, adverte Kemps Moreira.
Sem as correções, seu notebook se torna um alvo fácil para vírus, roubo de dados e ataques de ransomware, que podem “sequestrar” todos os seus arquivos. A incompatibilidade, portanto, não é apenas uma questão de não ter os recursos mais novos: é uma questão de segurança e funcionalidade que torna o equipamento inadequado para o uso diário.
6. Tela azul e tela preta são frequentes
No meio de uma tarefa importante, sem qualquer aviso, a tela do seu notebook subitamente fica azul (ou preta, no Windows 11) e o computador reinicia sozinho. Este evento, conhecido como “Tela Azul da Morte” (BSOD), que antes era raro na sua rotina, agora se tornou um visitante frequente. Cada reinicialização forçada vem com o medo de perder o trabalho não salvo e a crescente desconfiança na confiabilidade do seu equipamento, um sinal claro de instabilidade profunda.
Clássica tela azul do Windows é um sinal de problemas críticos no notebook
Reprodução/Windows
A Tela Azul não é a causa do problema, mas a reação do sistema a um erro crítico. É um mecanismo de proteção: quando o Windows detecta uma falha de hardware tão grave que não pode continuar operando de forma estável, ele interrompe tudo para evitar a corrupção de dados e força uma reinicialização. Em notebooks envelhecidos, as causas mais comuns são falhas físicas na memória RAM, setores defeituosos no SSD ou superaquecimento crítico.
Enquanto uma única Tela Azul pode ser um evento isolado, sua repetição é um sintoma alarmante. Kemps Moreira classifica este como um dos “sinais mais graves” de que o aparelho chegou ao fim.
A tela azul significa que o sistema operacional encontrou o que chamamos de erro fatal ou crítico e não consegue mais funcionar. É como se o notebook ‘desmaiasse’ por causa de um problema sério de saúde
7. Defeitos físicos
Após anos de serviço, o desgaste físico do seu notebook começa a se manifestar de maneiras que afetam diretamente a usabilidade. A tampa não fecha mais corretamente porque a dobradiça está frouxa ou quebrada; uma rachadura visível apareceu na carcaça perto de uma porta USB; algumas teclas do teclado pararam de funcionar. Esses não são apenas problemas estéticos; eles indicam que a integridade estrutural do notebook está falhando e que o risco de danos a componentes internos, como o rompimento do cabo da tela, aumenta consideravelmente.
A decisão de consertar ou não um defeito físico deve ser pragmática. Segundo Kemps Moreira, a regra geral é simples: “quando o custo do conserto de um ou mais defeitos se aproxima do valor de um notebook novo, a substituição é a melhor escolha”. Ele alerta que o reparo da tela é um dos mais caros, e que mesmo a troca de um teclado em notebooks modernos pode ter um custo elevado, pois muitas vezes a peça é integrada à carcaça superior.
Nem sempre reparos em notebooks mais velhos valem a pena
Daniel Trefilio/TechTudo
Investir um valor alto no conserto de um aparelho que já sofre com lentidão, bateria ruim e incompatibilidade de software é, na maioria das vezes, um dinheiro mal gasto. A troca por um equipamento novo oferece garantia, desempenho e segurança superiores. Um notebook de entrada atual, por exemplo, já vem com 16 GB de RAM e processadores com unidades dedicadas para IA, representando um salto geracional massivo em comparação com um modelo de 2020, o que justifica o investimento em uma nova ferramenta de trabalho.
8. Bônus: o risco corporativo para empresas
A decisão de trocar um notebook antigo se torna ainda mais crítica no ambiente corporativo, onde a aparente economia de estender a vida útil de um equipamento pode se transformar em um prejuízo muito maior. Para uma empresa, um notebook defasado não é apenas uma ferramenta de trabalho lenta, mas uma grave vulnerabilidade de segurança. A falta de compatibilidade com as atualizações mais recentes do sistema operacional transforma o aparelho em uma porta de entrada para ataques cibernéticos.
“Esse é o principal e mais aparente de todos [os riscos]. Um notebook sem atualizações é uma porta de entrada para a rede da empresa. Uma única máquina infectada pode comprometer toda a rede corporativa, levando a ataques de ransomware, roubo de dados, ou vazamento de informações sigilosas de clientes”, alerta Kemps Moreira.
Isso pode resultar não apenas em prejuízo financeiro direto, mas também em pesadas multas por não conformidade com leis como a LGPD. Moreira explica que a falta de cuidado com a “linha de frente” da tecnologia de uma empresa, que são os notebooks dos funcionários, é uma certeza de vulnerabilidade. “Ao explorar as vulnerabilidades de um notebook desatualizado, o hacker não apenas compromete a máquina em si, mas obtém um ‘cavalo de Troia’ dentro da rede da empresa”, afirma. O que para o usuário doméstico é um risco pessoal, para uma empresa é um problema estratégico que compromete a segurança, as finanças e a competitividade do negócio como um todo.
Com informações de Microsoft, HP, Itarian e Asus
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