Depois de obras de conservação e modernização interna que duraram seis anos, o Palácio Capanema está sendo parcialmente reaberto ao público. Recentemente, um dos maiores símbolos da arquitetura moderna foi palco para o desfile da coleção verão 2026 de Lenny Niemeyer, que voltou ao Rio depois de quase uma década em São Paulo. Estampas e modelos inspirados em Inhotim, em Minas Gerais, combinaram com os traços do prédio de pilotis abertos e jardins suspensos de Burle Marx – onde foi realizado um coquetel ao final da tarde. Segundo a estilista, bastou ver a nova fachada durante um passeio de carro para entender que lá tinha tudo a ver com a proposta estética da marca.
Foram mais de R$ 80 milhões investidos na revitalização do espaço no Centro, que se tornou um marco cultural carioca. No Rio, aliás, não faltam palácios centenários, que captam o olhar como aconteceu com Lenny. Muitas das construções remontam aos séculos XIX e XX, e serviram de residência para famílias nobres. Veja abaixo um roteiro que promove uma viagem no tempo em vários pontos da cidade.
Palácio Gustavo Capanema
Palácio Gustavo Capanema
Divulgação
Projetado em 1936 para receber o antigo Ministério de Educação e Saúde, o prédio é assinado por arquitetos consagrados, como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy. Com 16 pavimentos, é um marco da arquitetura moderna. Foi inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas e impressiona com os azulejos no revestimento do térreo e nas paredes laterais do auditório, desenhados por Cândido Portinari. O endereço ainda conta com esculturas de Bruno Giorgi, Vera Janacópulus e Celso Antônio, além de um jardim suspenso de Roberto Burle Marx. “Referências importantes na tradição brasileira foram resgatadas pelos profissionais responsáveis por essa construção”, destaca o diretor do departamento de patrimônio material do Iphan, o arquiteto Andrey Rosenthal Schlee. Fechado desde 2019 para restauração, ele acaba de ser reaberto – além de ter recebido o desfile de Lenny Niemeyer no último sábado (23.08), também está promovendo visitas mediadas por estudantes da UFRJ, individuais ou em grupo.
Rua da Imprensa, 16, Centro.
Ilha Fiscal
Ilha Fiscal
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Você deve ter ouvido falar dela por causa da festança dos 30 anos de Bruna Marquezine que badalou o local na sexta (15.08). Mas sua fama vem de muito antes, quando sediou o evento conhecido como “O Último Baile do Império”, realizado dias antes da Proclamação da República, em 1889. O atual nome vem do fato de ali ter funcionado o posto da Guarda Fiscal, que atendia o porto da capital na época. Idealizado pelo engenheiro Adolpho José Del Vecchio em estilo neogótico-provençal, o castelinho – como é chamado por cariocas e turistas – foi transferido para a Marinha do Brasil em 1913 e faz parte do Complexo Cultural da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), que preserva a história naval brasileira. Também passou um ano e meio fechado para recuperação estrutural e recebe uma média de 40 mil visitantes anualmente. O passeio pode ser feito por meio de uma escuna ou via terrestre, e guias acompanham o trajeto que revela um caça de interceptação e ataque, os carros de combate e a Nau dos Descobrimentos, entre outras curiosidades. O palácio ainda guarda a Galeota D. João VI, embarcação mais antiga preservada no Brasil, de 1808, e que servia para transportar a família real portuguesa.
Boulevard Olímpico, s/nº, Praça XV | @ilhafiscaldamarinha
Casa Firjan
Casa Firjan
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Conhecido como Palacete Linneo de Paula Machado, o edifício de dois andares em estilo romântico foi projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire (1872-1933), o mesmo de construções icônicas como o Copacabana Palace e o Hotel Glória. Foi erguido em 1906 por Eduardo Palassin Guinle – patriarca da família Guinle no Brasil, fundador da Companhia Docas de Santos. Depois da morte do último morador, em 2005, ficou desocupado até que, em 2012, foi comprado pela Firjan. Após um longo processo de restauros, foi transformado em um espaço de inovação. Lá são realizados cursos, palestras, debates e exposições, além de uma intensa programação cultural no jardim, onde se espalham várias obras de arte. O programa fica melhor ainda com uma visita ao Empório Jardim, reconhecido por ter o melhor pão de queijo do Rio. Dica para a família: no dia 30 de agosto, o local promove a atração A Casa Conta, destinada a crianças com mais de 10 anos, que usa a própria arquitetura como fonte de aprendizado.
Rua Guilhermina Guinle, 211, Botafogo | @casafirjan
Museu da República
Museu da República
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Em julho, o Palácio do Catete voltou a receber o público, depois de fechar para uma restauração completa do complexo arquitetônico e paisagístico. Sede da Presidência da República no período de 1897 a 1960, foi cenário de intensas articulações políticas, como as declarações de guerra à Alemanha, em 1917, e ao Eixo, em 1942. O projeto de Gustav Waehneldt é um exemplo do ecletismo do século XIX, combinando influências do neoclassicismo e da decoração em estilo renascentista italiano. O casarão guarda objetos dos políticos, peças de arte, mobiliário da época, bem como o quarto onde Getúlio Vargas tirou a vida em 1954, carregado por um clima de tensão. É uma delícia passear pelos jardins, onde costumam ser realizados eventos em torno do lago com patinhos e uma gruta. A reabertura do primeiro pavimento acontece junto com a exposição “Crônicas de uma Barbárie”, do chargista Carlos Latuff, que traz uma reflexão sobre os impactos sociais e políticos da pandemia de Covid-19.
Paço de São Cristóvão
Palácio Gustavo Capanema
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O edifício localizado na Quinta da Boa Vista serviu como lar para a Família Real de 1808 até 1889. No período republicano, abrigou o plenário da Constituinte do Brasil, e desde 1892 é sede do Museu Nacional. São 13 mil m² de área construída, com projeto do arquiteto gaúcho Manuel Araújo Porto-Alegre em linha neoclássica. Grande parte foi destruída em um grave incêndio ocorrido em 2018. Após um longo processo de recuperação, em andamento até hoje, três áreas foram abertas com a exposição temporária “Entre Gigantes: uma Experiência no Museu Nacional”, que vai até o dia 31 de agosto. As pessoas podem reencontrar o meteorito Bendegó, parte do acervo do museu há 137 anos; conferir detalhes sobre a história e a reconstrução do palácio, com detalhes da arquitetura; e ver ainda o esqueleto de uma baleia cachalote com quase 16 metros de comprimento, que parece nadar afixado ao teto. “Precisamos devolver à sociedade um prédio histórico, que manterá as marcas da tragédia, ressignificando o fato através da democratização, com acessibilidade plena e novas exposições”, frisa Patrícia Wanzeller, superintendente do Iphan.
Quinta da Boa Vista | @museunacionalufrj
Paço Imperial
Paço Imperial
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O local serviu como palco para importantes acontecimentos de nossa história. Foi residência de Dom João VI e, após a Proclamação da República, nele foram instalados os Correios e Telégrafos. Depois de uma restauração em 1980, virou um espaço multicultural, com programação de música, artes visuais e cênicas, além do charmoso Bistrô do Paço. O local abriga também a Biblioteca Paulo Santos, originária do acervo particular do arquiteto e historiador. É o mais antigo dos palácios cariocas, erguido entre 1738 e 1743 em estilo barroco. Atenção ao piso na entrada, revestido de pedra de lioz, uma espécie de mármore português – os elementos originais são mesclados com outros contemporâneos, como obras de Aleijadinho, Maria Clara Machado, Hélio Oiticica e Mestre Valentim. Outro cômodo que merece a visita é a Sala do Dossel, de onde Dom Pedro I anunciou que não retornaria a Portugal, ocasião que ficou conhecida como Dia do Fico.
Praça Quinze de Novembro, 48, Centro | @pacoimperial_rj
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