Wuchang: Fallen Feathers é uma nova aposta no gênero soulslike, popularizado por Dark Souls, e que acendeu o interesse dos fãs pela sua qualidade. Destaque no Summer Game Fest, em junho, o RPG de ação é produzido pelo estúdio chinês Leenzee Games e não esconde o público que quer atingir: entusiastas de desafio e principalmente de mecânicas táteis, em que cada comando significa um grande comprometimento por parte do jogador. O lançamento está agendado para esta quarta-feira (23), com preços que variam entre R$ 199 no Steam e R$ 284 no PlayStation 5 (PS5). No Xbox Series, o título é listado por R$ 289,99, mas também estará disponível para assinantes do Xbox Game Pass.
A aventura se passa no fim da Dinastia Ming, no Reino de Shu, em um cenário que mistura a estética de fantasia sombria e locais do mundo real — incluindo alguns que ainda podem ser visitados nos dias de hoje. Embora não tenha ideias muito originais, trata-se de um jogo bem realizado e que instiga a curiosidade. No entanto, ele paga o preço de más decisões de game design a ponto de prejudicar toda a diversão com o título. Ficou curioso? O TechTudo teve a oportunidade de testar Wuchang: Fallen Feathers antecipadamente no PS5 e conta as impressões, em detalhes, no review a seguir.
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WUCHANG: Fallen Feathes chama a atenção com sua estética de fantasia sombria no fim da Dinastia Ming
Divulgação/505 Games
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Wuchang: Fallen Feathers é soulslike que se perde nos clichês do gênero; review
Narrativa não-linear em um mundo arruinado;
Punitivo ao ponto de perder a graça;
Gameplay traz boas ideias ao estilo cadenciado dos soulslikes;
Visuais e problemas sérios de desmpenho;
Wuchang: Fallen Feathers vale a pena?
Narrativa não-linear em um mundo arruinado
Passando rapidamente pela história, Wuchang: Fallen Feathers coloca os jogadores na pele da personagem-título, uma habilidosa pirata que está sofrendo de amnésia. Isso é uma consequência de uma praga epidêmica que está acometendo a população: uma doença chamada de Plumagem. Como o nome sugere, a praga se caracteriza pelo surgimento de penas no corpo das pessoas. No começo, os sintomas envolvem perda de memória. Em seguida, os afetados ficam rapidamente descontrolados e se transformam em monstros, atacando outras pessoas indiscriminadamente.
Embora esteja afetada por essa condição, Wuchang não se transformou em um monstro e aparenta ser especial. Ela apenas perdeu suas memórias e foi resgatada por um humilde médico da região, que trata outras vítimas e precisa de ajuda para controlar a praga. Desta forma, o principal objetivo do jogador consiste em reunir pistas do passado da protagonista. Além disso, é preciso explorar o mundo e lidar com facções e monstros grotescos que estão por todos os lados — ajudando (ou não) as pessoas necessitadas pelo caminho.
Wuchang: Fallen Feathers traz muitos elementos familiares ao gênero soulslike, desde construção narrativa a gameplay
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A forma como o jogador se engaja com esse mundo tem grande influência nos seus desdobramentos e entendimento da narrativa. Por isso, não espere um enredo linear ou uma protagonista particularmente carismática. Os mistérios que você soluciona, lugares que descobre, NPCs com os quais se alia e outras escolhas importantes vão determinar o rumo da história. Isso envolve até mesmo os tipos de inimigos que você mata: caso sejam humanoides, Wuchang tende a acelerar seu enlouquecimento e isso é utilizado como uma mecânica dentro do jogo. Essa condição aumenta consideravelmente o seu dano provocado, mas também o recebido, por exemplo.
Não se trata de uma história que prende a nossa atenção, pois o foco do jogo está muito mais no seu gameplay e ambientação, mas ela cumpre o papel de guiar o jogador pelo mundo e o convida a “ligar pontos” com as informações que são obtidas pelo caminho. É algo feito com a intenção de fomentar discussões e descobertas da comunidade, assim como acontece com os títulos mais populares da FromSoftware. Dito isso, espere uma campanha com pelo menos 40 horas de duração, especialmente em razão do processo de tentativa e erro nos momentos de travessia e batalhas contra chefes.
Os cenários de Wuchang: Fallen Feathers têm arquétipos bem definidos e estão recheados de armadilhas para punir o jogador
Divulgação/505 Games
Punitivo ao ponto de perder a graça
Sou uma pessoa com bastante tolerância para jogos desafiadores, e entendo o sentimento de recompensa ao dissecar padrões de ataque que pareciam indecifráveis à primeira vista. Naturalmente, como um soulslike, Wuchang: Fallen Feathers entrega bastante disso. No entanto, o jogo exagera na dose e parece não entender exatamente o que torna esse tipo de jogo tão satisfatório para início de conversa. Logo nas primeiras horas, o jogador é surpreendido por investidas e armadilhas injustas, que não dão margem para reação e não têm outra forma de evitá-las a não ser morrendo uma primeira vez.
Por exemplo, o jogo traz pequenos santuários que funcionam como as clássicas fogueiras, onde o jogador pode descansar para recuperar vida e suprimentos, além de melhorar sua personagem. No segundo santuário, quando ainda nem estamos acostumados com o loop de gameplay, ele já se trata de um mímico e que pune o jogador a troco de nada. O game prega esse tipo de “pegadinha” o tempo inteiro, desde as horas iniciais, acarretando mortes injustificáveis e atrasando o progresso apenas por pirraça.
Wuchang: Fallen Feathers tem um level design cuja filosofia é ser punitivo a troco de nada — e isso não diz nada em seu favor
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Outro momento muito emblemático foi em um cenário coberto de neve, repleto de minas explosivas em seus caminhos labirínticos. Elas não apenas eram numerosas e difíceis de enxergar, mas também eram acionadas ao tentar desviar de inimigos. Houve até mesmo um momento em que uma pedra gigante veio rolando escadaria abaixo e, na hora de desviar, havia uma mina explosiva posicionada estrategicamente para punir a movimentação. Foi um dos momentos mais maçantes e desagradáveis de toda a gameplay.
Tudo isso é agravado pela distância entre os pontos de salvamento e problemas de performance, tornando a jogatina muito cansativa e repetitiva. Para mim, é impossível entender esse tipo de punição injusta como um bom game design. Se fosse algo pontual, até daria para relevar, mas o jogo faz disso a sua razão de existir e acaba se perdendo desnecessariamente na pretensão vazia de ser “desafiador” e “hardcore”.
Gameplay traz boas ideias ao estilo cadenciado dos soulslikes
Wuchang: Fallen Feathers não reinventa a roda, mas traz mecânicas que tornam a curva de aprendizado do seu gameplay interessante. A principal gira em torno do seu sistema de esquiva que, caso executada no momento exato, garante um recurso utilizado para desferir golpes mais poderosos — desde feitiços a combos. Esse é um recurso que também pode ser utilizado para trocar rapidamente para uma segunda arma que a protagonista tiver equipada, executando um ataque especial no processo.
Os chefes também são o elemento central da experiência de Wuchang: Fallen Feathers
Divulgação/505 Games
Embora a gameplay seja cadenciado ao ponto de sentirmos o peso de cada movimento, ele ainda oferece um dinamismo interessante e que desperta a curiosidade em se aprofundar. É legitimamente divertido explorar os diferentes combos e armas, cada uma com sua própria árvore de melhorias. Mas aqui voltamos ao problema da frustração. É natural que o jogador aposte na sua zona de conforto para atravessar os desafios muitas vezes injustos. E o motivo é simples: falta de paciência. Como tudo existe com o propósito de punir, não há muita recompensa em explorar outras armas e golpes.
Muitas dessas técnicas mais poderosas têm animações demoradas, e alguns inimigos simplesmente não são interrompidos ao serem atingidos. Então, o jogador acaba sofrendo dano sem a chance de se esquivar. Além disso, as melhorias para as armas tendem a ficar bastante custosas, levando tempo para angariar pontos suficientes. Por isso, é mais viável focar apenas em um estilo de arma para minimizar o sofrimento. A minha recomendação é a espada longa, que posteriormente permite desbloquear a habilidade de aparar os golpes dos adversários.
Visuais e problemas sérios de desempenho
Um dos motivos pelos quais o jogo chamou bastante atenção nos eventos de anúncios foi a sua apresentação visual. Ele realmente capricha na direção artística, em especial nos cenários e design de chefes. Também há bastante variedade nesse sentido: os ambientes sempre têm temáticas e características muito distintas, remetendo a arquétipos que também vimos em outros jogos do estilo — pântanos venenosos, minas de mineração, assentamentos rebeldes, castelos imperiais, florestas amaldiçoadas etc.
Jogando no PS5, mesmo no Modo de Performance, o jogo enfrentou sérios problemas de desempenho. Não foram raros os momentos em que a ação congelava completamente por vários segundos. Também havia muitas quedas na taxa de quadros por segundo (FPS) e o game também fechou de maneira inadvertida em uma das fases mais cansativas da gameplay, enquanto eu me dirigia a um chefe.
Wuchang: Fallen Feathers vale a pena?
Wuchang: Fallen Feathers é um jogo com potencial, mas que se esconde por baixo de más decisões de design. A principal delas é a necessidade de punir cada movimento do jogador desde os primeiros instantes, com armadilhas injustas e sem sentido. Por mais que os cenários consigam atrair o interesse para explorar cada cantinho, o tempo perdido ao lidar com as “traquinagens” do level design é muito desencorajador e torna a experiência cansativa.
A sensação é de que o game tirou as lições erradas daquilo que torna um soulslike divertido e recompensador. Mesmo para jogadores interessados em títulos desafiadores e acostumados a morrer, a tendência é de que o jogo fique maçante com muita facilidade. Você é punido até mesmo por sair da área de um chefe, após derrotá-lo. A junção disso tudo leva o usuário a adotar apenas uma zona de conforto, deixando de lado outras mecânicas e armas que podiam ser interessantes para a jogatina, mas que levam tempo e esforço até serem plenamente utilizáveis.
Wuchang Fallen Feathers foca em batalhas de espadachins e conceito oriental
Reprodução/YouTube
O jogo ganha pontos pela sua estética, ambientada na China antiga, e qualidade visual como um todo, mas sofre bastante com problemas de performance — desde travadas a quedas de FPS, afetando a gameplay. Tendo em vista sua disponibilidade no Game Pass, Wuchang: Fallen Feathers pode ser uma boa pedida para jogadores que busquem um novo RPG de ação para conhecer e passar o tempo. No mais, ele falha em reter o interesse do usuário por estar mais preocupado em “pentelhar” em vez de entregar uma experiência orgânica.
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