Truques para aliviar a dor de cabeça com o celular — e os que só pioram


Em um mundo onde os celulares são quase uma extensão do nosso corpo, é comum usá-los para quase tudo. Seja para trabalhar, estudar, se comunicar ou relaxar, a verdade é que passamos quase todo o dia olhando para essas telas. E se, ao mesmo tempo em que eles nos conectam e nos divertem, também estivessem contribuindo para aquele incômodo que muita gente sente: a dor de cabeça? Embora os smartphones possam ser vilões da cefaleia, também desempenham um papel positivo no alívio do estresse, com aplicativos de respiração, meditação guiada e sons relaxantes.
Em contrapartida, do brilho excessivo da tela ao tempo prolongado nas redes sociais, passando pela má postura e pelo esforço visual constante, o uso constante e até incorreto do celular está cada vez mais ligado ao aumento de dores de cabeça, segundo profissionais de diferentes especialidades da área de saúde. O TechTudo conversou com um neurologista, um oftalmologista e uma fisioterapeuta para trazer dicas práticas, baseadas em evidências médicas, de como usar o celular de forma saudável. Veja a seguir, o que ajuda, o que atrapalha e o que pode ser feito agora para evitar que seu smartphone vire um gatilho invisível para a dor.
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1. O que pode ajudar com o celular
A dor de cabeça, especialmente as tensionais, é uma das queixas mais comuns do dia a dia. Embora muitos busquem soluções rápidas como medicamentos, a tecnologia tem se mostrado uma aliada no alívio desse mal, oferecendo alternativas não invasivas e acessíveis. Com o celular, é possível adotar diferentes práticas que ajudam a reduzir a dor e a tensão associada.
Aplicativos de respiração guiada e meditação, como Calm, Meditopia e Breathe, têm ganhado popularidade por oferecerem exercícios simples de relaxamento que podem aliviar significativamente a dor de cabeça. Esses aplicativos auxiliam na prática de respiração profunda e consciente, o que ajuda a diminuir a frequência cardíaca, relaxar os músculos e reduzir a sensação de estresse. Existem também aplicativos disponibilizados por laboratórios farmacêuticos, planos de saúde ou hospitais, que ajudam a gerenciar e aliviar dores de cabeça, especialmente enxaquecas. Eles oferecem ferramentas para registrar crises, identificar gatilhos e compartilhar informações com profissionais de saúde, auxiliando no tratamento.
Além dos aplicativos de meditação e respiração, outra ferramenta tecnológica que tem mostrado bons resultados no alívio da dor de cabeça é o uso de sons relaxantes, como os de canto de pássaros, chuva, mar, água corrente ou rio, e até mesmo o som de um ventilador. Esses sons ajudam a criar um ambiente calmo, abafando ruídos externos perturbadores e proporcionando uma distração suave para a mente, o que pode reduzir a percepção da dor, especialmente em cefaleias leves. Esse tipo de áudio pode ser encontrado facilmente em aplicativos ou vídeos especializados.
Ouvir sons relaxantes pode auxiliar no alívio da dor de cabeça
Reprodução/FreePik
Outra forma de aproveitar a tecnologia para aliviar a dor de cabeça é por meio de áudios relaxantes, como podcasts, audiolivros ou meditações guiadas. Ouvir esses conteúdos sem a necessidade de olhar para a tela é uma forma de se distrair da dor e de aliviar a mente. Ao focar em algo prazeroso e relaxante, a pessoa consegue reduzir a sobrecarga visual e postural, proporcionando um alívio eficaz e natural, sem estímulos excessivos.
No contexto do home office e estudos online, muitas pessoas passam horas seguidas em frente às telas, o que pode resultar em tensão muscular e cansaço visual, fatores comuns que desencadeiam dores de cabeça. Uma solução simples e eficaz é utilizar temporizadores que lembram a pessoa de fazer pausas regulares a cada 20 ou 30 minutos. Esses intervalos ajudam a evitar o esforço visual contínuo, a melhorar a postura e a aliviar a tensão muscular acumulada.
Portanto, se a dor de cabeça for leve e eventual, antes de recorrer a medicamentos, pode ser válido utilizar a tecnologia para aliviar o desconforto. Agora, se a dor for forte, frequente ou o incômodo for incapacitante, pode ser necessário utilizar medicamentos ou procurar ajuda médica. Lembre-se sempre: nenhum aplicativo tem capacidade de substituir orientações de profissionais da área de saúde. A tecnologia, nesse caso, atua apenas como complemento, não como terapia.
Aplicativo de meditação e para dormir: aprenda a usar o app Calm para relaxar
Reprodução/Helito Beggiora
2. O que costuma piorar a dor de cabeça (mesmo parecendo inofensivo):
O uso excessivo do celular, especialmente sem os cuidados adequados, tem se mostrado uma das principais causas de dores de cabeça, uma realidade crescente tanto entre jovens quanto adultos. Com o aumento do tempo de tela, principalmente em redes sociais e aplicativos de vídeos curtos, muitas pessoas começam a enfrentar desconfortos oculares, mentais e até posturais. Embora pareçam hábitos inofensivos, alguns comportamentos, como brilho excessivo da tela, postura inadequada e falta de pausas, podem ser grandes vilões da saúde.
Um dos principais fatores é o brilho excessivo da tela. Especialmente em ambientes escuros, essa luz intensa força os olhos a se adaptarem a um nível de brilho desconfortável. Além disso, a exposição contínua à luz azul emitida pelas telas pode prejudicar o sono e gerar maior tensão ocular, contribuindo para dores de cabeça crônicas. Isso ocorre porque a luz azul pode diminuir a produção de melatonina, hormônio responsável por regular o sono.
As redes sociais, com suas atualizações constantes e vídeos curtos, também contribuem para o aumento da estimulação sensorial. A rolagem infinita, a troca rápida de imagens e os efeitos visuais intensos exigem um esforço mental considerável. Isso pode resultar em sobrecarga sensorial, o que, para pessoas mais sensíveis, acaba provocando ou agravando dores de cabeça, além de estimular crises de ansiedade. A combinação de estímulos visuais e falta de pausas durante esse consumo acelerado tem sido associada a uma maior fadiga tanto mental quanto ocular.
Cansaço visual pode desencadear dores crônicas de cabeça
Reprodução/FreeP!k
Outro fator importante é a má postura ao utilizar o celular. A síndrome conhecida como “Text Neck”, ou pescoço de texto em tradução livre, é associada à inclinação constante da cabeça para baixo e pode gerar tensão nos músculos da nuca, ombros e pescoço. Essa tensão pode se irradiar para a cabeça, causando cefaleias tensionais, um dos tipos mais comuns de dor de cabeça associada ao uso prolongado do celular.
A falta de pausas regulares é outro comportamento frequentemente negligenciado. Ficar horas seguidas olhando para a tela do celular sem descanso contribui para a fadiga ocular. Esse quadro se caracteriza por sintomas como visão turva, olhos ressecados, e a própria dor de cabeça. Sem pausas, os olhos não têm tempo de se recuperar, o que agrava o desconforto e aumenta o risco de dores de cabeça. Além disso, muitas pessoas ignoram os primeiros sinais de desconforto ocular, como ardência ou visão embaçada. Negligenciar esses sintomas e continuar forçando a vista só intensifica a fadiga visual, contribuindo para o agravamento das dores de cabeça.
3. O que dizem os especialistas sobre as dores de cabeça e o uso constante do celular
Para aprofundar a compreensão sobre como o celular pode afetar a saúde, o TechTudo conversou com profissionais da área de saúde que detalharam as principais causas e as soluções para problemas clínicos provocados pelo uso excessivo de telas.
O neurologista Marcelo Masruha, diretor do Instituto de Neurociência do Espírito Santo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNi), destaca que as cefaleias tensionais são as dores de cabeça mais comuns associadas ao uso excessivo de celulares. Essas dores surgem devido à postura inadequada e à tensão muscular.
“O uso prolongado das telas pode desencadear crises de enxaqueca ou agravar crises já existentes. A luz intensa e os estímulos rápidos são gatilhos comuns. Em algumas pessoas, o uso prolongado de celulares também pode provocar cefaléia e pressão ocular, pela exposição prolongada à luz azul ou pela leitura em ambientes mal iluminados”
Ele também revela que as dores provocadas pelo uso do celular enviam sinais antes de crises mais graves. O neurologista afirma que incômodos que surgem ou pioram após longos períodos de tela, como dor em faixa, bilateral e com sensação de aperto; olhos ardendo, pesados, ou visão borrada; sensibilidade à luz e ao som após exposição intensa à tela, são sintomas que não podem ser ignorados. “Se esses sintomas se repetem com frequência, é um indicativo claro de que o uso do celular está contribuindo para a dor”, ressalta Masruha.
O neurologista também aconselha que os usuários de celular façam pausas regulares e evitem o uso prolongado do aparelho sem descanso. Além disso, o especialista sugere que, sempre que as condições permitirem, se use o modo escuro nas telas e ambientes bem iluminados para reduzir o impacto na saúde ocular.
Além de dor de cabeça, o uso prolongado pode provocar estafa mental e dores pelo corpo
Mariana Saguias/TechTudo
Opinião semelhante tem Flavio Mac Cord, diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). De acordo com o oftalmologista, o brilho excessivo das telas pode sim piorar dores de cabeça, especialmente em pessoas com enxaqueca ou sensibilidade à luz.
“Em ambientes escuros, o contraste com a tela brilhante aumenta o esforço visual e pode agravar a dor”, afirma. Ele também recomenda o uso do filtro de luz azul, que ajuda a preservar o ritmo do sono, e o modo escuro, que pode reduzir a carga visual.
Além disso, Mac Cord destaca o fenômeno da fadiga ocular digital, também conhecida como síndrome da visão computacional. Essa condição, causada pelo uso prolongado de telas, pode levar a sintomas como ardência, olhos secos, visão embaçada e dores de cabeça, sinais claros de que os olhos estão sobrecarregados. Para prevenir esses problemas, ele reforça a importância das pausas regulares.
Má postura pode agravar dores de cabeça
Um fator que aparentemente não tem relação pode ser um dos gatilhos para a dor de cabeça. A fisioterapeuta Andrea Guerra explica que a má postura ao usar o celular pode agravar as crises de cefaleia e enxaquecas: “Quando inclinamos o pescoço para baixo para visualizar o celular ou tablet, estamos pressionando toda a musculatura cervical, o que pode causar dor de cabeça, problemas na coluna vertebral e até mesmo tonturas”, explica.
Ela detalha que a forma incorreta de utilização das telas pode provocar a Síndrome de Text Neck. Essa condição é causada pelo uso excessivo de dispositivos móveis, como smartphones e tablets, que leva a dores e tensões no pescoço e ombros devido à má postura ao olhar para as telas. Essa postura inclinada para baixo, comum ao usar esses aparelhos, coloca uma pressão excessiva na coluna cervical, resultando em desconforto e possíveis complicações a longo prazo.
“Verifica-se nessa síndrome que a tensão muscular causada pela posição da cabeça para baixo começa a causar dores na nuca de origem tensional, evoluindo para quadros de cefaleias tensionais crônicas, pegando também ombros e irradiando até para os membros superiores. Com o tempo, pode até evoluir para quadros mais graves de discopatias, como hérnia de disco”
Posição com a cabeça para baixo ao usar o celular por muito tempo causa tensão muscular no pescoço
Amanda Zola/TechTudo
4. Dicas práticas e acessíveis
A presença do celular e demais telas no dia a dia é uma situação quase irreversível, tanto para o bem quanto para o mal. Entretanto, a boa notícia é que, com algumas mudanças simples de hábito, é possível usar seu smartphone de maneira mais saudável e prevenir as dores de cabeça. A principal mudança está relacionada à postura. A fisioterapeuta Andrea Guerra recomenda usar o aparelho em uma posição neutra, geralmente até a altura dos olhos e de preferência com algum apoio para evitar sobrecarga nos ombros e na cervical.
Se o uso do aparelho por longos períodos for inevitável, ela orienta a fazer pequenas pausas e alongamentos de coluna cervical e membros superiores. Também é essencial adequar a ergonomia do posto de trabalho para evitar dores de cabeça, nos ombros e lombares.
“Por exemplo, vire o queixo lentamente para a direita e para a esquerda, fazendo pequenas pausas em cada posição. Incline a orelha direita em direção ao ombro direito e permaneça nessa posição por cerca de 20 segundos; depois, repita o movimento para o lado esquerdo. Além disso, rode os ombros para trás durante 20 segundos e, em seguida, repita o movimento girando para a frente. Outra dica é a automassagem na região cervical. Essa técnica é altamente recomendada para aliviar tensões.”
Em relação à visão, o modo escuro ou noturno nem sempre é a melhor opção para preservar a saúde dos olhos. De acordo com o oftalmologista Flávio Mac Cord, embora o modo escuro apresente alguns benefícios, em locais com muita luz, o contraste entre claro e escuro pode dificultar a leitura, além de exigir mais esforço dos olhos. Ele também recomenda que, em ambientes claros, o modo claro seja mais confortável para o uso do celular.
No trabalho ou nos estudos é necessario fazer pequenas pausas para evitar doenças provocadas pelo excesso de telas
Reprodução/Unsplash/Bruce Mars
Outra dica do especialista é utilizar a regra 20-20-20, ou seja, a cada 20 minutos de uso da tela, desviar o olhar para um objeto a aproximadamente 6 metros de distância por 20 segundos. Essa técnica ajuda a relaxar os músculos oculares e prevenir a síndrome da visão computacional, que é o nome dado a um conjunto de sintomas causados pelo uso prolongado de telas.
“Embora não exista um tempo exato considerado seguro, a regra 20-20-20 é uma boa aliada para proteger a visão e prevenir dores de cabeça. Além disso, vale adotar alguns hábitos simples, como fazer pausas regulares, manter a tela a uma distância confortável e na altura dos olhos, ajustar o brilho conforme a luz do ambiente, piscar com mais frequência, usar colírios lubrificantes, se necessário, e manter os exames oftalmológicos em dia. Também é bom evitar o uso de telas imediatamente antes de dormir. No fim das contas, o equilíbrio é o melhor aliado”
Por sua vez, o neurologista Marcelo Masruha também reforça que mudanças de hábitos podem evitar doenças e enfermidades. Ele reforça que deve ser evitado o uso prolongado e sem pausas das telas, da mesma forma que consumir conteúdos com estímulos intenso, como luzes piscantes, volume alto, multitarefas e notificações. Também deve ser evitado o uso do celular na cama, antes de dormir, e com luz direta em direção ao rosto. Já reduzir a luz azul durante o período noturno e manter uma boa rotina de sono, são hábitos que ajudam a evitar dores de cabeça e auxiliam no uso saudável dos smartphones.
Ao adotar essas práticas, você pode transformar seu celular de um potencial causador de dores de cabeça em uma ferramenta que contribui para o seu bem-estar, garantindo uma relação mais saudável com a tecnologia. “Cuidar do uso do celular é também cuidar da saúde cerebral como um todo. O equilíbrio é o que preserva o bem-estar”, conclui Marcelo Masruha.
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