Aprender música é uma atividade que pode trazer vários benefícios, muito além do simples prazer de produzir sons agradáveis. Estudos como o feito pelo Instituto Nencki de Biologia Experimental mostram como o cérebro otimiza tarefas após aprender a tocar instrumentos, algo que ameniza o efeito de doenças degenerativas e melhora a recuperação de lesões por AVC.
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Outra pesquisa, publicada na revista científica PLOS Biology por cientistas canadenses e chineses, mostrou como idosos passam a compreender melhor conversas em ambientes barulhentos após aprender a tocar instrumentos musicais, um sinal de que as capacidades cognitivas e mentais ficam mais afiadas.
Música e o cérebro
Na investigação do Instituto Nencki, foram acompanhadas 24 mulheres jovens por seis meses de aprendizado de piano, observando sua atividade neurológica ao longo do período. Ao longo dos meses, a atividade cerebral das participantes diminuiu, indicando que o cérebro otimizou os movimentos necessários para tocar.
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De acordo com André Frazão Helene, professor do Instituto de Biociências da USP, tocar instrumentos musicais estimula as áreas de cérebro responsáveis pelas ações motoras, automatização dos movimentos e áreas auditivas. Um dos aspectos importantes é o desafio da atividade — durante ela, precisamos gerar expectativas, coordenar movimentos e avaliar se o que está sendo feito é o que se esperava do corpo. É uma tarefa de planejamento, encadeamento e coordenação dos sentidos.
Helene também informa que atividades novas ativam diversas vias cerebrais até nos acostumarmos, quando a atividade diminui, otimizando a ação e seu custo no cérebro. Isso ajuda, inclusive, no aprendizado de novos instrumentos, já que a harmonia e o procedimento são conhecidos. O encéfalo, parte central do sistema nervoso, gera sensação de prazer no cérebro quando se aprende algo novo, o que explica porque aprender coisas novas empolga.
Música na velhice
Esse treino cerebral deixa o órgão mais apto a se recuperar de lesões e garante uma vida mais saudável na velhice, o que foi confirmado pelo estudo da PLOS Biology — nele, foi investigada a conectividade funcional, atividade que usa os sentidos para captar informações e que depende da conexão ativa entre as áreas cerebrais.
Tarefas que cobram alto processamento mental, como aprender a tocar instrumentos, estudar assuntos difíceis e falar um idioma novo constroem o que se chama de reserva cognitiva. Para verificar como isso funciona nos idosos, os cientistas estudaram 25 músicos idosos, 25 idosos não músicos e 24 jovens não músicos.
Eles tiveram de identificar sílabas faladas em meio a ruído sonoro, enquanto cientistas observavam sua resposta neural do fluxo auditivo dorsal, responsável pela associação entre som e ação e integração entre sensorial e motor no processamento da fala.
Os músicos idosos mostraram melhor desempenho nas tarefas de fala com ruído em comparação com os idosos que não tocavam nada, ficando num nível parecido com o dos jovens não músicos, especialmente no lado direito do fluxo auditivo dorsal. Isso está relacionado ao desempenho na identificação das sílabas.
A reserva cognitiva dos músicos idosos ajudou seu cérebro a manter uma conectividade funcional mais jovem, não apenas compensando as perdas cognitivas da idade, mas também preservando a integridade e arquitetura funcional das redes neurais. Em resumo, aprender música não só ajuda a deixar o cérebro mais otimizado ao longo da vida, mas também garante uma velhice mais saudável — e aí, já escolheu o que vai aprender a tocar?
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