Um terremoto de magnitude 8,8 foi registrado por volta das 11h25 no horário local (00h25 em Brasília) nesta quarta-feira (30), próximo à cidade de Petropavlovsk-Kamchatsky, na Península de Kamchatka, Rússia. O tremor acionou alertas de tsunami em diversos países banhados pelo Pacífico, como Japão, EUA (Havaí), México e parte da costa oeste das Américas. O evento remete a outros abalos históricos, como o terremoto do Chile de 1960 – o mais forte já registrado – e a tragédia de Fukushima, em 2011.
Em um cenário de catástrofes cada vez mais frequentes, a tecnologia tem desempenhado um papel fundamental na tentativa de salvar vidas, prever eventos e organizar evacuações com antecedência. Redes de sensores IoT, algoritmos de inteligência artificial, dados via satélite e até sinais vindos de celulares e redes sociais ajudam autoridades a detectar tremores, calcular epicentros, estimar riscos de tsunami e alertar a população em segundos.
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Foto de 30 de julho de 2025 mostra a cidade de Severo-Kurilsk, nas Ilhas Curilas do Norte da Rússia, atingida por tsunami
Governo da Região de Sacalina/AFP
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O que se sabe sobre o terremoto e tsunami de hoje
O epicentro do terremoto foi localizado a cerca de 125 km da cidade de Petropavlovsk-Kamchatsky, na Península de Kamchatka, extremo leste da Rússia. Com profundidade de 19,3 km – considerada rasa – o abalo gerou ondas de tsunami que atingiram países do Pacífico, como Japão, Estados Unidos e México. A Rússia registrou ondas de até 5 metros em Severo-Kurilsk, e o Havaí foi atingido por uma elevação de 1,74 metro no nível do mar.
Embora nenhum país tenha confirmado vítimas fatais até agora, os danos materiais são significativos, com registros de destruição em portos e cidades costeiras. O alerta de tsunami foi emitido por diversos órgãos, como o USGS e a Agência Meteorológica do Japão, e ativou sistemas de evacuação em tempo recorde, mostrando o avanço das tecnologias de monitoramento e resposta a desastres.
Vídeo mostra tsunami se aproximando de costa do Japão
Reprodução/G1
Após o terremoto, o vulcão Klyuchevskoy – ponto mais alto da Península de Kamtchatka, com 4.850 metros – entrou em erupção. O Serviço Geofísico Unificado da Academia Russa de Ciências alertou, por volta das 16h do horário local (10h de Brasília), que lava incandescente estava descendo pela encosta oeste da montanha, acompanhada de explosões e brilho visível acima do cume. A última erupção havia sido registrada em abril de 2025. Na semana anterior, equipes de resgate já haviam recomendado evitar a visita ao vulcão devido ao aumento da atividade sísmica na região.
Como a tecnologia detecta terremotos em tempo real
Sistemas modernos de alerta sísmico funcionam por meio de redes de sensores conectados à Internet das Coisas (IoT), que identificam as ondas P (primárias) assim que um tremor ocorre. Como essas ondas são as primeiras a chegar, é possível estimar rapidamente a localização do epicentro, sua profundidade e o risco de tsunamis.
Nos EUA, o sistema ShakeAlert é um exemplo avançado que já integra alertas em celulares Android e pode emitir notificações com segundos de antecedência. O Japão conta com o Earthquake Early Warning (EEW), que emite alertas pela TV, apps e alto-falantes em cidades costeiras. No Chile, um sistema chamado eVigilo envia SMS em massa. Em comum, todos usam sensores geolocalizados, redes de fibra óptica e transmissão via satélite para garantir a velocidade da informação.
Como a tecnologia detecta terremotos em tempo real
Reprodução/goosocean
Satélites, IA e sensores de fundo oceânico
A tecnologia espacial é outra aliada essencial: satélites de observação terrestre monitoram mudanças súbitas na superfície, e imagens de alta resolução permitem identificar rapidamente áreas atingidas. A combinação com inteligência artificial permite analisar grandes volumes de dados em tempo real para prever o impacto de tremores e estimar rotas seguras de evacuação.
No fundo do mar, sensores chamados DART (Deep-ocean Assessment and Reporting of Tsunamis) funcionam como “tsunômetros” – detectores de tsunami que medem variações abruptas de pressão causadas por ondas gigantes. Esses dispositivos ficam ancorados no leito oceânico e se conectam a boias na superfície, que enviam os dados em tempo real via satélite para centros de monitoramento. Em resumo, o sistema é composto por:
Sensores instalados no fundo do mar, capazes de detectar pequenas variações de pressão causadas por tsunamis;
Boias na superfície, conectadas via cabo aos sensores, que transmitem os dados por satélite em tempo real para centros de monitoramento;
Usam a variação de pressão para detectar a passagem de ondas longas e rápidas – típicas de tsunamis em alto-mar.
DART, um sistema de boias em alto-mar que funcionam como “tsunômetros”
Reprodução/goosocean
Em 2023, um novo mecanismo de filtragem de ruído desenvolvido pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, dos EUA) permitiu instalar esses sensores a apenas 10 minutos da zona sísmica, acelerando o tempo de resposta.
Cables SMART: cabos submarinos que salvam vidas
Outra revolução em andamento é o uso dos cabos submarinos de telecomunicação para monitorar o fundo oceânico. O projeto SMART (Science Monitoring and Reliable Telecommunications) propõe equipar esses cabos com sensores de temperatura, pressão e aceleração sísmica. A rede cobre quase 1 milhão de km ao redor do planeta.
Portugal será um dos primeiros países a implantar o sistema no Atlântico, por meio do projeto SMART Atlantic CAM, conectando o continente às ilhas dos Açores e Madeira. A estimativa é que cada cidadão pague o equivalente a 1,50 euros por 25 anos de proteção. O Brasil participa de discussões internacionais sobre o monitoramento do Atlântico Sul e poderá integrar futuramente a rede SMART, como parte de iniciativas lideradas pela UNESCO/IOC.
Cerca de 1 milhão de km de cabos submarinos de telecomunicações operacionais
Reprodução/goosocean
Aplicativos, redes sociais e celulares como aliados
Smartphones modernos possuem acelerômetros e sensores capazes de detectar tremores leves. Projetos como o MyShake, da Universidade da Califórnia, usam esses dados para alimentar redes colaborativas de detecção precoce. Já o Google, em parceria com o USGS, integra essas leituras ao Android para disparar alertas automáticos.
Redes sociais também funcionam como canais espontâneos de emergência. Plataformas como X (antigo Twitter), Telegram e TikTok são monitoradas por IA que identifica palavras-chave, imagens e localizações. Isso permite às autoridades saberem, em tempo real, onde o impacto foi maior e que tipo de ajuda é necessária.
Por que investir em tecnologia compensa
Relatórios da ONU e da UNESCO apontam que cada dólar investido em prevenção pode gerar uma economia de até dez vezes mais em danos evitados. Além disso, a educação para emergências é parte da equação: Japão e Chile fazem simulações anuais com toda a população escolar e treinamentos de evacuação para adultos.
Com o aumento da urbanização em áreas costeiras e o aquecimento global agravando eventos extremos, especialistas defendem a expansão de tecnologias como blockchain para garantir a segurança e autenticidade dos dados compartilhados entre países.
SMART Cables
Reprodução/goosocean
O terremoto registrado nesta madrugada mostra que o planeta segue sob tensão em suas placas tectônicas, especialmente no Círculo de Fogo do Pacífico. Embora eventos naturais não possam ser evitados, os avanços tecnológicos dos últimos anos têm sido essenciais para salvar vidas.
Casos reais: como a tecnologia já salvou vidas
Durante o terremoto de magnitude 9,0 que atingiu a costa leste do Japão em 2011, mais de 15 mil pessoas perderam a vida – mas a tragédia poderia ter sido ainda maior. A maior parte das mortes foi provocada pelo tsunami que se seguiu ao tremor, não pelo terremoto em si. É justamente aí que entra o papel da tecnologia: sistemas de prevenção bem estruturados ajudaram a conter o impacto e salvar milhares de vidas.
Na ocasião, cinco trens-bala que viajavam a cerca de 270 km/h pelas regiões de Fukushima, Miyagi e Iwate conseguiram parar com segurança antes da chegada das ondas mais destrutivas. Isso graças a um sistema avançado de alerta sísmico, que integra sensores da Agência Meteorológica do Japão (JMA) com tecnologias como o UrEDAS – um software pioneiro que detecta as primeiras ondas sísmicas e aciona automaticamente o corte de energia dos trens. O sistema foi decisivo para evitar descarrilamentos e preservar a vida de centenas de passageiros.
Outro fator crucial foi a qualidade das construções. Prédios erguidos com base nas normas antissísmicas japonesas atualizadas em 1981 resistiram melhor ao abalo. Edifícios com isolamento sísmico – uma técnica que desacopla a estrutura do solo para reduzir a transmissão de vibrações – apresentaram até 70% menos movimentação nos andares superiores. Em construções de até 30 andares, muitos moradores relataram que livros, objetos e móveis permaneceram no lugar durante o tremor, sem grandes danos.
Estação de medição do nível do mar instalada perto do vulcão La Soufrière, em São Vicente e Granadinas, após sua erupção em 2021, para permitir o monitoramento de um possível tsunami gerado pelo vulcão
Reprodução/COI/UNESCO
Por que o Brasil não tem grandes terremotos ou tsunamis
O Brasil está localizado no centro da Placa Sul-Americana, distante das bordas tectônicas onde ocorrem os maiores terremotos e tsunamis do planeta. Por isso, o país não costuma registrar tremores de grande intensidade nem está exposto a zonas de subducção – áreas em que uma placa tectônica desliza sob outra, favorecendo abalos e formação de tsunamis.
Apesar disso, pequenos tremores podem ocorrer em regiões específicas do território brasileiro, como o Nordeste e o Centro-Oeste, mas raramente ultrapassam 4 graus de magnitude. Já o risco de tsunamis é praticamente inexistente, dada a ausência de falhas geológicas ativas no fundo do Atlântico Sul próximas à costa brasileira.
10 tecnologias que ajudam prédios a resistirem a terremotos
Com o crescimento das cidades e o aumento das construções verticais, arquitetos e engenheiros desenvolveram soluções criativas para evitar colapsos durante tremores. Algumas dessas tecnologias já são usadas em edifícios modernos – outras ainda estão em fase experimental, mas apontam caminhos promissores para a segurança estrutural. Entre os principais recursos estão:
Base isolada (ou fundação desacoplada): separa a estrutura do prédio do solo por meio de rolamentos de borracha, molas e dispositivos metálicos, reduzindo a transferência de vibrações e o impacto das ondas sísmicas;
Amortecedores sísmicos: semelhantes aos usados em automóveis, esses dispositivos absorvem a energia do terremoto e reduzem a vibração entre os andares, aumentando a estabilidade do edifício;
Pêndulo de massa sintonizada: instalado no topo de arranha-céus, esse enorme peso suspenso se movimenta no sentido oposto ao do tremor, ajudando a neutralizar o balanço do prédio. Um exemplo conhecido é o Taipei 101, em Taiwan;
Fusíveis estruturais substituíveis: são componentes metálicos projetados para se deformar primeiro durante um terremoto, protegendo a estrutura principal. Após o evento, podem ser trocados com rapidez e baixo custo;
Sistemas de paredes estruturais com movimento controlado: permitem que o núcleo do prédio se movimente de forma segura, sem causar rachaduras permanentes nas paredes ou comprometer a integridade da estrutura;
“Capa de invisibilidade sísmica”: tecnologia ainda experimental baseada em anéis enterrados ao redor do edifício que desviam as ondas sísmicas antes que atinjam a construção, funcionando como um escudo protetor subterrâneo;
Ligas com memória de forma: materiais como o nitinol (níquel-titânio) retornam à forma original após deformações causadas pelo terremoto, podendo ser usados em reforços estruturais inovadores;
Envoltórios de fibra de carbono: aplicados ao redor de colunas e vigas de concreto, aumentam a resistência e a flexibilidade das estruturas. Essa técnica é muito usada em reformas e adaptações de prédios antigos;
Biomateriais inspirados na natureza: pesquisas experimentais com fibras adesivas de mexilhões e seda de aranha buscam criar materiais que dissipem energia de forma eficiente, inspirando novas soluções para o futuro da engenharia sísmica;
Tubos de papelão: utilizados em construções temporárias de baixo custo, esses tubos foram popularizados pelo arquiteto japonês Shigeru Ban, conhecido por desenvolver abrigos resistentes e sustentáveis para vítimas de desastres.
Com informações de UNESCO (1 e 2), Global Ocean Observing System (GOOS), Web Japan (1 e 2), Science Direct, IEEE e HowStuffWorks
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