O Ibovespa cai na sessão desta sexta-feira, 18, apesar da alta das commodities. Um dos entendimentos de analistas é que a operação da Polícia Federal (PF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela manhã em Brasília, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, pode dificultar as negociações tarifárias.
Na véspera, o Ibovespa subiu pelo segundo dia seguido após sete quedas consecutivas. Teve elevação de 0,04%, aos 135.564,74 pontos, mas ainda recua na semana. Às 12h, o Índice Bovespa caía 0,64%, aos 134.703 pontos, ante mínima a 134.529,92 pontos (-0,76%), vindo de máxima de abertura em 135.562,46 pontos, com variação zero.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem mantido a taxação de 50% a produtos exportados pelo Brasil ao mercado norte-americano vinculando a decisão ao processo do golpe. Constantemente, o republicano tem defendido Bolsonaro. “Pode ser que Trump dobre a aposta”, avalia o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.
Os EUA ainda não responderam à carta enviada pelo Brasil ao escritório de representação comercial do país sobre o tarifaço. Na noite desta quinta, 17, em cadeia nacional de rádio e TV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o tarifaço dos EUA de “chantagem inaceitável”, criticou políticos que apoiam a iniciativa, classificando-os de “traidores da Pátria”, e disse que não há “vencedores em guerras tarifárias”.
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Para Gabriel Mota, especialista em renda variável da Manchester Investimentos, a operação da PF pode contaminar os ativos brasileiros à frente não pelo fato em si, mas por causa de uma possível precificação de tarifas mais altas pelos EUA ao Brasil. Na visão de Mota, pode ser que o mercado espere um pouco para reagir, na tentativa de ver se haverá alguma reação do presidente dos EUA. Para, em seguida, “aí ficar mais cético.”
“Trump ontem voltou a vincular a aplicação de impostos pesados sobre produtos brasileiros aos processos judiciais que enfrenta Bolsonaro e por isso traz um pouco mais de receios e dúvidas entre investidores sobre possíveis soluções”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“Ao vincular as tarifas a temas políticos e judiciários do Brasil, fica um pouco mais difícil tentar entender o que o Brasil pode oferecer ou negociar com os EUA para tentar resolver essas discrepâncias”, completou.
Já Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain, não vê tantos impactos imediatos. Ele ressalta que o Ibovespa futuro chegou a abrir a sessão com uma queda mais expressiva, mas não há uma baixa tão forte dos ativos brasileiros. “Essa questão da investigação diante dos atos de 8 de janeiro não é novidade. O Bolsonaro não é o candidato da direita, isso já é algo precificado porque ele não tem direitos de se eleger”, avalia.
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Cotrim também pondera o apoio de Trump a Bolsonaro. “Ele também não está fazendo de uma forma clara. Ele questiona como Bolsonaro está sendo perseguido, aquela famosa caça às bruxas mas, consequentemente, fala que não é amigo do Bolsonaro, mas que o vê como um bom homem. Trump resolve enviar uma carta para ele [na véspera], que para mim vem um tom de desculpa. Então, na minha visão, o mercado não sofre interferência por esse ponto. Esse processo do Bolsonaro já era previsto que tivesse um andamento”, aponta.
O especialista vê que Trump pode utilizar das tarifas para causar mais hostilidade, mas acredita que o americano irá se conter porque “vê que está mais atrapalhando a figura do Bolsonaro de uma forma política do que ajudando”.
Neste ponto, Cotrim relembra a pesquisa Quaest divulgada na véspera que mostrou melhora na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo um dos motivos a relação feita pela população entre Bolsonaro e o aumento das tarifas por Trump.
Mas há novas dores de cabeça para o atual governo?
Por outro lado, o governo brasileiro pode ter uma dor de cabeça a mais com o Congresso após Lula ter vetado o aumento do número de deputados federais e Moraes, do STF, manter parcialmente o decreto do governo que elevou alíquotas do IOF. Aliados do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmam que o governo Lula não terá paz a partir de agosto, quando deputados e senadores voltarem do recesso parlamentar.
Na visão de Cruz, da RB, setores mais expostos ao tarifaço como o agronegócio, com produtos como frutas, peixes, e de aeronaves podem sofrer ainda mais não só na B3, caso se arrastem as negociações sobre a imposição de 50% em tarifas a produtos exportados pelo Brasil aos EUA.
Nesta sexta, em Dalian, o minério de ferro fechou com alta de 0,38%, US$ 109,26 por tonelada. Vale é a única ação ligada à commodity a registrar elevação, de 0,29%. Já o petróleo avança perto de 1%, por demanda favorecida pela força das economias dos EUA e da China. Ainda assim, Petrobras recuava entre 0,06% (PN) e 0,15% (ON) perto das 11 horas.
Na agenda, as atenções ficam na reunião trimestral do Banco Central com economistas em São Paulo. Além disso, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, se reúne com setores produtivos da indústria possivelmente para tratar da sobretaxa dos EUA.
Lá fora, o destaque é o Índice de Sentimento do Consumidor e das expectativas de inflação para 1 e 5 anos da Universidade de Michigan, além de balanços.
(com Reuters e Agência Estado)
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