A uma semana da entrada em vigor da tarifa de 50% para as exportações brasileiras para os Estados Unidos, prevista para valer a partir de 1º de agosto, o diretor de Macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk, afirma que o impacto será “pouco relevante” para a economia do país, caso o governo brasileiro não consiga negociar e a taxação seja mantida neste percentual.
Kanczuk, ex-secretário de Política Econômica (Ministério da Fazenda) 2016-2018 e ex-diretor de Política Econômica (Banco Central do Brasil) 2019-2021, falou com exclusividade para o InfoMoney durante a Expert XP 2025.
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Ele avalia que o Brasil deixará de exportar cerca de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), valor que teria efeito quase nulo na atividade econômica em geral. Apesar disso, ele reconhece que alguns setores serão mais afetados, como os exportadores de sucos de laranja, café, carne, e o setor de aviação. A solução seria negociar tarifas setoriais mais amenas ou recorrer ao apoio do governo federal por meio de isenção fiscal.
“Sobre o ponto de vista econômico, isso é pouco relevante para o Brasil, apesar do barulho que alguns setores estão fazendo. E por que é pouco relevante? Porque é pequeno o que o Brasil exporta para os Estados Unidos. O impacto que a gente vê no nosso PIB é da ordem de 0,4%, o que não é nada demais. É chato, mas não é nada demais”, avalia.
Além disso, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) afirma que 33,7% do comércio entre Brasil e EUA em 2024 foi realizada entre empresas do mesmo grupo econômico, ou seja, entre filiais e subsidiárias de uma mesma empresa multinacional.
Kanczuk afirma que é pouco provável que o Brasil consiga negociar a redução das tarifas, dada a dificuldade do governo brasileiro em estabelecer diálogo com os norte-americanos.
Tarifas serão dribladas com transhipping
A entrada em vigor das tarifas deve fortalecer os movimentos de transhipping, quando a exportação sai de um país, vai para outro destino, e depois chega nos EUA sem o rastreamento de origem. “Uma commodity não tem como saber a origem. Fica uma confusão, não tem como controlar”, afirma.
Apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, já ter declarado que irá enfrentar essa tática do comércio exterior, Kanczuk avalia que, na prática, isso é difícil de controlar. “Em 2018, quando Trump impôs tarifas contra a China, houve muita triangulação via Vietnã e México. O Trump tenta bloquear, mas não consegue”, diz.
Segundo informações da agência Reuters, nenhuma nova rodada de negociações diplomáticas ocorreu desde o mês passado entre Brasil e os americanos, e uma contraproposta brasileira enviada em maio ficou sem resposta. Os EUA estariam em processo de buscar uma nova justificativa na lei, possivelmente uma declaração de emergência, para aplicar a tarifa.
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