A crise provocada pela sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras criou uma janela política para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dialogar com um eleitorado que até então permanecia impermeável ao governo.
Essa é a avaliação de Edinho Silva, ex-ministro e atual prefeito de Araraquara (SP), que assumirá a presidência nacional do PT em agosto. Em entrevista ao jornal O Globo, Edinho defendeu o uso do episódio para ampliar a base de apoio de Lula e construir um novo tipo de conversa com o eleitorado da chamada direita não ideológica.
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“As entregas do governo não mexeram na opinião pública, mas o debate sobre o modelo de sociedade mexe”, disse. “Agora está acontecendo pela primeira vez desde a posse. O tarifaço de Trump e a discussão sobre justiça tributária mexeram na opinião pública.”
Segundo Edinho, o presidente norte-americano Donald Trump estaria estimulando uma nova forma de conflito internacional: uma guerra de coerção econômica. Ele criticou a tentativa de Trump de interferir no funcionamento das instituições brasileiras ao associar a tarifa ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF.
“Ele está criando as condições para a Terceira Guerra Mundial, só que ela não será bélica, será econômica”, afirmou. “Ou vencemos esse embate ou o Brasil vira um quintal dos EUA.”
O novo presidente do PT também rejeita a tese de que o governo Lula tenha contribuído para a deterioração da relação com os EUA ao priorizar alianças com países do Brics. “É uma leitura equivocada achar que o Brasil não pode se organizar do ponto de vista econômico”, afirmou. Segundo ele, o Planalto demonstrou respeito institucional ao enviar uma manifestação à posse de Trump em 2025.
Justiça tributária
Edinho vê na defesa da justiça tributária outro vetor capaz de mobilizar a opinião pública e aproximar Lula de eleitores fora do campo progressista. O embate com o Congresso, que derrubou o aumento do IOF proposto pelo governo, fortaleceu essa narrativa.
“Estamos debatendo o modelo de Brasil que queremos construir: um Brasil de privilégios ou um Brasil de igualdade de oportunidades”, disse.
Ele também criticou a assimetria no funcionamento do presidencialismo brasileiro, apontando que o Congresso hoje executa R$ 52 bilhões do Orçamento da União. “O Congresso expropriou do Executivo boa parte das suas atribuições”, afirmou.
Reforma política
Na condução do partido, Edinho diz que manterá o foco no diálogo, mas defende uma reforma política profunda, com a adoção do voto em lista para a Câmara, ou, no mínimo, um sistema distrital misto. “Os partidos têm que ser maiores do que são. Hoje, ou você atende o varejo ou não forma maioria”, criticou.
“O tempo todo o Congresso reivindica. Em todas as votações, tem que aumentar o volume de emendas. Essa contradição precisa ser superada. No caso do IOF, achar que ia impor uma derrota daquele tamanho ao Lula e que ele não ia reagir foi um erro de leitura.”
Ele também afirmou que todas as lideranças petistas terão de cumprir “missões” em 2026, incluindo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já disse não querer ser candidato.
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