A artista que o Brasil conheceu ainda criança no “Bom Dia & Cia.” virou definitivamente a página. PRISCILLA – agora sem o sobrenome Alcântara – está mais pop, mais livre e mais segura do que nunca. Após emplacar uma turnê esgotada, lançar um álbum que mistura funk, R&B e até collabs improváveis, como Bonde do Tigrão e Luan Santana, ela deixou claro: não há retorno possível à música gospel.
“Voltar para uma coisa, um lugar tão nichado, seria meio que dar um passo para trás”, afirmou à Folha de S. Paulo. “Hoje eu coloquei minha arte num lugar de liberdade […] Quero continuar inspirando pessoas, mas de um jeito muito mais livre.”
Desde que lançou Você Aprendeu A Amar?, em 2021, Priscilla já sinalizava sua saída do universo cristão. A transição foi sutil no começo, mas hoje está mais do que consolidada. Com o álbum PRISCILLA, lançado no ano passado, a cantora mergulhou de vez em um som plural, com estética ousada, clipes de alto nível e uma presença de palco que foge completamente do perfil que o público religioso costumava associar a ela.
Além do som, o visual também mudou: cabelos ruivos, figurinos intensos e uma linguagem visual carregada de atitude. A artista, que celebra 20 anos de carreira, explica que a televisão foi sua porta de entrada, mas que a música sempre foi o destino final. “Ainda tinha muito mais por viver, principalmente a minha carreira musical, que eu nem tinha começado”, diz.
A maratona de shows da turnê “PRISCILLA: Tudo É Música” terminou, mas o fôlego da cantora está longe de acabar. Ela agora se prepara para o maior espetáculo de sua carreira, no The Town, em São Paulo. No dia 13 de setembro, ela sobe ao palco The One ao lado de Luccas Carlos e The Ghetto Heart Choir, prometendo uma apresentação memorável no Autódromo de Interlagos.
O que Priscilla disse sobre as críticas na carreira
Aos 28 anos, Priscilla alcança um marco raro: duas décadas de trajetória na vida pública. Desde que despontou como apresentadora mirim no Bom Dia & Cia, no SBT, aos oito anos, sua caminhada foi marcada por transformações intensas, desafios constantes e uma inquietude que parece ser combustível para sua arte. Em entrevista à Quem, a cantora compartilhou reflexões profundas sobre o passado, o presente e os muitos futuros que ainda vislumbra para si.
“Falei isso porque nem eu sei se, daqui a uma semana, vou ser a mesma pessoa”, declarou ela à revista. “Essa fala é da geminiana mais geminiana que você conhece”, brinca. “Mas acho que essa é a graça: saber que sempre dá para evoluir, crescer, mudar, tentar algo novo.”
Ao longo dos anos, Priscilla fez escolhas ousadas: deixou a televisão para se dedicar integralmente à música, migrou do gospel para o pop, venceu um reality musical e até reformulou sua identidade artística ao remover o sobrenome Alcântara. Agora, com a minuturnê Tudo É Música?, ela celebra a liberdade conquistada e reforça que a repetição não faz parte dos seus planos.
“Não quero viver uma vida rígida. Quero uma vida livre de padrões, de repetições. Talvez ainda haja muito mais de mim para conhecer”, afirma.
Essa sede por autenticidade acompanha Priscilla desde a adolescência, mesmo quando integrava o cenário gospel. “Mesmo quando eu estava em outro nicho, era vista como rebelde, porque nunca gostei de seguir padrões. Tudo precisava fazer sentido para mim. Sempre fui muito curiosa, questionadora… um pouco teimosa também (risos)”, relembra.
Sua transição para o pop nacional, em 2023, veio após um longo processo de maturação. Para ela, o rompimento com rótulos — inclusive os que ela mesma já havia se imposto — foi mais sobre expansão do que negação do passado. “Você não rasga as páginas anteriores, só começa uma nova. E eu não tenho dúvidas de que fiz isso na hora certa.”
De 2005 até hoje, quase tudo mudou: o cabelo, o estilo de vida, o cenário artístico, e até seu nome de palco. Mas um ponto permanece firme: a missão de tocar pessoas com sua arte. “Meu propósito é cantar para que as pessoas conheçam um ser humano chamado Priscilla, que vive e respira música”, diz com convicção. “Acima de qualquer número, prêmio ou resultado, minha maior conquista é ter uma voz que chega a ouvidos que eu nunca imaginei alcançar.”
Nem todos acompanharam suas transformações com entusiasmo. O lançamento do álbum PRISCILLA, com uma sonoridade mais intensa e metálica, dividiu o público. Ela encara essa reação com naturalidade. “Teve o grupo que nem quis saber, que já odiou e foi embora logo de cara. Tiveram aqueles que quiseram ficar, mas precisaram de tempo para digerir. E teve aqueles que não largam a minha mão nunca”, comenta, bem-humorada.
Para Priscilla, a conexão verdadeira com o público vale mais do que a aprovação generalizada. “Se eu frustrei alguém, essa pessoa também é livre para ir embora. A responsabilidade da expectativa frustrada talvez não seja minha, mas ela é livre para se decepcionar.”
Acostumada aos holofotes desde muito nova, ela desenvolveu cedo uma maturidade rara entre artistas da sua geração. “Criei uma maturidade de ter que pensar como gente grande”, conta. “Quando a internet virou o que é hoje, meio que uma terra sem lei, eu já estava pronta.”
Mesmo com toda a evolução, superar a imagem infantil construída no início da carreira foi um desafio. “Já é difícil ser levada a sério sendo mulher, e ainda tinha a imagem infantil. Isso ficou muito fixo na cabeça das pessoas”, revela. “Foram longos anos de construção para que as pessoas entendessem que eu tinha crescido, que eu queria falar, queria ser ouvida, queria me expressar.”
Hoje, Priscilla é reconhecida não só pelo talento, mas também pela coragem de se reinventar. E mesmo com 20 anos de carreira, ela acredita que o melhor ainda está por vir. “Conquistei meu espaço. Olho para trás e vejo que valeu a pena. Mas, honestamente, talvez ainda haja muito mais de mim para conhecer.”