Preta Gil só virou cantora porque Ivete Sangalo insistiu

Preta Gil só virou cantora porque Ivete Sangalo insistiu

Preta Gil, que faleceu neste domingo aos 50 anos, vítima de um câncer no intestino, deixou não apenas um legado musical e afetivo, mas também uma revelação comovente sobre o início de sua carreira: foi Ivete Sangalo quem a convenceu de que ela tinha nascido para cantar.

Apesar de ser filha de Gilberto Gil, um dos maiores nomes da música brasileira, Preta revelou em uma entrevista à Vogue Brasil, em 2023, que sua entrada na música foi motivada principalmente pelo incentivo persistente de Ivete. “Ela sempre dizia que minha voz era linda, que eu tinha que ser cantora… Escutei isso por anos até ter coragem”, contou. Quando finalmente decidiu seguir o caminho da música, Ivete não hesitou: “Ela disse que estava à disposição para me ajudar”.

A relação entre as duas extrapolava o palco. Preta descrevia Ivete como uma verdadeira “professora” de vida. “Ela tem esse lugar na minha vida de uma relevância mais que absoluta, de uma relevância definitiva”, disse. Mais do que apoio profissional, Ivete esteve ao lado de Preta em momentos cruciais — especialmente durante a batalha contra o câncer. “Ela me mandou uma mensagem no começo do tratamento e disse: ‘Descobri o quanto eu não consigo viver sem você’”, revelou a cantora.

A conexão entre elas ganhou ainda mais profundidade durante a doença. “Ela batalhou comigo pela minha vida, pela minha saúde. Mesmo com uma agenda lotada, com filhos, ela se fez presente. De verdade”, afirmou Preta em uma de suas últimas entrevistas.

Morre Preta Gil, após batalha contra o câncer, aos 50 anos

A música brasileira perdeu neste domingo (20), uma de suas figuras mais vibrantes e autênticas: a cantora, empresária e ativista Preta Gil. Ela tinha 50 anos e faleceu em decorrência de complicações causadas por um câncer colorretal, doença que enfrentava desde janeiro de 2023.

A notícia foi confirmada por sua equipe e repercutiu intensamente entre fãs, colegas de profissão e admiradores de sua trajetória multifacetada.

Filha do icônico Gilberto Gil e de Sandra Gadelha, Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro. Desde cedo, esteve cercada por grandes nomes da música e da arte brasileira, como Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, que ela considerava como tios. Essa convivência moldou sua visão de mundo e alimentou seu espírito artístico, embora sua carreira tenha seguido caminhos próprios e ousados.

Preta iniciou sua trajetória profissional nos bastidores, atuando como produtora e publicitária. Foi apenas aos 28 anos que decidiu se lançar como cantora, incentivada por amigas como Ana Carolina e Ivete Sangalo. Seu primeiro álbum, Prêt-à-Porter, lançado em 2003, causou polêmica ao trazer a artista nua na capa, desafiando padrões estéticos e sociais. A música Sinais de Fogo, presente no disco, tornou-se um dos maiores sucessos de sua carreira.

Ao longo dos anos, Preta Gil lançou outros cinco álbuns, entre eles Sou como Sou (2012) e Todas as Cores (2017), sempre abordando temas como amor próprio, diversidade e empoderamento. Em 2010, fundou o Bloco da Preta, que rapidamente se tornou um dos maiores do Carnaval carioca, arrastando multidões pelas ruas do Rio de Janeiro. O bloco foi transformado em DVD em 2014, com participações de artistas como Anitta, Lulu Santos e Ivete Sangalo.

Além da música, Preta Gil se destacou como empresária ao fundar a agência de marketing de influência Mynd, voltada para o trabalho com artistas e influenciadores digitais. A iniciativa reforçou seu compromisso com a representatividade e a valorização de vozes diversas no mercado publicitário.

Na televisão, Preta Gil atuou em novelas e séries, como Caminhos do Coração, Os Mutantes e Ó Paí, Ó, além de apresentar programas como o TVZ, no canal Multishow. Sua presença carismática e espontânea conquistou o público e consolidou sua imagem como uma personalidade midiática.

Preta Gil e as lutas sociais

Preta também foi uma voz ativa nas lutas contra o racismo, a gordofobia e a homofobia. Assumidamente bissexual, ela usava sua visibilidade para promover inclusão e combater preconceitos. Em entrevistas e redes sociais, falava abertamente sobre sua identidade e os desafios enfrentados por mulheres negras e fora dos padrões estéticos convencionais.

Sua batalha contra o câncer foi marcada por coragem e transparência. Desde o diagnóstico, Preta Gil compartilhou com o público cada etapa do tratamento, incluindo cirurgias complexas, sessões de quimioterapia e momentos de vulnerabilidade.

Em dezembro de 2023, chegou a anunciar o fim do tratamento, mas em agosto de 2024 a doença retornou com metástases. A cantora buscou alternativas nos Estados Unidos, onde passou por um protocolo experimental, mas não resistiu às complicações.

Preta Gil deixa um filho, Francisco Gil, músico integrante do grupo Gilsons, e uma neta, Sol de Maria. Mais do que uma artista, ela foi uma força transformadora na cultura brasileira, rompendo barreiras e inspirando gerações com sua autenticidade, coragem e alegria.