Grandes redes de supermercados dos Estados Unidos, como Walmart, Kroger e Whole Foods, estão substituindo as tradicionais etiquetas de papel por etiquetas eletrônicas de prateleira (ou ESLs, na sigla em inglês).
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A tecnologia permite atualizar preços em minutos por meio de um sistema central, agilizando processos e reduzindo custos operacionais. Mas, ao contrário do que muitos consumidores temem, um novo estudo mostra que não houve aumento automático de preços com base na demanda, o chamado surge pricing.
Segundo a Reuters, o Walmart pretende instalar as etiquetas digitais em 2.300 lojas até 2026, cobrindo mais de 120 mil itens por unidade. A mudança promete transformar tarefas que antes levavam até dois dias, como reajustar preços manualmente, em algo que pode ser feito em poucos minutos via aplicativo. Ainda de acordo com a empresa, não há intenção de usar a tecnologia para alterar valores ao longo do dia, mesmo que isso tecnicamente seja possível.
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Medo de preços flutuantes não se confirma
O receio de que as etiquetas eletrônicas pudessem abrir caminho para aumentos automáticos de preços, como acontece em aplicativos de transporte, motivou uma pesquisa conduzida por especialistas da Universidade da Califórnia em San Diego e da Universidade do Texas em Austin.
Segundo informações publicadas pela agência Associated Press (AP), os pesquisadores analisaram mais de 180 milhões de observações de preços em uma grande rede de supermercados nos Estados Unidos, entre 2019 e 2024, para entender o real impacto da adoção das ESLs.
A conclusão: nada mudou de forma significativa. Os pesquisadores analisaram mais de 180 milhões de observações de preços e constataram que a frequência de aumentos repentinos permaneceu praticamente inalterada.
Após a implementação das etiquetas digitais, houve um pequeno aumento temporário tão pequeno que equivale a menos de R$ 0,01 em R$ 1.000, número considerado irrelevante. Em muitos casos, os reajustes foram programados como descontos planejados e não como resposta à movimentação de clientes ou demanda do dia.
Por que adotar etiquetas digitais?
Entre os principais benefícios apontados pelas redes varejistas estão:
- Eficiência operacional: os funcionários gastam menos tempo trocando etiquetas manualmente e podem focar no atendimento ao cliente
- Sustentabilidade: redução do uso de papel e de resíduos operacionais
- Agilidade nas promoções: permite ativar e encerrar descontos programados com precisão e rapidez
O Walmart, por exemplo, afirma que a automação vai melhorar a experiência do consumidor e economizar recursos, ao mesmo tempo em que reduz erros humanos na precificação dos produtos.
Mas há críticas e propostas de regulação
Apesar dos resultados positivos do estudo, alguns consumidores e parlamentares seguem preocupados. Estados como Rhode Island, Maine e Arizona já apresentaram projetos de lei para limitar o uso de etiquetas digitais. O receio é de que, no futuro, as ESLs possam ser combinadas com algoritmos de inteligência artificial, reconhecimento facial ou dados de comportamento de consumo para aplicar preços personalizados ou flutuantes, o que levantaria questões éticas e de transparência.
Em carta enviada à Kroger, senadores norte-americanos pediram garantias de que a tecnologia não será usada para discriminar consumidores por localização ou horário de compra.
E no Brasil?
Por aqui, as etiquetas eletrônicas ainda são raras no varejo físico, embora algumas redes testem soluções de automação de preços em e-commerces. Caso o uso das ESLs avance no Brasil, será fundamental garantir regras claras de transparência, para que os consumidores saibam exatamente quando e por que os preços estão mudando.
A discussão também pode ganhar relevância diante do crescimento do uso de inteligência artificial no comércio e da busca por soluções mais sustentáveis e eficientes. A adoção da tecnologia, por si só, não implica abusos, mas especialistas alertam que é preciso acompanhar de perto a forma como ela será implementada e regulada.
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